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VÔLEI
Controle ajuda no trabalho físico das jogadoras e deixa técnico em alerta para eventuais alterações de comportamento
Osasco faz "patrulha" para bloquear TPM
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu sou capaz de destruir na
quadra, vencer e, quando o jogo
acabar, cair no choro."
A frase da atacante da seleção
brasileira de vôlei Paula Pequeno
pode parecer estranha para quem
não convive com uma sigla que
faz parte do cotidiano de cerca de
35% das mulheres: TPM.
Alertada pela influência da tensão pré-menstrual no desempenho das atletas, a comissão técnica do BCN/Osasco decidiu fazer
um trabalho único entre as equipes de vôlei do país.
O preparador físico Zé Elias é
encarregado de acompanhar o ciclo das jogadoras e suas reações
no período que antecede a menstruação, quando aparecem os sintomas da TPM. O objetivo é, além
de detectar alterações hormonais,
direcionar o trabalho para evitar
problemas físicos e possíveis conflitos no grupo, dada a sensibilidade e agressividade exacerbadas
das jogadoras nesse período.
"É importante conhecer o padrão emocional de cada uma para
saber como se dirigir a elas, ter jogo de cintura", afirmou o técnico
José Roberto Guimarães.
De tanto conhecer o "padrão
emocional" das atletas, Zé Roberto diz que percebe alterações no
comportamento das jogadoras logo que chega aos treinos.
"Enquanto fazem alongamento,
ando entre elas. Cada uma tem
um tique. Se uma está mexendo
demais no cabelo, está mais calada, eu já percebo e fico atento ao
rendimento no treino", conta.
Zé Elias estabeleceu um método
de controle do ciclo menstrual das
jogadoras atrelado ao da musculação. Elas anotam em uma tabela
os dias do ciclo e, de acordo com
esses dados, ele procura concentrar os exercícios de maior intensidade fora do período da TPM,
quando as mulheres podem apresentar dores no corpo, inchaço e
estarem menos dispostas.
Além disso, se notar alguma irregularidade nos ciclos, Elias submete as atletas a um controle hormonal para ver se há alterações.
Uma das preocupações é com a
amenorréia (ausência de menstruação), comum em mulheres
submetidas a grandes esforços físicos -o alerta é dado quando
ocorrem três ou menos menstruações durante um ano. No caso
de anormalidades, Elias as encaminha para especialistas.
Para a coordenadora do Grupo
de Apoio à Mulher com TPM do
Hospital das Clínicas de São Paulo, Mara Diegoli, o controle feito
pelo Osasco é benéfico para a relação do grupo desde que isso não
faça com que alguma delas seja
considerada inapta a fazer algo
nesse período e a mulher não use
a TPM como pretexto.
Segundo ela, a TPM, se não provocar dores ou depressão, pode
ser benéfica para o esporte.
"A atleta pode descarregar a
tensão, a agressividade na quadra.
Assim, além de poder ter um ganho de rendimento, como uma
cortada mais forte, por exemplo,
vai deixar a quadra menos tensa."
Outros clubes que possuem times de ponta no país não possuem trabalho específico para
controle da TPM. Mas procuram
minimizar o problema.
Hairton Cabral, do São José dos
Campos, por exemplo, já tentou
controlar os ciclos menstruais ele
mesmo, mas desistiu. Acha que
misturaria duas funções, mas
procura orientar as jogadoras a
tratar a TPM em caso de alterações de comportamento e "dá
uma maneirada nas broncas" se
percebe que alguma atleta está
sensível. O mesmo fazem Luizomar de Moura, de Campos, e Hélio Griner, do Rexona.
No MRV-Minas, as atletas são
encaminhadas à psicóloga do clube se um problema é detectado.
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