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Jogos divinos
Na Antiguidade, Olimpíadas eram exaltação à busca do equilíbrio entre corpo e espírito e suspendiam guerras
DA REPORTAGEM LOCAL
No princípio era o mito. Os Jogos da Grécia Antiga têm origem
na vontade de seus deuses.
Há relatos que atribuem o surgimento das competições a Hera, a
primeira divindade a ter um templo em Olímpia, no século 7 a.C. A
deusa da fertilidade era homenageada na época da colheita.
A versão mais difundida relaciona o início dos Jogos a uma
corrida de carros entre dois netos
de Zeus: o rei Enômaos e Pélops.
O primeiro prometera a mão da
filha, Hipodâmia, a quem o vencesse numa corrida de carros, cujo perdedor era condenado à
morte. Apaixonada pelo rival, Hipodâmia tramou a sabotagem do
carro do até então imbatível pai,
que morreu durante a disputa.
As competições teriam nascido
em homenagem a Pélops.
Registros históricos imputam a
origem às cerimônias em honra
aos mortos nas guerras. Mítica ou
histórica a concepção, eles unificaram a cultura helênica.
Segundo a educação grega, o
homem deveria buscar o equilíbrio entre o corpo e o espírito. Os
Jogos eram a exaltação máxima
dessa busca -conjugavam o aspecto religioso ao competitivo.
Três meses antes do início das
provas, as guerras eram suspensas. Emissários percorriam a Grécia anunciando a trégua, e Élis, o
território dos Jogos, era declarado
inviolável, neutro e sagrado.
Multidões acorriam a Olímpia,
acampando nos bosques próximos ao santuário. Cada cidade
mandava suas delegações, com
tesouros para as divindades.
Apesar da paz formal entre as
cidades, nas arenas a disputa era
ferrenha, e as modalidades tinham íntima relação com a guerra. A última competição dos Jogos, por exemplo, era a "hoplita",
prova em que os atletas corriam
com escudos e lanças, simbolizando o final da trégua sagrada.
Os festivais olímpicos aconteciam a cada quatro anos, intervalo
chamado "olimpíada". A duração
variou nos mais de mil anos de Jogos Antigos e, por volta do século
4 a.C., foi fixada em cinco dias.
No aspecto esportivo, as Olimpíadas antigas lembram as atuais,
especialmente no rigor com a técnica e a preparação dos atletas
-mesmo nas provas infantis.
O poeta Píndaro registrou que
os finalistas da luta infantil de um
dos Jogos só conquistaram o direito de decidirem a competição
depois de vencerem combates
com quatro oponentes cada um.
O "profissionalismo" dos Jogos
antigos revela-se ainda na função
dos técnicos. A partir do século 4
a.C., os atletas tinham "comissões
técnicas", compostas de treinadores com atribuições específicas.
O técnico principal, chamado
de "ginasta", era em geral um ex-atleta, que definia o plano de treino e a alimentação do pupilo.
Quem executava o plano eram
os "pedótribas", espécie de "personal trainers", que acompanhavam diariamente os competidores, trabalhando na melhora das
técnicas. Havia treinadores cuja
função era untar os atletas (que
competiam nus) com óleo antes
das provas: os "ungidores".
A abrangência dos festivais extrapolava, entretanto, o campo
esportivo. "Olímpia foi o local de
encontro não só dos atletas mais
destacados do mundo grego como também de filósofos, retóricos, historiadores e letrados, que
encontravam ambiente adequado para a exposição de suas idéias
e doutrinas", conta Nelson
Schneider Todt, membro da Academia Olímpica Brasileira.
Entre os pensadores, as Olimpíadas não eram unanimidade.
Platão e Pitágoras assistiram aos
Jogos. Eurípedes criticou a superpreocupação com esportes e declarou: "O pior dos males da Grécia é a raça dos atletas".
Sob o Império Romano, os Jogos perderam muito de seu ideal.
Os conquistadores competiam.
Há registro de que Nero foi campeão em 65, após obrigar a retirada de seus rivais.
(LUÍS FERRARI)
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