São Paulo, domingo, 01 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

Causa e efeito

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Os torcedores e a crônica esportiva, da qual faço parte, adoram descobrir um único fator responsável pelas vitórias e derrotas. É a cultura do reducionismo, de causa e efeito. Essa foi durante muito tempo a preocupação da ciência, em todas as áreas. Hoje, sabe-se que as causas são quase sempre múltiplas.
No futebol, se fulano não joga e o time perde ou se ele entra no segundo tempo e sua equipe vira o jogo, ele torna-se o único ou principal responsável pela derrota ou vitória, mesmo que ele seja um jogador comum. A substituição do treinador, boa ou ruim, será sempre a causa do sucesso ou do fracasso. Para tudo, há um herói e/ ou um culpado.
A estatística ajuda bastante na compreensão dos fatos, mas, quando ela é excessiva e usada para explicar sozinha os acontecimentos, torna-se chata, pretensiosa e enganosa.
Muitos dirigentes fizeram um grande mal ao futebol, mas não são os únicos culpados. Há exceções. Existem alguns bons dirigentes e também os que, sozinhos, conseguiram destruir tudo por onde passaram.
Na ânsia de explicar tudo com um único fator, já disseram neste campeonato que o Corinthians só perde quando o Scheidt joga, que o São Paulo foi eliminado porque o Maldonado não jogou (parece até que ele é um Pelé), que o Atlético-MG foi goleado porque os jogadores borraram, que o Grêmio venceu o Juventude porque o Tinga retornou à equipe, que o Santos sempre ganha ou perde porque o time é jovem e muitas outras únicas "verdades".
Algumas vezes essas explicações são lógicas, mas, sozinhas, são insignificantes diante das dezenas de fatores envolvidos no resultado de uma partida. O futebol é uma mistura de ciência, técnica individual e coletiva, lógica, acaso, emoção, mistérios e jogo de azar.
Damos explicações demais para os fatos. O futebol é muito mais complexo do que imaginamos. Nós é que tentamos reduzi-lo à causa e efeito.
"As coisas não têm significado. Têm existência." (Fernando Pessoa)

Técnico também ganha jogo
São Paulo, São Caetano e Juventude, equipes que tinham a vantagem, foram eliminadas. Não houve injustiça. Uma coisa é dizer que o campeonato por pontos corridos é o mais justo, o que é verdade. Outra, é dizer que o Fluminense, o Santos e o Grêmio, além do Corinthians, não merecem disputar a semifinal.
Grêmio e Santos se enfrentam hoje na Vila Belmiro. O time gaúcho não tem a qualidade técnica do ano passado, quando deu um show no Corinthians e no São Paulo, no Morumbi, pela Copa do Brasil. Mas o time atual tem suas virtudes e tradição em torneios com mata-mata.
Em 2001, além de excelentes jogadores (Zinho, Marcelinho Paraíba, Mauro Galvão), o Grêmio surpreendeu taticamente com uma ótima marcação por pressão. O time tomava a bola com facilidade e fazia muitos gols.
O técnico Tite aprendeu (eu também) que fazer essa marcação durante toda a partida e todo o campeonato é impossível. Há um grande desgaste físico. A defesa também fica desprotegida. Hoje, o Grêmio alterna a marcação na saída de bola com a no meio-campo e/ou na sua intermediária. Dessa forma, a defesa é a que menos sofreu gols no campeonato.
Nas duas vitórias sobre o São Paulo, o Santos não mostrou somente o talento de seus jovens jogadores, como executou uma excepcional marcação. Os principais jogadores do São Paulo foram anulados.
Oswaldo de Oliveira poderia ter tentado, mais cedo, alguma coisa diferente, como colocar na função de primeiro volante um jogador mais técnico (Adriano ou Júlio Baptista), para iniciar as jogadas, avançar e confundir os implacáveis marcadores de Kaká, Ricardinho e Fábio Simplício. Júlio Santos não foi zagueiro nem armador.
Poucas vezes vi um técnico ser tão importante no resultado de uma partida como foi o Leão nos dois jogos. Técnico também ganha jogo.
Hoje, a história pode ser outra.

Fatos e previsões
No Rio, Fluminense e Corinthians devem jogar da maneira habitual: o Flu vai reservar o Magno Alves para incendiar o jogo no segundo tempo, e o Corinthians, sem pressa, vai tocar a bola até aparecer uma chance para fazer o gol.
Qual será a final? Não sei! Comentarista não faz previsão. Analisa os fatos.

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