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FUTEBOL
Não basta decorar a lição
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Após a conquista do Mundial
de 94, quase todas as equipes
brasileiras passaram a jogar no
esquema da seleção, com uma linha de quatro defensores, dois volantes, um armador de cada lado
e dois atacantes.
A função do volante era desarmar e fazer a cobertura de zagueiros e laterais. Raramente ultrapassava a linha de meio-campo. No máximo, dava um passe
de cinco metros. Depois, surgiu
uma anomalia, os brucutus, volantes só fazedores de faltas, bastante valorizados pelos técnicos.
Mauro Silva e Dunga, volantes
da seleção de 94, não tinham nada a ver com essa mediocridade.
Eram excelentes volantes. Mauro
Silva continua eficiente. Os brucutus, ainda há muitos, estão fora
de moda. No Mundial, o volante
Gilberto Silva foi um dos destaques, com a sua elegância e toques precisos e preciosos.
Após o Mundial de 94, Zagallo
assumiu a seleção e introduziu o
número 1, jogador de ligação entre o meio-campo e ataque. Outros treinadores fizeram o mesmo. Os times ficaram mais ofensivos, porém tortos, com dois volantes e um terceiro armador, geralmente canhoto, pela esquerda.
Sumiram os meias-direitas.
Para equilibrar o time, alguns
treinadores, como Wanderley Luxemburgo, formaram um losango
no meio-campo: apenas um volante, um armador de cada lado
com funções defensivas e ofensivas e mais o jogador de ligação
com os dois atacantes.
No Corinthians, dirigido pelo
Parreira, o time, em vez de jogar
com um armador próximo dos
dois atacantes, passou a atuar
com três atacantes, sendo dois pelos lados e um central. França e
Argentina também jogaram assim na Copa. O Santos atua com
os três atacantes e o Diego, grande promessa, vindo de trás.
No Mundial, Felipão colocou
Rivaldo de um lado, Ronaldinho
de outro e Ronaldo na frente. Os
dois meias (Rivaldo e Ronaldinho) recuavam para receber a bola, armavam e avançavam pelo
meio e pelos lados.
Na defesa, para ter um zagueiro
na sobra, alguns técnicos trocaram um armador por um terceiro
defensor. Uns, preferem os três em
linha, variando o que fica na cobertura. Outros, como Geninho,
colocam dois zagueiros para marcar individualmente os dois atacantes rivais e deixa o terceiro
atrás, fixo, na sobra.
Na Copa, Felipão utilizou uma
variação. Numa mesma partida,
Edmilson jogava de zagueiro e de
volante, dependendo do posicionamento dos atacantes. Em 94,
Parreira também fez isso com
Mauro Silva em alguns jogos.
Todos esses desenhos táticos estão sendo ou podem ser utilizados
pelos técnicos no Brasileiro.
Nenhum está ultrapassado. Todos têm vantagens e desvantagens. Cada técnico tem a sua preferência. Há ainda os treinadores,
como Mário Sérgio, que mudam o
esquema tático a cada partida, de
acordo com o adversário. Melhor
ainda. Não se pode é fazer como
muitos treinadores europeus, que
trocam o craque pelo medíocre,
por causa da tática do outro time.
Num jogo ocorrem muitos detalhes, táticos e individuais, previsíveis ou não, mais importantes e
decisivos do que o esquema programado. Aí, sobressai a criatividade do técnico. E quem só decorou a lição fica para trás.
O Romário da Copa
Para avaliar se uma equipe é
mais ofensiva ou defensiva, mais
importante que o esquema tático
é o tipo de marcação. Um time
que marca por pressão será bastante ofensivo mesmo com poucos
atacantes fixos. Quando se toma
a bola, os armadores e os defensores estão próximos do gol e tornam-se atacantes. "Quem ataca é
atacante." (Armando Nogueira).
Pensei que veria no Mundial
várias seleções utilizando a marcação por pressão, pelo menos em
alguns momentos da partida.
Só a Argentina fez isso. A equipe
pressionava, tomava a bola, dominava o jogo, mas não conseguia fazer gols.
Felipão treinou essa marcação,
mas raramente aconteceu no jogo. O técnico queria que Ronaldo
corresse atrás dos zagueiros, como fazia o Luizão. Felizmente, o
Fenômeno guardou as energias
para as jogadas individuais e decisivas. Ronaldo sabia que não tinha fôlego para fazer as duas coisas. Ele desarmou somente no
momento certo, no primeiro gol
contra a Alemanha. O jogador
pressionou, tomou a bola do zagueiro, deu para o Rivaldo e foi
pegar o rebote do goleiro.
Ronaldo atuou na Copa como
se fosse o Romário (em forma), de
centroavante, mais estático, esperando o instante mágico para brilhar, até com o bico da chuteira.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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