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FUTEBOL
Os vários saberes
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Freud dizia que tudo que seus
pacientes descobriam, após
anos de análise, eles já sabiam. Só
não sabiam que sabiam. O mesmo acontece com os grandes craques. Eles realizam jogadas surpreendentes, belíssimas, mas não
sabem como e o porquê. Há um
saber que antecede o pensamento
e o raciocínio lógico.
Numa fração de segundos, o
craque percebe os movimentos e a
posição do corpo dos companheiros e dos adversários, calcula a velocidade e a trajetória da bola, sabe o ponto exato em que ela vai
chegar e decide o que fazer. Tudo
isso sem pensar.
Pelé, com os seus olhos expressivos e salientes, mapeava numa
fração de segundos tudo que estava perto. Antes de a bola chegar,
já sabia o que iria acontecer.
Olhava-me com tanta firmeza
que tinha certeza de que queria
me dizer o que faria e o que gostaria que eu fizesse. Tentava acompanhá-lo.
É a comunicação analógica,
não-verbal, intuitiva, menos exata, porém muito mais rica e verdadeira do que a digital, com palavras. Os humanos começaram a
mentir depois que aprenderam a
falar.
Os cientistas diriam que o craque tem uma habilidade visual
maior do que os outros. Enxerga
um número maior de detalhes e
processa mais rapidamente as informações no cérebro.
A anatomia do olho também
contribui para isso. O campo visual de alguns jogadores é maior
do que o de outros. Isso ajuda o
atleta a dominar, driblar, passar,
finalizar, sem olhar para a bola.
Os especialistas falam que essa visão pode ser ampliada com exercícios específicos. Será que no futuro os oftalmologistas farão parte das comissões técnicas?
Alex pode não ser o melhor jogador brasileiro, mas é o que pensa mais rápido e que tem maior
visão de jogo. Parece que ele possui um terceiro olho atrás da cabeça, com uma visão de 360
graus.
Por que Dida defende tantos pênaltis? Não acho que seja somente
porque ele é grande, tem muita
agilidade e dá sorte na escolha do
canto, já que é impossível saltar
após a bola ser bem chutada no
canto e defendê-la.
Estudo científico realizado na
Inglaterra mostrou que existe
uma clara relação entre a maneira de o atleta correr para a bola, a
posição do corpo no momento da
cobrança do pênalti e o local exato em que a bola vai ser chutada.
É óbvio.
Imagino que o craque Dida percebe tudo isso. Antevê o lance e
sabe instantes antes da cobrança,
pela posição do corpo do cobrador, aonde a bola vai chegar. Ele
nega. Diz que escolhe um canto e
salta. Será? Dida sabe, mas não
sabe que sabe.
Até tu, Parreira!
A seleção brasileira não terá na
Copa das Confederações os melhores jogadores que atuam na
Europa. Também não terá os
principais atletas de Santos, Cruzeiro e Flamengo, que disputam a
Taça Libertadores da América e a
Copa do Brasil, nem muitos jovens de talento que estarão na
Copa Ouro, pela seleção pré-olímpica. Serão chamados também,
no máximo, dois jogadores de cada equipe que disputa o Campeonato Brasileiro.
Com tantas limitações, será
uma seleção totalmente desfigurada, com grande risco de prejudicar excelentes jogadores.
Os mais otimistas dirão que será uma oportunidade de alguns
se destacarem e passarem a fazer
parte do elenco que disputará as
eliminatórias sul-americanas para a Copa de 2006. Pode ser, mas é
pouco provável.
Muitas equipes que disputam o
Brasileiro serão bastante prejudicadas com a convocação de seus
principais jogadores. A Copa das
Confederações será ruim para os
clubes, para o Campeonato Brasileiro, para os atletas europeus que
estariam em férias e até para a seleção. Alguém vai lucrar. Não será o futebol brasileiro.
Imagino que o Eduardo Costa
foi chamado muito mais por falta
de opções do que pelas suas qualidades.
Por que o Juninho Pernambucano não foi convocado? Ele não
quis porque está de férias ou Parreira não quis chamá-lo?
Se Kaká, Alex (do Santos), Robinho, Diego e Luisão vão para a
seleção olímpica, por que Adriano, que tem menos de 23 anos, foi
convocado para a seleção principal? Será que ele vai atuar na Copa das Confederações e na Copa
Ouro?
Nada disso foi esclarecido. Parreira disse que não tem de dar explicações. Até tu, Parreira!
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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