|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PAN 2003
Obras inacabadas, apagões durante provas e improvisos transformam Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo
em um exercício de paciência para atletas e dirigentes
PANDEMÔNIO
EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTO DOMINGO
No princípio era o caos. Instalações inacabadas, cidade em ruínas, desorganização geral e perspectiva de um Pan-Americano
modesto. No final, também.
Santo Domingo ainda não está
pronta para abrigar a 14ª edição
do principal evento esportivo das
Américas. Só que agora é tarde
demais. A competição, mesmo
que mambembe, já começou.
O primeiro dia de provas, ontem, foi marcado por uma série de
confusões. Nas eliminatórias
masculinas de pistola de ar, houve
um apagão, que provocou uma
interrupção de mais de uma hora
-a organização cogitou suspender a atividade, retomada quando
a energia voltou.
Nas lutas livre e greco-romana,
além de falta de energia, por 30
minutos, o placar eletrônico quebrou e demorou mais de uma hora para ser arrumado.
Da chegada ao país até o início
das provas, todos os que estão ligados aos Jogos cumprem uma
via-crúcis para solucionar ou driblar os problemas da República
Dominicana. O calvário começa
no aeroporto Las Américas, onde
há um batalhão de voluntários lá,
mas não existe ordem. O extravio
de malas virou fato comum.
É lá, também, que se efetua o
credenciamento, outro foco de
empecilhos. Os cartões que os
atletas precisam portar para entrar na Vila Pan-Americana e nas
instalações esportivas raramente
estão em perfeita ordem.
A credencial recebida pelo time
americano feminino de vôlei não
estava com os dizeres corretos.
No Centro Olímpico, tentaram
treinar, mas não puderam entrar.
Quando se deixa para trás o ar-condicionado do aeroporto, ocorre outro baque. O evento foi agendado para o período mais quente
do ano na cidade -média de
38ºC. "É simplesmente impossível aguentar este calor", praguejou o vice-presidente cubano, José
Ramón Fernandez.
O sol prejudicou até as piscinas.
Os organizadores instalaram propulsores em forma de chafariz para movimentar e diminuir a temperatura da água. Horários de torneios foram revisados para não
desgastar os atletas. Algumas provas do atletismo, como marcha e
maratona, que já eram cedo, foram antecipadas em 45 minutos.
O que mais impressiona, porém, é a falta de infra-estrutura do
município. O esforço do governo
para concluir as instalações não
foi acompanhado por uma melhoria nos serviços básicos.
As chuvas esporádicas desta
época do ano formam pontos de
alagamento, deixando o trânsito,
já caótico, pior. Jorge Otsuka,
coordenador da equipe de beisebol do Brasil, contou que precisa
sair da Vila com pelo menos duas
horas de antecedência para ir aos
treinos e driblar a falta de ônibus.
Há ao menos um apagão por dia
em Santo Domingo. Na quinta-feira, o centro de imprensa ficou
fora do ar por 24 horas.
Quase todas as delegações brasileiras tiveram dificuldades para
treinar. O handebol dividiu a quadra com outras duas equipes por
erros na planilha de horários.
O boliche chegou ao local indicado para a prática e encontrou as
portas fechadas. "Precisei chamar
o presidente da federação local
para entrar", explicou César Maciel, que coordena os brasileiros.
A ginástica esbarrou nas obras
incompletas. "No local destinado
ao aquecimento, ainda existem
pessoas trabalhando", disse Eliane Martins, chefe da equipe.
Imagem simbólica do caos, a
primeira aparição brasileira no
Pan é o prenúncio do que vem por
aí. Totalmente fora do padrão, a
bandeira do país na festa de abertura causou constrangimento e
protesto formal do COB.
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Futebol: Agora, CBF admite adaptar seu calendário ao europeu Índice
|