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A um mês da posse, o governo eleito ainda não esclareceu suas propostas para o esporte; a Folha mostra o (pouco) que já está decidido, as críticas de quem não foi ouvido e as expectativas dos 'notáveis' eleitos por Lula para desenhar um programa para o setor
13 pontos do jogo do PT
FÁBIO VICTOR
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A ênfase ao social prometida pelo governo eleito de Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) será traduzida,
no esporte, por uma reformulação de prioridades em relação à
política dos anos FHC para a área.
Embora o tema seja subestimado na agenda de transição, parlamentares, gestores públicos, políticos e acadêmicos do partido
-ou ligados a ele- se movimentam em torno de projetos e propostas que apontam para uma
prioridade: a democratização do
esporte e das atividades de recreação e lazer, em detrimento do
chamado esporte de alto rendimento (profissional e de competição), mais beneficiado nos oito
anos de governo tucano.
O que querem os petistas é algo
como levar o esporte, hoje sob os
holofotes de estádios e ginásios,
para as praças e escolas.
A opção fica clara a partir de
discussões na Setorial Nacional de
Esporte e Lazer do PT, da bancada
do partido no Congresso, dos
seus secretários de Esportes e
mesmo do grupo de trabalho criado a pedido de Lula para formular
um projeto para o setor.
A manutenção de patrocínios
estatais a esportes de alto rendimento, a criação da Lei Piva (que
destina dinheiro de loterias federais para modalidades olímpicas)
e medidas provisórias ligadas ao
futebol reforçaram a imagem do
governo FHC como fomentador
dos esportes estruturados.
"Na era FHC, a política de esporte passa pela medalha, pela
descoberta de grandes talentos.
Muito mais importante que isso é
a democratização da prática esportiva", diz Rodrigo Terra, presidente da Fundesporte, órgão responsável pela área no governo petista do MS, e integrante da Setorial Nacional de Esporte do PT.
"O esporte e o lazer precisam estar integrados à educação e isso
não ocorre hoje. Estimular a prática esportiva é um dever do Estado, e o governo do PT vai cumpri-lo", afirma o deputado Gilmar
Machado, relator do Estatuto do
Desporto, aprovado em comissão
especial da Câmara por unanimidade e que, caso seja aprovado em
plenário, deverá nortear a política
do PT para o setor.
Apesar de algumas divergências
pontuais, é esse também o cerne
do projeto que o "grupo de notáveis" entregará à equipe de transição nesta semana.
Na chamada sociedade civil, o
pensamento é o mesmo. Um fórum que ajudou a consolidar a
posição do PT foi o seminário
"Esporte & Cidadania", realizado
em setembro, no Rio.
Com a presença de vários petistas e participantes como Oscar
Niemeyer, Sócrates, Aldo Rebelo,
Carlos Arthur Nuzman, Luiz
Gonzaga Belluzzo e Bebeto de
Freitas, entre outros, o encontro
produziu uma carta que afirma
que "o esporte deve ser mais um
instrumento na resolução da
questão social, articulando-se
com setores fundamentais da atividade estatal: educação, saúde,
habitação e política alimentar".
Para a secretária de Esportes de
São Paulo, Nádia Campeão, do
PC do B -partido que pode ficar
com o ministério-, o papel social do esporte precisa ser enfatizado, mas ela acha que a tarefa é
mais apropriada aos municípios,
"pois as prefeituras estão mais
próximas das comunidades".
Não significa, segundo Nádia,
que o ministério deva cuidar simplesmente dos esportes de rendimento. "Eles já têm a Lei Piva e
patrocínio das estatais. Está errado que o grosso da verba do ministério vá para esses esportes."
Rusgas
O desdém da equipe de transição com o esporte gerou um início de crise entre as diversas tendências que debatem propostas
para o governo eleito -embora
elas tenham idéias parecidas.
Como nenhum dos 52 integrantes da equipe coordenada por Antônio Palocci domina a área, Lula
pediu a colaboração de um grupo
de esportistas e jornalistas (integrado ainda pelo atual secretário-executivo do Ministério do Esporte, José Luiz Portella).
Sentindo-se desprezados, os especialistas do PT criticaram a postura de Lula e a composição do
grupo, que tem dez integrantes.
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