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Participação brasileira teve lobby de Havelange
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil não seguiu Argentina,
Chile e Paraguai e decidiu participar dos Jogos Olímpicos, rompendo o boicote imposto pelos
EUA. E uma das razões foi João
Havelange, que, no início de 1980,
quando os norte-americanos
pressionavam os brasileiros para
não irem a Moscou, defendeu nos
bastidores a participação do país.
O então presidente da Fifa, que
na época exercia seu segundo
mandato na entidade que rege o
futebol, associou-se a Juan Antonio Samaranch para convencer
vários países a participarem do
evento. Três dias antes da cerimônia de abertura, o espanhol assumiria a presidência do Comitê
Olímpico Internacional.
Ex-embaixador de seu país na
então União Soviética, Samaranch, quando em campanha,
trabalhou muito para evitar que
boa parte das nações da Europa
Ocidental esvaziasse os Jogos.
Esvaziá-los significaria não só
enfraquecer o Movimento Olímpico, mas especialmente a Adidas
e a agência de marketing esportivo criada pelo alemão Horst
Dassler, aliado de Havelange na
Fifa e o principal financiador da
campanha do espanhol no COI.
Afastado da CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual
CBF) pelo governo de Ernesto
Geisel (1974-1979), Havelange tinha melhor relacionamento com
o general João Baptista Figueiredo (1979-1985) e manteve com ele
três reuniões para defender a participação nos Jogos Olímpicos.
A partir de 1974, quando o brasileiro ganhou as eleições e assumiu a presidência da Fifa, Dassler,
que a princípio apoiara Stanley
Rous, inglês que comandava a entidade, mudou de lado. Associou
a Adidas à Fifa e, três anos depois,
passou a trabalhar, com Havelange, pela candidatura de Samaranch à presidência do COI.
O plano era ambicioso. A idéia
era montar no comitê a mesma
estrutura da Fifa, modernizada e
administrada empresarialmente a
partir de 1974, que começou a dar
lucro, principalmente para a Adidas -em 1987, ano em que Dassler morreu, a marca alemã faturava US$ 2,2 bilhões por ano.
Em 1980, o empresário montou
o embrião da ISL -International
Sports Leisure-, que se tornaria
mais tarde a agência da Fifa, do
COI e da Iaaf, entidade que organiza o atletismo e era chefiada pelo italiano Primo Nebiolo.
Depois de Montréal-76 ter terminado com enorme prejuízo
-superior a US$ 1,6 bilhão-, a
plataforma de Samaranch era tornar os Jogos lucrativos como as
Copas. Quanto mais forte fosse o
boicote -inclusive a Los Angeles-84, desta feita pelo bloco comunista-, menor o lucro. Em
1980, por exemplo, os direitos de
TV, que chegaram a US$ 185 milhões, foram renegociados, após o
boicote, para US$ 122 milhões.
Além de Havelange, o mexicano
Mario Vásquez Raña, presidente
da Associação de Comitês Olímpicos Nacionais, e Primo Nebiolo
trabalharam para tentar reduzir o
boicote aos Jogos de 1980, conseguindo apoio de países como
Áustria, Austrália, Brasil, Colômbia, França, Holanda e México.
Dos três, Havelange foi quem
mais teve sucesso, fazendo um
trabalho elogiado por Samaranch
e Dassler com os países africanos,
que ajudaram a elegê-lo em 1974.
Com apoio do trio, o alemão adquiriu a Le Coq Sportif em 1977 e
tentou alavancar a empresa de
material esportivo na França associando-a aos Jogos de 1980. O
boicote, então, seria um desastre.
Correspondências trocadas entre Havelange e Figueiredo, com
menção ao trabalho de Nebiolo
no continente europeu e de Vásquez Raña na América Central,
no México, na Ásia e na Oceania,
hoje parte do arquivo deixado pelo ex-ministro Roberto Campos,
mostram que o objetivo era reunir no mínimo 92 países em Moscou, mesmo número atingido em
Montréal, quatro anos antes.
Não deu certo. Mesmo assim,
com apenas 81 países, os Jogos de
Moscou tiveram melhor resultado: terminaram com lucro.
(JCA)
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