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ARTIGO
Cerimônia merece o 1º ouro olímpico
Mais hollywoodiana do que a própria Hollywood, festa de abertura extrapola os limites da imaginação do cineasta Zhang Yimou
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
O comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim conhecia o terreno onde pisava
quando anunciou, em abril de
2006, que o cineasta Zhang Yimou, 56, seria o diretor-geral
das cerimônias de abertura e
encerramento do evento.
Filmes de ação como "Herói"
(2002), "O Clã das Adagas Voadoras" (2004) e "A Maldição da
Flor Dourada" (2006), em que
os personagens revogam a lei
da gravidade, sugeriam que
nem mesmo o céu seria limite
para a imaginação de Yimou.
A escolha também levou em
conta a identificação da obra do
cineasta com valores históricos
chineses. Além disso, ele é um
mestre da luz e da cor, como demonstram "Sorgo Vermelho"
(1987) e "Lanternas Vermelhas" (1991), entre outros.
Esse perfil o transformou em
coordenador ideal (ou "comandante-em-chefe") de uma vasta
equipe de colaboradores, que
inclui entre seus generais o coreógrafo Zhang Jigang e o compositor Chen Qigang, e da qual
Steven Spielberg foi consultor.
A parte inicial da cerimônia
de abertura foi concebida como
um longa-metragem dividido
em grandes seqüências, todas
baseadas, como em um épico de
ação, no conceito de integrar
muita gente a muita tecnologia
e movimento quase incessante.
Até a fase neo-realista de Yimou, de "Nenhum a Menos" e
"O Caminho para Casa", ambos
de 1999, gerou ecos em momentos mais minimalistas da
cerimônia, como os que envolveram crianças e fotos de sorrisos captados mundo afora.
A tônica dominante, no entanto, foi mais hollywoodiana
do que a própria Hollywood poderia conceber -e basta lembrar quão opacas se tornaram,
na comparação, as aberturas
dos Jogos de Los Angeles, em
1984, e de Atlanta, em 1996.
Embora tenha sido oficialmente nomeado há pouco mais
de dois anos, Yimou teve ao
menos quatro anos para pensar
no que vimos ontem. Ele já havia produzido oito minutos para a cerimônia de encerramento dos Jogos de Atenas e, desde
então, estava engajado no projeto olímpico chinês.
Como um dedicado embaixador, realizou vídeos promocionais e divulgou o evento em diversos países. Foi também figura-chave na escolha das cinco
propostas finalistas, selecionadas entre as 409 inscritas, para
os shows de abertura e encerramento do evento esportivo.
Yimou havia dito que seu objetivo era conduzir a cerimônia
de ontem em direção a um
"momento inesquecível" - supostamente, o da tocha olímpica. Nesse aspecto, "fracassou":
o espetáculo gerou diversos outros picos, com imagens igualmente belíssimas.
O presidente do comitê organizador, Liu Qi, acreditava que
o sucesso dos Jogos dependeria
em boa medida da qualidade da
cerimônia de abertura. Pois entregue-se uma medalha de ouro
simbólica à equipe de Yimou, e
aguardemos os novos recordes.
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