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O EXCLUÍDO
"Bala" pediu verba e deixou de treinar
DA REPORTAGEM LOCAL
Pela velocidade que conseguia
imprimir no final das provas,
Edvaldo Valério da Silva Filho foi
escolhido para ser o último homem do revezamento 4 x 100 m
livre na Olimpíada de Sydney.
Debutante nos Jogos, o nadador baiano não se assustou com
a responsabilidade. Saltou do
bloco de partida em quarto e
caiu para sexto nos primeiros 50
metros. Quando todos pensavam que não havia mais chances,
Valério justificou o apelido: superou três rivais e deu ao Brasil a
primeira medalha no evento.
Com o bronze pendurado no
peito, o nadador fez história. Valério ou "Bala" era o primeiro
negro do país a chegar a um pódio olímpico na natação.
Voltou para Itapuã, na periferia de Salvador, onde ainda reside com a família, e foi recebido
com festa. Desfilou em carro
aberto, proferiu discursos e sonhou com um futuro promissor.
A bonança durou pouco.
"Logo após os Jogos, apareceram propostas de patrocínio. Só
que acabei não nadando bem em
algumas competições, e aí tudo
acabou", contou Valério.
A gota d'água foi o Mundial de
Fukuoka, em 2001. Valério não
chegou às finais em provas individuais, e o revezamento 4 x 100
m livre foi desclassificado. A partir de então, os patrocínios começaram a se esvair. "Esqueceram que eu era um medalhista
olímpico", lembrou o atleta.
Quando perdeu até o apoio dos
Correios -parceiro oficial da
natação brasileira-, Valério
percebeu que precisava tomar
uma atitude. Resolveu deixar os
treinos de lado e começou uma
via-crúcis pelas empresas em
busca de novas parcerias.
"Deixei de fazer musculação,
engordei e fiquei fora de forma.
Não tinha incentivo para cair na
água. Precisava de alguém que
acreditasse em mim", disse.
A peregrinação durou de junho de 2002 a março deste ano,
quando Valério, 25, arrumou
outro patrocinador. Mesmo assim, teve pouco tempo para treinar para o Troféu Brasil, no início do mês, e acabou ficando fora
do elenco que vai ao Pan-Americano de Santo Domingo. "Foi
muito frustrante", confessou.
Valério guarda a medalha
olímpica em uma gaveta de seu
quarto. Olha para ela de vez em
quando e relembra os dias em
que virou a principal estrela da
natação. Sabe que o objeto não
trouxe boa ventura, mas nem vacila quando indagado sobre os
próximos objetivos. "Quero outra e quero de ouro. Estarei em
Atenas."
(GUILHERME ROSEGUINI)
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