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FUTEBOL
Não falta centroavante
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Depois de um ano sem vencer um grande rival paulista, a vitória do São Paulo sobre o
Corinthians na quarta-feira poderá recuperar a confiança e incendiar a equipe na decisão do
Torneio Rio-São Paulo.
Mas sem França e Kaká as
chances diminuem. A grande força do São Paulo estava no quarteto formado por França, Kaká,
Souza e Reinaldo. Sandro Hiroshi, Dill ou Júlio Baptista podem
estar num dia de sorte e fazerem o
que não sabem: finalizar no canto, onde o goleiro não está. Parece
que eles procuram o goleiro.
A defesa do São Paulo melhorou nos últimos dois jogos. A ausência do França enfraqueceu o
ataque, mas fortaleceu o sistema
defensivo porque Nelsinho escalou mais um armador com função também de marcação. Ele
não conseguiu no São Paulo o que
o Parreira fez no Corinthians:
atacar com muitos jogadores sem
fragilizar a marcação. Este é o desafio de todos os treinadores.
Souza e Belletti não podem ser
reservas do São Paulo. A melhor
posição do Belletti é na lateral direita, onde tem espaços para atacar e defender, já que possui muita mobilidade e velocidade. O
meio-campo é setor de marcação,
mas também de criação e intimidade com a bola.
No início de sua carreira, Souza
foi rotulado de apático e injustamente responsabilizado pelas deficiências das equipes. Sempre
que o São Paulo atua mal, Nelsinho, como faziam os técnicos anteriores, substitui o jogador. Somente no Paraná Souza foi mais
valorizado e compreendido. Por
isso, brilhou intensamente. Alguns jogadores mais frágeis emocionalmente precisam de apoio e
carinho. Souza é um deles.
No Brasil, sempre que um armador habilidoso atua mal e o time perde, dizem que ele "não
chamou o jogo para si". Quando
joga bem, dizem que é um craque.
Não é uma coisa nem outra. Esses
jogadores se destacam quando
atuam em equipes organizadas e
superiores às outras. Raramente
um jogador sozinho muda a história de uma partida.
Ricardinho está muito bem porque o Corinthians tem vários jogadores responsáveis pela armação das jogadas. A principal virtude do Corinthians, além do Dida, está na passagem da bola de
pé em pé, sem pressa, de uma intermediária até a outra. É o que
falta à seleção brasileira.
Fabrício, Vampeta, Ricardinho,
Rogério e Kléber ditam o ritmo da
equipe, não se perturbam, nem rifam a bola, como se diz na gíria
do futebol. Quando abrem-se espaços na defesa adversária, o time também é veloz no contra-ataque. Não se pode confundir
velocidade com afobação.
Parreira corrigiu vários defeitos
desses jogadores. Vampeta não
corre mais com a bola, nem tenta
jogadas impossíveis, como antes.
Kléber aprendeu a se posicionar
corretamente, a fazer a cobertura
dos zagueiros e a atacar no momento certo. Rogério não cruza
mais para se livrar da bola. Ricardinho continua com a mesma habilidade e talento -e marcando
melhor. Fabrício é um volante
que desarma e passa bem a bola.
O Corinthians não atua com
três atacantes e três armadores. O
encanto do time é não ter essa rigidez e divisão de setores. Leandro é um atacante que também
recua e arma as jogadas. Gil e
Deivid voltam à linha de meio-campo, desarmam e avançam.
Ricardinho, Vampeta, Rogério,
Kléber e até Fabrício defendem e
atacam. Tudo sincronizado.
Não falta ao Corinthians mais
finalizações e um típico centroavante, como pedem. É melhor ter
um time em que vários jogadores
têm condições de fazer gols do que
apenas um único artilheiro. O
que falta à equipe são atacantes
de mais talento, com as mesmas
características dos atuais. Deivid,
Gil e Leandro não têm a qualidade dos grandes atacantes. Deivid
é o que mais se destaca porque está sempre bem posicionado para
finalizar. Os três têm futuro.
Já imaginou a seleção brasileira
atuando com a mesma lucidez e
toque de bola que o Corinthians e
com jogadores como Ronaldinho,
Ronaldo, Rivaldo, França, Kaká e
outros excepcionais atacantes?
Seria um timaço!
Apesar do melhor momento do
Corinthians, o São Paulo ganhou
no meio da semana e pode vencer
novamente. É um clássico! Mesmo que perca os títulos da Copa
do Brasil e o Torneio Rio-São
Paulo, o Corinthians já deu o seu
recado. Não se pode analisar uma
equipe somente pelos títulos.
O time de Parreira resgatou um
estilo bonito, cadenciado e eficiente, que há muito não se via no
futebol brasileiro. Mas, na prática, só se ganhar títulos servirá de
modelo para outros treinadores.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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