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Na sua defesa em ação movida por torcedor, entidade recomenda distância dos campos para maiores fãs da bola
Estádio não é lugar para menores, diz CBF
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A CBF adverte: Estádio de futebol é um lugar pouco recomendável para menores de idade.
Essa sugestão, um disparate para quem vive de organizar a mais
popular modalidade esportiva do
país, foi o mote principal de defesa da entidade em ação judicial
movida pelo empresário Antonio
Carlos Franchini Ribeiro.
Em novembro de 2000, ele levou seu filho Gabriel, então com
13 anos, e outras três crianças ao
jogo entre Brasil e Colômbia, no
Morumbi, válido pelas eliminatórias sul-americanas. Comprou ingresso nas numeradas para todos,
mas uma invasão de cerca de 500
torcedores no setor impediu que,
por 40 minutos, ele e as crianças
tivessem visão do campo e de um
jogo sofrível -a seleção, ainda
com Emerson Leão no comando,
só venceu com um gol marcado
nos acréscimos por Roque Júnior.
Sentindo-se desrespeitado,
Franchini foi à Justiça e levou a
melhor. Sentença do juiz Eduardo
Almeida Prado Rocha de Siqueira
manda a CBF pagar R$ 50 mil ao
empresário. Ainda cabe recurso, e
a batalha nos tribunais, segundo
previsão de advogados, pode durar ainda mais dois anos.
Mais do que uma inédita derrota judicial, o que marca o caso é a
orientação da defesa da CBF, que
também alega não ter culpa por
não ter como evitar uma invasão
de torcedores em um estádio.
Segundo a entidade, o clima de
grosseria faz com que um estádio
não seja o melhor lugar para se levar um menor. Ainda de acordo
com a CBF, o que aconteceu com
Gabriel é uma "lição de vida".
"Embora o fato seja desagradável, constitui-se em preciosa lição
de vida ao filho do autor [Franchini" e aos demais menores, posto vivemos num país que não prima pela excelência e organização
dos serviços público em geral,
sendo importante que os menores aprendam esta lição de vida
sobre a realidade social que nos
cerca", relatou a CBF em sua defesa.
"Essa afirmação da CBF parece
até deboche", diz Martim de Almeida Sampaio, advogado que
representou o empresário.
Segundo Sampaio, uma ação
como essa não precisa de leis específicas que estão sendo discutidas, como a MP79 e o Estatuto do
Torcedor. "Só o Código de Defesa
do Consumidor já basta", diz.
O ocorrido deixou sequelas nos
envolvidos. "Ele [Gabriel" continua gostando de futebol, mas
nunca mais fomos ao estádio", reclama Franchini.
Alvo errado
Ao recomendar que um estádio
não é lugar para "menores", a
CBF despreza o público, que, segundo pesquisa feita pelo Datafolha, já entrou ou está perto de fazer parte do grupo etário que mais
interesse tem por futebol.
De acordo com o levantamento,
realizado no final do ano passado
com 14.559 pessoas em 365 municípios de todos o país, 71% dos jovens entre 16 e 24 anos têm muito
ou algum interesse pelo esporte
mais popular do país.
À medida que envelhece, segundo o Datafolha, o brasileiro vai
perdendo interesse pelo futebol.
No grupo entre 35 e 44 anos, 63%
mostram algum nível de atração
pela modalidade. Entre os que já
passaram dos 60, só 46% se encontram nessa posição.
Os jovens gostam mais também
de opinar. Antes da escolha de
Carlos Alberto Parreira para o comando da seleção brasileiro, 60%
dos brasileiros pesquisados pelo
Datafolha entre 16 e 24 anos tinham um candidato para o cargo,
contra, por exemplo, 44% do grupo que vai dos 45 aos 59 anos.
"Com isso [a recomendação para os menores ficarem longe dos
estádios], a CBF, no mínimo, está
atrapalhando a formação do torcedor do futuro", diagnostica o
empresário, que espera ter dado o
exemplo para outros torcedores
lesados. "Acho que o que aconteceu comigo vai abrir caminho para que mais gente conquiste seus
direitos", afirma Franchini.
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