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JOSÉ ROBERTO TORERO
O "W" da questão
Num rápido olhar pela Série A do Brasileiro, é possível ver a colonização cultural no nome e o tempero que se dá a ela
UMA DAS COISAS mais chatas de
ser colonizado culturalmente é ter que aprender a língua
do colonizador. Isso é realmente
boring. Ainda mais para mim, que
não understendo a língua inglesa
muito well. No caso do futebol, essa
colonização é ainda mais strong.
Quando Charles Miller voltou da
Inglaterra, trouxe na bagagem dois
jogos de uniformes, duas bolas de
couro, uma bomba de ar e várias palavras, como corner, goal-keeper,
center-forward e penalty, que viraram escanteio, goleiro, centroavante e..., bom, pênalti não ficou muito
diferente.
Mas, today em day, até nos nomes
dos jogadores a influência da língua
inglesa (ou norte-americana) se faz
presente. Hoje, se quisermos fazer
uma seleção apenas com atletas com
nomes anglo-saxões na Série A do
Brasileiro, é moleza. Digo, soft.
No gol, teríamos o veterano Harlei
(sem o y), do Goiás, que talvez tenha
sido batizado assim porque seu pai
era fanático pelas motos Harley-Davidson. Na lateral direita, teríamos
Jonathan, do Cuzeiro. Na zaga, o
palmeirense Gladstone e Hallison,
da Portuguesa. E, na lateral esquerda, Michael, do Atlético-PR, ou Jefferson, do Palmeiras.
Para a posição de center-half, digo, volante, há muitas opções: Erick,
Everton, Charles, Max, Christian e
Jackson, do Ipatinga. Outro Jackson, do Vitória, poderia ficar na
meia, onde teria a companhia de
Franklin, do Figueirense.
No ataque, teríamos Christian, da
Portuguesa, e Michael, do Coritiba.
Mas tudo isso é fichinha se pensarmos nos jogadores que têm nomes começados em dábliu. O duplo
vê, que foi abolido da língua pátria
com o K (que sempre me pareceu
um cara pronto para lutar caratê) e o
Y (um elegante cálice), foi resgatado
pelo povo e hoje pode ser visto aos
montes pelos campos do Brasil.
Com adaptations, poderíamos fazer um time só com atletas cujos nomes comecem com W. A saber: Wilson (Figueirense); Williams (Vitória), William Magrão (Grêmio), William (Ipatinga) e Wellington (Náutico); Wallyson (Coritiba), Wellington Amorim (Figueirense), Wesley
(Santos) e Wellington Paulista (Botafogo); Washington (Fluminense)
e Weldon (Cruzeiro). O patrocínio, é
claro, seria da W/Brasil.
Não quero que pensem que sou
xenófobo, alguém que não aceita as
palavras estrangeiras. Não sou crazy
assim. Sei que culturas se misturam,
e palavras vão para lá e para cá feito
imigrantes ilegais. Mas há que se
apropriar delas, e não o contrário.
Hoje, qualquer reunião de escritório usa tantas palavras em inglês que
há quem não saia de casa sem um
Michaelis pocket, que dizer, de bolso. Temos que pegar as palavras estrangeiras, temperá-las com dendê,
coentro, pequi e, aí sim, engoli-las.
Há que fazer como abat-jour, que virou o simpático e brasileiro abajur. E
há que escrever saite em vez de site
(sítio é "chácara", não vale).
De certa forma, alguns nomes de
jogadores já têm esse tempero. Keirrison, o bom atacante do Coritiba, é
um exemplo. Duvido que haja outros por aí (ou melhor, por lá). Richarlyson, o volante-lateral do São
Paulo, foi uma invenção feliz. Mas
talvez o melhor de todos seja o lateral-esquerdo do Fluminense: Uendel. Sem "w". Só com um simples e
objetivo "u". De único e universal.
torero@uol.com.br
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