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GUERRA FRIA
EUA >> SÉRGIO DÁVILA
Velhos namorados
NO VALE DO SILÍCIO ,
pais milionários da revolução do pontocom
matriculam seus filhos apenas
em escolas que ofereçam aulas
de mandarim -a maioria dos
moleques ainda nem nasceu.
Num comercial de celular, um
funcionário de uma multinacional americana treina sua
pronúncia para cumprimentar
o empresário chinês com quem
vai almoçar.
Ao mesmo tempo, cresce
aqui o movimento "China
Free" (sem China), de pessoas
que só consomem produtos
que não tenham sido fabricados ou cultivados ou criados lá.
Não é fácil. Seus seguidores
têm de levar uma vida quase tão
monástica quanto a dos que só
comem alimentos crus -afinal,
16,9% de tudo o que os EUA importam vêm daquele país, o primeiro colocado mundial entre
os vendedores de produtos para os gringos, segundo o "World
Factbook", da CIA.
É nesse fio da navalha entre
ódio e dependência que a relação dos dois países caminha,
como a de um velho casal de namorados que calculasse a cada
dia o esforço da separação e o
conforto da continuidade e decidisse que é melhor sofrer junto do que ser feliz sozinho.
O americano médio suspeita
que o chinês rouba seus empregos ou pelo menos faz seu salário diminuir. O americano mais
instruído sabe que seu país é refém econômico daquele que é o
segundo maior detentor de títulos do Tesouro dos EUA,
meio trilhão de dólares, atrás
apenas do Japão.
Como acontece com velhos
parceiros, também, há lugar para tiradas bem-humoradas.
"Vocês estão animados com a
Olimpíada? Bem, a animação
está no ar -assim como o
chumbo, o zinco, o arsênico, o
benzeno e o dióxido de enxofre", brinca o apresentador David Letterman na TV, referindo-se à poluição de Pequim.
Você está animado com as
Olimpíadas? Este colunista está, e suspeita que seu colega ao
lado também. Mas eu não terei
de respirar o ar de Pequim...
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