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FUTEBOL
Causa e efeito
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Os torcedores e a crônica
esportiva, da qual faço parte, adoram descobrir um único fator responsável pelas vitórias e
derrotas. É a cultura do reducionismo, de causa e efeito. Essa foi
durante muito tempo a preocupação da ciência, em todas as
áreas. Hoje, sabe-se que as causas
são quase sempre múltiplas.
No futebol, se fulano não joga e
o time perde ou se ele entra no segundo tempo e sua equipe vira o
jogo, ele torna-se o único ou principal responsável pela derrota ou
vitória, mesmo que ele seja um jogador comum. A substituição do
treinador, boa ou ruim, será sempre a causa do sucesso ou do fracasso. Para tudo, há um herói e/
ou um culpado.
A estatística ajuda bastante na
compreensão dos fatos, mas,
quando ela é excessiva e usada
para explicar sozinha os acontecimentos, torna-se chata, pretensiosa e enganosa.
Muitos dirigentes fizeram um
grande mal ao futebol, mas não
são os únicos culpados. Há exceções. Existem alguns bons dirigentes e também os que, sozinhos,
conseguiram destruir tudo por
onde passaram.
Na ânsia de explicar tudo com
um único fator, já disseram neste
campeonato que o Corinthians só
perde quando o Scheidt joga, que
o São Paulo foi eliminado porque
o Maldonado não jogou (parece
até que ele é um Pelé), que o Atlético-MG foi goleado porque os jogadores borraram, que o Grêmio
venceu o Juventude porque o Tinga retornou à equipe, que o Santos sempre ganha ou perde porque o time é jovem e muitas outras únicas "verdades".
Algumas vezes essas explicações
são lógicas, mas, sozinhas, são insignificantes diante das dezenas
de fatores envolvidos no resultado
de uma partida. O futebol é uma
mistura de ciência, técnica individual e coletiva, lógica, acaso,
emoção, mistérios e jogo de azar.
Damos explicações demais para
os fatos. O futebol é muito mais
complexo do que imaginamos.
Nós é que tentamos reduzi-lo à
causa e efeito.
"As coisas não têm significado.
Têm existência." (Fernando Pessoa)
Técnico também ganha jogo
São Paulo, São Caetano e Juventude, equipes que tinham a vantagem, foram eliminadas. Não
houve injustiça. Uma coisa é dizer que o campeonato por pontos
corridos é o mais justo, o que é
verdade. Outra, é dizer que o Fluminense, o Santos e o Grêmio,
além do Corinthians, não merecem disputar a semifinal.
Grêmio e Santos se enfrentam
hoje na Vila Belmiro. O time gaúcho não tem a qualidade técnica
do ano passado, quando deu um
show no Corinthians e no São
Paulo, no Morumbi, pela Copa do
Brasil. Mas o time atual tem suas
virtudes e tradição em torneios
com mata-mata.
Em 2001, além de excelentes jogadores (Zinho, Marcelinho Paraíba, Mauro Galvão), o Grêmio
surpreendeu taticamente com
uma ótima marcação por pressão. O time tomava a bola com facilidade e fazia muitos gols.
O técnico Tite aprendeu (eu
também) que fazer essa marcação durante toda a partida e todo
o campeonato é impossível. Há
um grande desgaste físico. A defesa também fica desprotegida. Hoje, o Grêmio alterna a marcação
na saída de bola com a no meio-campo e/ou na sua intermediária.
Dessa forma, a defesa é a que menos sofreu gols no campeonato.
Nas duas vitórias sobre o São
Paulo, o Santos não mostrou somente o talento de seus jovens jogadores, como executou uma excepcional marcação. Os principais jogadores do São Paulo foram anulados.
Oswaldo de Oliveira poderia ter
tentado, mais cedo, alguma coisa
diferente, como colocar na função
de primeiro volante um jogador
mais técnico (Adriano ou Júlio
Baptista), para iniciar as jogadas,
avançar e confundir os implacáveis marcadores de Kaká, Ricardinho e Fábio Simplício. Júlio
Santos não foi zagueiro nem armador.
Poucas vezes vi um técnico ser
tão importante no resultado de
uma partida como foi o Leão nos
dois jogos. Técnico também ganha jogo.
Hoje, a história pode ser outra.
Fatos e previsões
No Rio, Fluminense e Corinthians devem jogar da maneira
habitual: o Flu vai reservar o
Magno Alves para incendiar o jogo no segundo tempo, e o Corinthians, sem pressa, vai tocar a bola até aparecer uma chance para
fazer o gol.
Qual será a final? Não sei! Comentarista não faz previsão.
Analisa os fatos.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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