São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002

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A um mês da posse, o governo eleito ainda não esclareceu suas propostas para o esporte; a Folha mostra o (pouco) que já está decidido, as críticas de quem não foi ouvido e as expectativas dos 'notáveis' eleitos por Lula para desenhar um programa para o setor

13 pontos do jogo do PT

FÁBIO VICTOR
FÁBIO SEIXAS

DA REPORTAGEM LOCAL

A ênfase ao social prometida pelo governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será traduzida, no esporte, por uma reformulação de prioridades em relação à política dos anos FHC para a área.
Embora o tema seja subestimado na agenda de transição, parlamentares, gestores públicos, políticos e acadêmicos do partido -ou ligados a ele- se movimentam em torno de projetos e propostas que apontam para uma prioridade: a democratização do esporte e das atividades de recreação e lazer, em detrimento do chamado esporte de alto rendimento (profissional e de competição), mais beneficiado nos oito anos de governo tucano.
O que querem os petistas é algo como levar o esporte, hoje sob os holofotes de estádios e ginásios, para as praças e escolas.
A opção fica clara a partir de discussões na Setorial Nacional de Esporte e Lazer do PT, da bancada do partido no Congresso, dos seus secretários de Esportes e mesmo do grupo de trabalho criado a pedido de Lula para formular um projeto para o setor.
A manutenção de patrocínios estatais a esportes de alto rendimento, a criação da Lei Piva (que destina dinheiro de loterias federais para modalidades olímpicas) e medidas provisórias ligadas ao futebol reforçaram a imagem do governo FHC como fomentador dos esportes estruturados.
"Na era FHC, a política de esporte passa pela medalha, pela descoberta de grandes talentos. Muito mais importante que isso é a democratização da prática esportiva", diz Rodrigo Terra, presidente da Fundesporte, órgão responsável pela área no governo petista do MS, e integrante da Setorial Nacional de Esporte do PT.
"O esporte e o lazer precisam estar integrados à educação e isso não ocorre hoje. Estimular a prática esportiva é um dever do Estado, e o governo do PT vai cumpri-lo", afirma o deputado Gilmar Machado, relator do Estatuto do Desporto, aprovado em comissão especial da Câmara por unanimidade e que, caso seja aprovado em plenário, deverá nortear a política do PT para o setor.
Apesar de algumas divergências pontuais, é esse também o cerne do projeto que o "grupo de notáveis" entregará à equipe de transição nesta semana.
Na chamada sociedade civil, o pensamento é o mesmo. Um fórum que ajudou a consolidar a posição do PT foi o seminário "Esporte & Cidadania", realizado em setembro, no Rio.
Com a presença de vários petistas e participantes como Oscar Niemeyer, Sócrates, Aldo Rebelo, Carlos Arthur Nuzman, Luiz Gonzaga Belluzzo e Bebeto de Freitas, entre outros, o encontro produziu uma carta que afirma que "o esporte deve ser mais um instrumento na resolução da questão social, articulando-se com setores fundamentais da atividade estatal: educação, saúde, habitação e política alimentar".
Para a secretária de Esportes de São Paulo, Nádia Campeão, do PC do B -partido que pode ficar com o ministério-, o papel social do esporte precisa ser enfatizado, mas ela acha que a tarefa é mais apropriada aos municípios, "pois as prefeituras estão mais próximas das comunidades".
Não significa, segundo Nádia, que o ministério deva cuidar simplesmente dos esportes de rendimento. "Eles já têm a Lei Piva e patrocínio das estatais. Está errado que o grosso da verba do ministério vá para esses esportes."

Rusgas
O desdém da equipe de transição com o esporte gerou um início de crise entre as diversas tendências que debatem propostas para o governo eleito -embora elas tenham idéias parecidas.
Como nenhum dos 52 integrantes da equipe coordenada por Antônio Palocci domina a área, Lula pediu a colaboração de um grupo de esportistas e jornalistas (integrado ainda pelo atual secretário-executivo do Ministério do Esporte, José Luiz Portella).
Sentindo-se desprezados, os especialistas do PT criticaram a postura de Lula e a composição do grupo, que tem dez integrantes.



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