RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Após um 0 a 0 chocho entre Barcelona e Real Madrid no Espanhol e de um 1 a 0 duro do Milan para cima do mais badalado time do mundo pela Copa dos Campeões, começaram a chover críticas às partidas fora do Brasil.
Antes de entrar na discussão se as pedras são merecidas ou não, quero tocar em um ponto que na verdade é o grande motivador desta coluna. Qual é a grande diferença mesmo entre os jogos de futebol no Brasil e os do exterior?
Muita gente vai responder que é a emoção das partidas. E é lógico que a resposta é essa. Isso porque aqui você torce de verdade para um clube, encontra no outro dia o amigo (?) que torce pelo outro time e tira sarro dele. Quase todas as partidas, seja qual for a fase ou o placar, tendem a despertar um interesse muito maior do que, por exemplo, o ótimo (?) Liverpool x Manchester United de hoje.
Amanhã, por mais que você tenha simpatia pelo time do Beckham, não deve sair com a camisa do Manchester na rua, encontrar um hooligan do Liverpool no metrô para dar uma sacaneada, comemorar com outros torcedores do time na Paulista a vitória sobre o rival ou coisa do tipo.
Alguns críticos estão exagerando na dose. Vêem um pouco de Milan x Inter no primeiro turno do Italiano (um 1 a 0 mirrado no último final de semana) e, por não se "empolgar" como no São Paulo x Santos nas quartas-de-final do Brasileiro, concluem que todo jogo lá fora é uma droga, que todos os craques do estrangeiro são enganações, que qualquer time da segunda divisão aqui chegaria à Copa dos Campeões e ganharia a taça sem problemas.
Nem todo mundo aqui deve ser louco como eu para comemorar um gol do Ajax (meu time na Europa) contra o Valencia pela Copa dos Campeões. É perfeitamente compreensível. Mas essa partida, apesar de ter sido um 1 a 1 sem muito brilho, foi o máximo em emoção nesses dias para torcedores em Valencia e em Amsterdã.
Nenhum jogo é melhor (ou é mais interessante) que o jogo do nosso time de coração. Isso é mais que óbvio (os europeus curtem ver a seleção brasileira, mas acham um tédio acompanhar os jogos cadenciados do Brasileiro).
Agora, deixando de lado a reflexão barata, vamos analisar se as pedras são merecidas ou não.
Vários bons jogos têm acontecido na Europa. Os 3 a 1 de virada do Arsenal sobre a Roma e os 2 a 2 entre La Coruña e Juventus na última semana são só alguns exemplos. O Torneio Apertura (a campanha da Argentina na Copa fez as pessoas ignorarem mais o torneio do vizinho) está bem bacana, apesar da crise, com Independiente e Boca travando boa luta.
Mas muitos jogos, de fato, têm apresentado um nível técnico baixo. O grande parâmetro agora é o Real Madrid. Não só porque é o clube com mais craques, mas também porque é o time que mais aparece na TV. A decepção de todos com o Real e suas estrelas contribuiu bastante para a chuva de pedras contra o futebol internacional (a decisão com o Olimpia na terça pode aumentar a chuva).
Outro fator que ajudou nesse linchamento foi o título mundial do Brasil, que correu meio por fora na Copa (foi a melhor munição para aqueles críticos que dizem que todo europeu é cintura dura, que argentinos e uruguaios só dão porrada e fazem cera, que todos os africanos são ingênuos...).
Calma. Ainda há vida inteligente e bom futebol neste planeta.

Vidraça
Detonar o Real Madrid talvez seja a maior moda. O paraguaio Olimpia deve ter a maior torcida do planeta nesta terça-feira no Mundial interclubes. E vai precisar. Além das crises financeira e política, tem a técnica: o time já apanhou em amistoso na Ásia.

Alvo
Criticaram sede conjunta de competições. No dia 12 será(ão) definido(s) o(s) palco(s) da Euro-2008. Candidaturas: Escócia-Irlanda, Áustria-Suíça, Grécia-Turquia, Bósnia-Croácia, Dinamarca-Finlândia-Noruega-Suécia. Tem duas solitárias: Rússia e Hungria.

Pára-raios
Alguns ainda questionam o sistema de pontos corridos no país. Temos aqui Copa do Brasil e competições continentais e estaduais com mata-mata. Já está bom. Campeonato mesmo é com pontos corridos. O ""consolo" são-paulino é a Copa Pan-Americana.

E-mail rbueno@folhasp.com.br



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