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FUTEBOL
Passaporte da alegria
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Está praticamente certa a oficialização do jogador de futebol vira-casaca de seleções.
O Comitê de Futebol da Fifa
discutiu o tema nos últimos dias e
deu parecer favorável aos atletas
que desejam trocar de nação. A
frase anterior, aliás, está mal
construída. Não houve um movimento ou uma ação de jogadores
pedindo à máxima entidade do
futebol que pudessem defender
outros países. O projeto ou a idéia
é mesmo de dirigentes, cartolas.
Pegue a seleção júnior da Nigéria, sempre uma força do futebol
mundial. Leve-a para a Espanha,
um país que criou o hábito de dar
nacionalidade para jogadores estrangeiros. Transforme os garotos
africanos em espanhóis e os coloque em campo na Copa do Mundo seguinte. Fórmula simples.
A figura do vira-casaca de seleções, que, na verdade, não é nova
no futebol (argentinos e espanhóis chamam, com o maior orgulho, Di Stéfano de conterrâneo,
por exemplo), precisa ser aprovada ainda pelo Congresso da Fifa,
mas as cartas já estão na mesa.
""Só" não pode jogar por duas
seleções diferentes quem já atuou
por uma seleção ""A". Um atleta
poderá ser campeão mundial juvenil, júnior ou mesmo olímpico
por um país e depois vencer uma
Copa por outra bandeira (por isso
a seleção nigeriana sub-20 foi utilizada como exemplo antes).
""Apenas" uma troca de casaca
será permitida pela Fifa. Não dá
para ser campeão juvenil pelo
Brasil, júnior por Portugal e olímpico pelos EUA, por exemplo.
Essas ""barreiras" na verdade
não representam quase nada. Os
países mais desenvolvidos poderão desfrutar de todo o talento do
Terceiro Mundo. Já temos vários
casos de jogadores que optaram
por defender uma rica nação européia no lugar de jogar pela seleção de seu país de origem -Vieira, mesmo com pedidos de seu
pai, preferiu ser francês do que senegalês (pior para ele na Copa).
A França campeã mundial de
1998 já apontava o futuro com jogadores de Gana (Desailly), Guadalupe (Thuram), Nova Caledônia (Karembeu) e por aí vai.
Isso pode soar como um discurso antiimperialista (algo do tipo
estão entregando o nosso ouro
para o G-7), e talvez seja mesmo.
É enorme o ganho social que alguém pode ter deixando um país
que começa apenas agora com
um programa de combate à fome
e se mudando para uma nação
em que a renda é polpuda e há
uma distribuição decente.
Já que a Espanha foi tão citada
na coluna, vale a pena lembrar
que o chefe do Comitê de Futebol
da Fifa é o espanhol Angel Maria
Vilar Llona -os ""espanhóis" já
desbancaram os brasileiros no
futsal e ganharam o último Mundial da modalidade, quebrando
assim a histórica hegemonia nacional, apelando para a ""estrangeirização" de sua equipe.
Uma forma fácil de ver como essa nova ""regra" atende aos interesses do futebol europeu é lembrar como é raro um cidadão de
país rico querer tirar nacionalidade de nação subdesenvolvida.
Beckenbauer, homem-forte do
Bayern, disse, após a eliminação
do time na Copa dos Campeões,
que a ordem agora é renovar o time. Abriu as portas para jovens
(qualquer cidadania européia).
Talvez já pensando em ""equilibrar" as coisas, não permitindo
um avanço de jovens atletas do
Terceiro Mundo para a Europa, a
Fifa estuda limitar o número de
estrangeiros por time. Mas a partir de agora quem é estrangeiro?
Kaká
Especulações falam de propostas de Brescia, Bayer Leverkusen e
Manchester United. As duas primeiras, confirmadas pelo empresário do são-paulino (que levou França para a Alemanha), já foram
descartadas. A do Manchester seria boa, mas não existiria.
Diego
O agente Dino Lamberto tem vendido a revelação pela Europa (o
nome dele circula lá desde que o Santos fez amistoso na Escócia).
Promete passaporte europeu para o jogador no ano que vem.
Romário
Esse não é nenhuma revelação, mas seu nome foi lembrado nos últimos dias na Espanha: escândalo fiscal. O ex-presidente do Valencia Francisco Roig teria pago US$ 1,4 milhão ao Ypiranga por três
atletas que nunca atuaram no clube. Segundo o dirigente, foi uma
""estratégia" para pagar Romário sem ""pesadas taxas".
E-mail rbueno@folhasp.com.br
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