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Maioria dos brasileiros que foi ao pódio em Sydney-2000 não conseguiu alavancar a carreira nem obter patrocínios com o objeto mais cobiçado do esporte
Para que serve a medalha?
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Elas têm 6,8 cm de diâmetro.
Trazem desenhos do Coliseu, de
uma corrida de biga, da deusa
grega da vitória e da Opera House, o cartão-postal de Sydney.
Foram cobiçadas por 10.651
atletas, na mais inchada Olimpíada da história. Doze delas -seis
de prata e seis de bronze- acabaram nas mãos de brasileiros e se
tornaram a principal esperança
de um futuro pródigo na carreira.
Mas não foi bem assim.
A esmagadora maioria dos
competidores locais que voltou
da Austrália com uma medalha
olímpica pendurada no peito não
conseguiu amealhar patrocinadores nem melhorar as performances. Mais: alguns enfrentaram crises técnicas, graves contusões e
cogitaram até desistir do esporte.
"Foi uma ilusão. Achei que tudo
seria mais fácil. Mas a medalha
não tem a repercussão aqui que
tem lá fora. Comecei a treinar
pouco para correr atrás de patrocínio e acabei tendo alguns resultados muito ruins", afirmou Carlos Honorato, prata em Sydney na
categoria até 90 kg.
Um ano após a Olimpíada, o judoca, desmotivado, não conseguia se manter no peso ideal e
acabou fora do Mundial de Munique. "Só comecei a retomar minha forma em 2002. Agora, quero
obter um bom resultado no Pan
para engrenar", disse.
Situação semelhante viveram os
integrantes do revezamento 4 x
100 m rasos, que só perdeu para o
fortíssimo time norte-americano
na Austrália. Vicente Lenílson,
Edson Luciano, André Domingos
e Claudinei Quirino não foram
bem no Mundial do Canadá, em
2001, tiveram problemas financeiros e de contusões e agora tentam
uma vaga no Pan para dar gás ao
sonho de chegar à Atenas-2004.
"Eu defendia o Vasco na época
da Olimpíada e, após os Jogos, fiquei muito tempo sem receber salário. Pensei diversas vezes em parar", contou Lenílson.
Outro revezamento, formado
pelos nadadores Gustavo Borges,
Fernando Scherer, Carlos Jayme e
Edvaldo Valério, bronze na piscina do Sydney Aquatic Centre no 4
x 100 m livre, encontrou os mesmos entraves. À exceção de Borges, todos tiveram problemas para permanecer na elite.
"Comigo aconteceu algo engraçado. Como medalhista olímpico,
tive um grande reconhecimento
nos EUA e consegui uma bolsa
para estudar e defender a Universidade da Flórida. Mas, no meu
país, poucos se lembraram de
mim", contou o goiano Jayme.
Crise
Algumas modalidades viveram
crises ainda mais agudas. O vôlei
feminino, bronze nos Jogos, é um
caso emblemático.
A seleção trocou de técnico
-Bernardinho foi para o time
masculino e deu lugar a Marco
Aurélio Motta. Em 2001, a equipe
terminou em quinto lugar no
Grand Prix, a pior colocação da
história do Brasil no evento.
No ano passado, a crise se instaurou de vez. Por problemas de
relacionamentos, Motta perdeu
cinco titulares, precisou renovar o
elenco e ficou em quarto no
Grand Prix e sétimo no Mundial.
Em 2003, chamou de volta duas
rebeladas -Raquel e Virna-,
mas continua fazendo experiência com novatas.
No vôlei de praia, modalidade
que arrebatou três pódios na
Olimpíada, duplas foram desfeitas e muita amargura restou das
performances na Austrália.
"Aquilo é uma febre, você acha
que tudo vai ser maravilhoso
quando voltar ao Brasil. Depois,
tem que se tocar que a vida vai
continuar como era antes", disse
o medalhista de bronze Zé Marco,
que jogou ao lado de Ricardo e
abandonou as areias em 2002.
A parceria entre Adriana Behar
e Shelda seguiu firme após angariar uma prata na Olimpíada. Em
2002, a dupla foi vice-campeã
mundial, mas, nesta temporada,
enfrentou problemas de contusões e só no último final de semana conseguiu deslanchar no Circuito Brasileiro.
Já as medalhistas de bronze
Adriana e Sandra também se separaram. A primeira não atua
mais, e a segunda terminou o Circuito Mundial de 2002, ao lado da
parceira Leila, na sétima posição.
O mais inconformado com a situação dos medalhistas, contudo,
é Ricardo. Hoje jogando ao lado
de Emanuel, ele lembra com ressentimento de como era recebido
quando buscava incentivos para
continuar jogando.
"Eu chegava com um bronze
olímpico nas empresas, a maior
glória de minha vida, e eles temiam associar a marca àquela
medalha. Diziam que o bronze
era uma derrota", afirmou.
Apesar dos percalços, Ricardo
não desiste. É o líder do Circuito
Brasileiro e não pensa em parar.
Acredita que, um dia, terá o reconhecimento que merece. Ganhar
o pedaço de metal de 6,8 cm de
diâmetro mais desejado do esporte não foi suficiente para isso.
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