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Foco
Judô faz irmãs vencerem a pobreza e rirem de levar "surra" das mais velhas
LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
Elas cruzaram o mundo
para apanhar.
E estão adorando.
As irmãs Rafaela e Raquel
Lopes Silva sabem que os
golpes que levam nos tatames causam marcas menos
doídas que as pancadas que
deixaram de levar da vida
por terem começado no judô
há 11 anos, por meio de um
projeto social no Rio.
"Para nós duas, o judô foi a
coisa mais importante que
aconteceu, porque a gente
veio de um lugar carente, a
Cidade de Deus. A gente veio
de um lugar pobre, e o judô
mudou a nossa vida. Começamos a estudar em colégio
particular, a ganhar algum
dinheiro, tudo através do judô. A gente poderia ir para
um caminho errado, mas o
judô nos colocou num caminho do bem", diz Raquel, 19.
Ela é a representante do
meio-leve (52 kg) da seleção
brasileira júnior, equipe que
está no Japão para servir de
sparring ao time olímpico,
que compete nos Jogos de
Pequim a partir do dia 9.
Além de dar ritmo aos titulares, o estágio serve como
preparação para o Campeonato Mundial da categoria,
em outubro, na Tailândia.
"Sou juvenil e acho essa
experiência excelente. Ganhei a seletiva da equipe júnior e quero aproveitar essa
oportunidade", diz Rafaela,
16, do peso leve (até 57 kg).
Aproveitar e ganhar experiência, no caso, é ser projetada pelas mais velhas muitas vezes por dia. "Vale a pena apanhar, como aprendizado. A gente aprende assim
e evita cometer o mesmo erro no futuro. Não entra numa posição de sofrer os golpes", afirma a mais nova, que
diz preferir treinar sempre
com os mais velhos.
Raquel já pensa alto, no
dia em que ela terá sua sparring. "A gente está apanhando. É apanhando que se
aprende. Faz parte. Se um
dia chegarmos à Olimpíada,
vamos pegar a equipe júnior
e bater nelas para treinar. No
judô é assim, um tem que
ajudar o outro. No judô, é ceder para vencer", fala ela.
A dupla aproveita para
tentar conhecer um pouco
do país de origem da modalidade que as ajuda a vencer a
pobreza, na primeira do que
esperam se transforme numa série de viagens ao país
do judogui. "É o sonho de
qualquer judoca conhecer o
Japão", conclui a mais velha.
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