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DOPING
Proprietário da empresa acusada de fornecer THG para atletas de ponta gravou 15 discos e tocou com Herbie Hancock
Pivô de escândalo começou tocando baixo
ADALBERTO LEISTER FILHO
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos anos 70, Victor Conte, 53,
ainda não tinha construído uma
das mais bem-sucedidas carreiras
na indústria de suplementos alimentares para atletas. Nem tinha
se envolvido no mais turbulento
escândalo de doping dos EUA.
Conte começou a carreira como
músico. Baixista de bandas de jazz
e soul, gravou 15 discos entre 1965
e 1983. Nesse período, seu maior
feito foi tocar com o pianista Herbie Hancock, uma das principais
figuras do jazz contemporâneo.
O futuro empresário começou
no conjunto Common Ground.
Posteriormente, passaria pelo
Jump Street, antes de tocar na Pure Food and Drug Act (PFDA).
"Ele estava formando uma família. Então, depois que o grupo
foi desfeito, se tornou um homem
de negócios", recorda Freddy
Roulette, guitarrista que tocou
com Conte na PFDA.
O nome do grupo aludia à norma que regulamentou os remédios nos EUA. Em 1906, foi aprovada a Lei da Droga e do Alimento
Puro (Pure Food and Drug Act,
em inglês). A indústria farmacêutica foi contra a lei, que resultou
na criação da FDA, a agência que
regula esses produtos no país.
Conte, ironicamente, começou
a atuar no ramo. Sua empresa, a
Balco, fazia exames de urina e
sangue em atletas e prescrevia
produtos para compensar deficiências de vitaminas e minerais.
Fornecedor de suplementos para estrelas como os velocistas Tim
Montgomery e Marion Jones, os
jogadores de beisebol Barry
Bonds e Jason Giambi e o pugilista Shane Mosley, Conte enfrentou
problemas com doping pouco antes dos Jogos de Sydney-2000.
C.J. Hunter, do arremesso de
peso, teve um índice mil vezes acima do permitido para nandrolona, um esteróide anabólico (grupo de substâncias que aumenta a
força e a potência muscular).
"Ele tomou o mesmo suplemento que foi usado por Linford
Christie e Merlene Ottey", afirmou Conte, defendendo o atleta.
Christie e Ottey, cujos exames
haviam acusado excesso de nandrolona, foram punidos. Hunter
pegou dois anos de suspensão.
Para Conte e a Balco, a turbulência havia apenas começado.
Há duas semanas, a agência antidoping dos EUA anunciou a
descoberta de um novo esteróide,
o THG (tetraidrogestrinona).
A empresa do ex-baixista, sediada em Burlingame (Califórnia), é
apontada como fornecedora da
droga, encontrada nos exames de
Kevin Toth, Regina Jacobs, Dwain
Chambers e John McEwen.
Esses competidores do atletismo são os primeiros nomes conhecidos. Nos EUA, chegou-se a
falar que até 40 atletas teriam exames positivos. Conte se defendeu
inicialmente dizendo que só vendia suplementos alimentares.
Depois, atribuiu a divulgação
do THG a uma "intriga". "Para
mim, isso é ciúme de técnicos e
atletas. Todos usam produtos para melhorar a performance e estão sendo hipócritas", disse ele.
A explicação não convenceu a
Justiça Federal de San Francisco,
que investiga a companhia. Na
quinta, Toth e Jacobs foram depor
sobre suas relações com a Balco.
Acusado de sonegação fiscal e
de vender esteróide sem autorização legal, o empresário sofreu
mais um revés na última semana:
a FDA considerou o THG ilegal.
Segundo a agência, cuja origem
foi homenageada por Conte em
sua carreira musical, o produto
pode causar prejuízos à saúde.
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