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FUTEBOL
Cruzeiro e Palmeiras, batizados nos primórdios com o mesmo nome, surpreendem ao ganhar títulos e fazer história
Palestras vivem juntos ano da redenção
RODRIGO BUENO
TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
A história diz que em 1928 a camisa verde-escura da Societá
Sportiva Palestra Itália ficou mais
clara e que então nasceu o apelido
de ""periquito" do clube. A história dirá, porém, que em 2003 essa
mesma sociedade italiana, vestindo azul e sendo associada a uma
raposa, ganhou de vez o Brasil.
O Cruzeiro, assim como o Palmeiras, nasceu e cresceu com camisa verde e nome Palestra Itália.
E o ano de 2003, assim como a
Segunda Guerra Mundial, marcou para sempre a vida de ambos.
Mais que vencerem a Série A e a
Série B do Brasileiro, respectivamente, Cruzeiro e Palmeiras deixaram para trás nesta temporada
as suas maiores frustrações.
O título do Nacional era uma
obsessão tão grande para o time
de Belo Horizonte quanto era o
retorno à primeira divisão para a
equipe do Parque Antarctica.
Os mais antigos palestrinos foram submetidos a emoções que
talvez nem imaginassem um dia
passar. O Cruzeiro conseguiu o
que parecia impossível. Venceu o
Brasileiro e a Copa do Brasil na
mesma temporada. De quebra,
ganhou o Campeonato Mineiro
de forma invicta, faturando assim
a ""Tríplice Coroa", algo eterno.
Já o Palmeiras, contrariando
uma infeliz tradição do futebol
brasileiro, entrou em campo com
toda a sua história vencedora para
jogar a segunda divisão, encheu
os estádios, revelou grandes jogadores (o que nunca foi sua especialidade) e obteve, sem maracutaias, o seu retorno à elite.
Se adversários ajudaram a pôr
fim ao nome Palestra Itália em
meio ao mais famoso conflito bélico da história, rivais não puderam segurar a ascensão dos ""Palestras" e a euforia de seus ""tifosi".
Os clubes mais ítalo-brasileiros
do país, aliás, estiveram ligados de
certa forma no ano da redenção.
O Cruzeiro apostou quase todas
as suas fichas no técnico Wanderley Luxemburgo, que projetou
sua carreira no Palmeiras. Aliás, o
último time do treinador antes de
ir para Belo Horizonte em 2002.
O capitão e principal jogador
cruzeirense é um ídolo palmeirense: Alex. O reserva dele, que foi
decisivo no jogo que garantiu o título para o Cruzeiro (2 a 1 no Paysandu, domingo passado), também é lembrado com bastante carinho pelos palmeirenses: Zinho.
No Palmeiras, o grande xodó da
torcida é hoje o goleiro Marcos.
Mesmo após ter ganho a Copa de
2002 com a seleção e de ter recebido vantajosa proposta do Cruzeiro, o jogador aceitou jogar a Série
B e não trocou de ""Palestra".
Outros jogadores palmeirenses,
como o atacante colombiano Muñoz, também foram namorados
pelo Cruzeiro, mas continuaram
atuando no estádio Palestra Itália.
Na comemoração do título no
último domingo, o presidente
cruzeirense, Alvimar Perrella, não
esqueceu do ""irmão" paulista que
havia subido uma semana antes.
""Infelizmente, o Palmeiras caiu
no ano passado. Mas agora estamos todos comemorando."
O presidente do Palmeiras,
Mustafá Contursi, assim como os
dirigentes cruzeirenses, superou
críticas e, sem investir muito, teve
mais sucesso do que quando quis
um esquadrão -o Cruzeiro falhou no Brasileiro com um supertime, e o Palmeiras caiu com vários atletas consagrados.
Os Perrella e Contursi não tiveram apenas Luxemburgo como
treinador em comum. O pentacampeão mundial Luiz Felipe
Scolari, hoje técnico da seleção de
Portugal, marcou época no Palmeiras nos anos 90 e depois passou pelo Cruzeiro. Mais humilde,
Marco Aurélio também treinou
os dois times recentemente.
Acompanhando suas equipes,
as torcidas palestrinas roubaram
a cena. O Palmeiras foi líder de
público na Série B; o Cruzeiro é na
Série A. Ostentando estrelas douradas ou estendendo faixas nas
cores da bandeira italiana, cruzeirenses e palmeirenses construíram algumas das melhores imagens do futebol nacional no ano.
Na temporada em que o futebol
italiano deu o tom, com uma inédita final entre Juventus e Milan
na Europa, o Brasil reverenciou
seus mais gloriosos ""oriundi".
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