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ARQUEOLOGIA DO ESPORTE
Olimpíada volta de novo à Grécia, seu berço, mas continua longe de sua história
Em busca do tempo perdido
FÁBIO VICTOR
DO PAINEL FC
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Grécia ensinou ao mundo como fazer uma Olimpíada. De 776
a.C., quando foram oficializados
os Jogos de Olímpia, a 393 d.C.,
ano da proibição das competições
pelo Império Romano, foram pelo menos 287 edições em mais de
mil anos de disputas.
Ao longo desse período, enquanto louvavam os deuses, os
helenos sofisticaram sua técnica
atlética e aprimoraram a infra-estrutura do santuário onde ocorriam as disputas, em nome da excelência, principal chave da engrenagem olímpica.
Na chance inicial que tiveram
para reviver os seus antepassados,
em Atenas-1896, a primeira Olimpíada da Era Moderna, os gregos
protagonizaram um fracasso
-tanto por um ponto de vista
atual como até se comparada às
espetaculares e organizadas competições em tributo aos deuses.
A desordem, o improviso e a falta de preparo deram o tom da disputa. Ainda mesmo em 1896, Rufus Richardson, diretor da Escola
Americana de Estudos Clássicos
de Atenas, escreveu: "Parece uma
temeridade instituir essas competições atléticas sob o nome de Jogos Olímpicos. O sol de Homero
continua a brilhar sobre a Grécia e
o vale de Olímpia continua lindo.
Mas nem varinhas mágicas nem
fortunas poderão trazer de volta à
realidade as bases em que foram
firmados os Jogos Olímpicos".
Extasiado com a história de disputas na velha Olímpia, o francês
Pierre Frédy, o barão de Coubertin, foi o idealizador do seu "revival" mais de 1.500 anos depois.
Mas a semente que ele lançou no
mesmo sagrado solo grego demorou para deitar rebentos.
Acrescida de grande desinteresse por parte de franceses e americanos, a bagunça registrada em
Atenas-1896 foi repetida em Paris-1900 e em Saint Louis-1904, esta última a Olimpíada mais esvaziada da história, com somente 12
países representados.
Nas edições que se seguiram,
modalidades e provas foram
acrescidas, a competitividade aumentou e os investimentos se
multiplicaram. Rejeitado por
Coubertin, o profissionalismo foi
invadindo as competições.
Hoje instalado de vez, como reconhece o próprio Comitê Olímpico Internacional, produz um
paradoxo: se aproxima as disputas atuais das de Olímpia em
grandiosidade, as afasta cada vez
mais delas no espírito.
Contudo, apesar da dificuldade
em comparar uma única edição
olímpica grega (1896) a um evento com história milenar como os
Jogos Antigos, pode-se afirmar
que, na segunda volta ao seu berço, a Olimpíada que começa na
próxima sexta-feira guarda mais
semelhanças com as disputas dos
primórdios que com a aventura
do final do século 19.
Quando for aberta a sua 28ª edição moderna, os Jogos de 2004 começam a atingir só 10% do trajeto
que os antigos eventos abençoados por Zeus já percorreram nas
287 competições da Antigüidade.
Atenas verá provavelmente o
mais alto nível a que o esporte
chegou e a mais sofisticada estrutura que os atletas já tiveram à disposição. Mas ainda faltará muito
chão para alcançar a história.
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