São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

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FPF é acusada de jogo de cartas marcadas na escolha de quem explorará placas de publicidade

Empresas questionam licitação do Paulista-05

FÁBIO VICTOR
DO PAINEL FC

Anunciada em 2003 por Marco Polo Del Nero como bandeira da nova gestão da Federação Paulista de Futebol, a transparência nos negócios da entidade foi posta em xeque por uma nebulosa licitação para a venda dos direitos de exploração de placas de publicidade estática do Estadual de 2005.
Firmas interessadas em participar da concorrência acusam a FPF de ter divulgado o edital em sua página na internet no mesmo dia em que foi anunciado o vencedor, a empresa Estática Brasil, que desde 2003 detém o direito de exploração dos painéis instalados na beira dos gramados e foi a única a apresentar proposta.
Sentindo-se lesados, representantes de outras empresas dizem que o processo foi dirigido para que a Estática Brasil vencesse, o que a federação nega.
A entidade informa que colocou o edital em seu site no dia 21 de setembro, portanto a tempo de ser visto por qualquer interessado. No dia 23, a Folha acessou a página, e o documento não estava lá.
Naquele dia, o único registro do assunto era uma resolução da presidência informando sobre a licitação, designando integrantes da comissão licitatória e estipulando um prazo de dois dias úteis para que fossem apresentadas as condições para a concorrência.
Thomaz Jarussi, gerente comercial da Moran Consulting, uma das agências que alegam ter sido atropeladas pelo resultado, disse que tentou acessar o edital diariamente, por várias vezes, do dia 20 ao dia 29 -e só o encontrou nesta data, junto com o resultado.
"Acho que existe um laço mais estreito entre as partes [FPF e Estática Brasil], o que torna essa licitação um jogo de cartas marcadas. O que aconteceu foi vergonhoso", reclama Jarussi.
Ele diz que a Moran Consulting estava disposta a oferecer R$ 4 milhões para explorar as placas. A Estática Brasil ofereceu R$ 3,5 milhões, a serem pagos em três parcelas -a FPF estipulou em R$ 3 milhões a proposta mínima.
Outra empresa que se disse surpresa com o desfecho da concorrência foi a Publisport. Na última quinta, com o resultado já publicado, a sócia da agência Sônia Andreotti informou que vira a resolução da presidência e estava aguardando o edital da FPF, pois pretendia concorrer.
Foi informada pela reportagem de que não havia mais tempo. "Isso realmente causa muita estranheza, é lamentável. Realmente é muito complicado", afirmou ela.

Sondagem de mercado
Segundo a Folha apurou, antes mesmo de sair o resultado a Estática Brasil já havia conversado com alguns possíveis interessados em anunciar nas placas do Paulista, fornecendo-lhes uma estimativa do preço dos espaços.
A própria empresa confirma esses contatos, mas diz que se trata de uma precaução justificável. "Nada mais normal do que fazer sondagem no mercado. Aliás, nem fiz sondagem, as pessoas é que me ligaram. Como eu sabia do preço mínimo exigido pela FPF no edital, disse quanto seria mais ou menos o valor", afirmou José Carlos Pinto de Carvalho, sócio da Estática Brasil e ex-funcionário da Traffic, a megaagência de marketing esportivo de J. Hawilla.
Além de Hawilla, um dos homens mais influentes do futebol nacional, o milionário mercado das placas engordou o patrimônio de outros notórios personagens do setor, como o ex-presidente do Flamengo Kleber Leite.
A Estática Brasil entrou na FPF em 2003, ainda na gestão de Eduardo Farah. O ex-presidente diz que, ao deixar o cargo, em agosto daquele ano, a empresa devia R$ 600 mil à federação.
Pinto de Carvalho afirmou desconhecer a dívida. Marco Polo Del Nero, sucessor de Farah no cargo, tem outra versão -diz que o débito foi pago. Neste ano, a Estática Brasil concorreu com outras três empresas e venceu.
Há um outro dado curioso na concorrência das placas. Segundo o edital, a abertura dos envelopes com as propostas poderia ser acompanhada por um representante da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos de São Paulo), mas a entidade informou não ter recebido nenhum comunicado da FPF sobre a permissão.


Colaborou Fernando Mello, do Painel FC

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