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FUTEBOL
Futebol se joga com a bola
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
O repórter Sérgio Rangel,
da Folha, publicou uma reportagem sobre um trabalho feito
pela dupla Parreira-Zagallo, que
será distribuído aos jogadores da
seleção. Os dois elaboraram conceitos sobre futebol atual e fizeram recomendações aos atletas.
O "estudo" diz que os adversários (citou Camarões) aperfeiçoaram uma nova forma de jogar e
de marcar, defendendo a partir
da intermediaria com dez jogadores e usando os contra-ataques.
Nada disso é novo. Tucanaram
a retranca, como diria o José Simão. O Boca Juniors contra o
Santos, os EUA, Camarões e muitas outras equipes atuam dessa
forma, desde os anos 60.
O relatório conceitua: "o futebol
brasileiro e a seleção tornam-se
praticamente imbatíveis quando
conseguem igualar as seguintes
variantes: disciplina tática, ocupar espaços, jogar com entusiasmo, impor-se tecnicamente e, sobretudo, sentir prazer e alegria
naquilo que se faz".
Tudo fundamental e básico,
mas só funcionará se a equipe tiver alguns craques, como os quatro "erres" da Copa de 2002. Não
confundir craque com bom e excelente jogador. Esses estão presentes em todas as outras principais seleções. A diferença é o número de craques. As outras seleções têm no máximo dois.
As principais recomendações do
Parreira, quando a equipe estiver
com a bola, são: aprender a jogar
em espaços congestionados e a fugir da marcação individual, mudar o jogo de um lado para outro,
alternar o ritmo, estimular o toque de primeira, tabelas e jogadas
individuais e ter um atleta vindo
de trás como elemento surpresa.
Os novos técnicos precisam anotar tudo e estudar cada um desses
itens. Tudo fundamental e básico.
O bom profissional, em qualquer
área, não é o que sabe algumas
coisas incomuns e sim o que sabe
bem as coisas comuns.
As recomendações do manual
são importantes, mas também
óbvias. Profissionais com formação acadêmica adoram teorizar
sobre o óbvio. Imagino que tudo
isso já faz parte do discurso da
maioria dos tradicionais "professores" (treinadores).
Vivemos também a época da
ciência e da cultura do óbvio e
das banalidades. Há especialistas
e curso para tudo. Ensinam a ganhar dinheiro, a programar as
atividades diárias, o lazer e os
gastos, a ser simpático, famoso
(pelo menos por 15 minutos), sorrir diante do caos, a ser "feliz" e
muitas outras besteiras.
As principais recomendações do
manual, quando a equipe estiver
sem a bola, são: apertar na saída
de bola, diminuir os espaços, evitar os contra-ataques tendo sempre um na sobra, recuperação rápida do setor defensivo, cuidado
com as bolas paradas.
A marcação na saída de bola e a
presença de um defensor na cobertura não são habituais nas
equipes dirigidas pelo Parreira.
Os seus times preferem recuar e
fechar os espaços defensivos a
pressionar. Como são dois zagueiros e os dois volantes e laterais se
adiantam para iniciar as jogadas
ofensivas, não dá tempo num
contra-ataque rápido para eles
recuarem, marcarem um atacante e sobrar um zagueiro.
Na Copa-94 não houve esse problema porque Mauro Silva foi
quase um terceiro zagueiro, os rivais ficavam muito atrás (a moda
era o defensivismo) e no calor de
meio-dia não conseguiam defender e contra-atacar. Nada disso
desmerece a conquista, as virtudes e a eficiência tática do time
brasileiro dirigido pelo Parreira.
Marcar a saída de bola é também a melhor maneira de ultrapassar uma retranca. O Brasil
não fez isso na Copa das Confederações contra Camarões e EUA.
O relatório concluí: "o maior
desafio do futebol brasileiro é
aprender a jogar sem a bola".
Certamente Parreira quis dizer
que os jogadores têm de saber desarmar e não dar espaços para o
adversário.
A questão é como fazer isso:
pressionando na saída de bola,
recuando para fechar os espaços
na defesa ou iniciando a marcação no meio-campo? As três formas são eficientes e podem ser
usadas na mesma partida, dependendo do momento.
Na Copa de 70, me rotularam
de jogar sem bola. Detesto isso.
Participei individualmente de
menos lances em relação ao que
fazia no Cruzeiro porque atuei fora da posição, de centroavante, de
pivô entre os zagueiros. No Cruzeiro era um meia que vinha de
trás. Não estava também em forma, já que antes do Mundial fiquei oito meses sem atuar.
Futebol se joga com a bola. Isso
também é óbvio.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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