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FUTEBOL
Times do interior se dizem lesados e levam federação a criar comissão
Pequenos criticam preço,
e FPF instaura sindicância
DO PAINEL FC
E DA REPORTAGEM LOCAL
No fim de janeiro, o Paulista de
Jundiaí pediu a confecção de
4.922 ingressos para o confronto
com o Ituano. Apenas 250, ou 5%
do total, foram vendidos. O resto
foi queimado. Literalmente.
A arrecadação total, de R$ 3.605,
não deu nem para pagar a conta
da BWA, que cobrou R$ 4.500. O
prejuízo dos jundiaienses na estréia do Estadual foi de R$ 11.540.
A situação acima descrita é a
maior arma dos clubes pequenos
para rever o contrato firmado entre a Federação Paulista e a BWA.
À exceção dos times grandes, do
São Caetano, da Ponte Preta e do
Guarani, todos os times da Série A
do Estadual pagam R$ 0,60 por
ingresso emitido pela empresa.
O prejuízo dos times aumenta
exponencialmente quando os
cartolas erram a projeção do número de espectadores em campo.
São os clubes que determinam a
quantidade de bilhetes que será
confeccionada pela BWA.
Nas três primeiras rodadas do
Paulista, o desperdício foi de incríveis 77%. Os times mandantes
pediram à empresa de Bruno Balsimelli um total de 290.510 entradas. Venderam 65.761. Os outros
224.749 foram encaminhados à
FPF, que os incinerou.
O recorde do desperdício aconteceu no duelo entre São Paulo x
Ponte Preta. Dos 36.200 bilhetes
confeccionados, nada menos que
32.036 foram queimados.
As perdas dos clubes se potencializam com o fato de que a definição da carga de ingressos não
leva em conta estatísticas recentes. Na primeira rodada, o São
Caetano pediu mais de 7.000 entradas para o duelo com o Mogi
-que só levou 690 pagantes ao
Anacleto Campanella. No Brasileiro-03, a média de torcedores do
time foi de 2.500.
Atingidos por uma crise financeira sem precedentes, os clubes
do interior resolveram se unir.
"O valor cobrado é um absurdo,
é muito alto. A entrada deveria
custar R$ 0,15, e não R$ 0,60",
protesta Eduardo Palhares, presidente do Paulista. "O aumento do
preço foi abrupto. Achei caro demais e já fui à FPF protestar", reclama Carlos Alberto Costa, presidente da Portuguesa Santista.
"A empresa arrecadar mais do
que os clubes é incoerente", afirma Walter Cipriani, vice-presidente do Atlético Sorocaba.
Os cartolas vão além. "Teve um
jogo em que eu pedi 2.500 ingressos e me mandaram mais de
6.000. Fizeram os 1.500 que eu pedi e 1.000 do torcedor-família, que
acompanha outros quatro", disse
Palhares. "Alguns ingressos têm
vindo a mais. Nossa relação com a
empresa [BWA] tem ficado complicada", concordou o representante do Sorocaba.
A BWA negou veementemente
a acusação de que fabrica mais ingressos que o pedido pelos clubes.
"Eles vão ter que provar na Justiça", ameaçou Bruno Balsimelli.
Informada da situação pela Folha, a FPF instalou uma sindicância interna para discutir o assunto. "Só soube disso por vocês. Estou muito preocupado, tanto que
instaurei a comissão. Só vou me
pronunciar depois que ouvir os
envolvidos", afirmou Marco Polo
Del Nero. Participarão da sindicância cinco presidentes de clubes, entre eles José Lourencetti
(Guarani), que também reclamou, e os presidentes do Paulista
e da Portuguesa Santista. A primeira reunião será na quarta.
Para todos os clubes da Série A,
nenhum custo fixo de jogo é tão
alto, proporcionalmente, quanto
o ingresso da BWA. O aluguel de
estádio custa 12% em geral. A taxa
de arbitragem e o exame antidoping têm valor fixo e ficam em
torno de R$ 3.000 cada um.
Apesar da relação problemática
com a BWA, alguns clubes têm
intensificado negócios com a empresa. O América, por exemplo,
teve as carteiras de sócios e de
portadores de cativas confeccionadas pela BWA. Em troca, a partir do jogo de hoje, contra o São
Paulo, a equipe ostentará nas
mangas do uniforme do clube o
logotipo da empresa de Balsi-
melli.
(FERNANDO MELLO, MARCUS VINICIUS MARINHO E PAULO COBOS)
Colaborou Guilherme Roseguini,
da Reportagem Local
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