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Pronta para chorar
CHORONA ASSUMIDA, JADE REFUTA IMAGEM DE FRÁGIL, DIZ ESTAR MAIS MADURA E SABER QUE MÍDIA USA MORTE DA MÃE PARA SENSIBILIZÁ-LA
BRASIL
Ginasta busca vaga na final do solo individual
Horário: 9h
EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM
Uma Jade Barbosa com
surpreendente maturidade,
que entende a relação da mídia e defende que a mãe ""não é
um objeto", estréia hoje na ginástica artística feminina da
Olimpíada, a partir das 9h.
""É, a Jade é chorona", reconhece a brasileira, 17, dona de
um bronze na prova mais difícil no Mundial de 2007 -o individual geral (soma dos quatro aparelhos)- e promessa
para a primeira medalha na
ginástica artística do Brasil.
""Mas não quer dizer que eu
não esteja madura. Cada um
tem sua maneira de expressar
o que sente. Eu geralmente
choro. É a maneira de expressar o que estou sentindo na
hora, é o meu jeito. Tem gente
que sorri, tem gente que grita", compara a ginasta, que
neste ano foi prata na etapa de
Cottbus no solo e no salto.
A presidente da confederação de ginástica, Vicélia Florenzano, diz que é enorme a
diferença entre a Jade de hoje
e a que desembarcou em Curitiba para integrar a seleção
em 2005. ""Quando ela chegou, chorava o tempo todo. O
Oleg [Ostapenko, técnico da
seleção] nem a treinava.
Quem cuidava dela era a [técnica] Iryna Ilyaschenko."
Apesar de público e mídia
cultivarem a percepção de
uma ""Jade ingênua, frágil", a
atleta revela ter plena noção
de que, por vezes, é usada.
""Os repórteres usam a morte de minha mãe para conseguir uma tragédia, algo assim.
Para me fazer chorar e conseguir uma reportagem. Então
isso apareceu bastante. Falavam dela, e eu chorava."
A cena se repetiu no Pan do
Rio. ""Alguém questionou: "Jade, quando você chegou, pensou na sua mãe, "mãe me ajuda?"." Foi aí que Daiane dos
Santos disparou: ""Vocês estão
querendo fazer ela chorar".
Ela e Daniele Hypólito, que
já ocuparam o posto de musas
da ginástica brasileira e estão
no time em Pequim, falam
com conhecimento de causa.
Após resultados inferiores
aos esperados em torneios no
exterior, Daniele, no início da
carreira, era recepcionada no
aeroporto com questões como: ""Não está envergonhada
por decepcionar o Brasil?".
Já Daiane, após falhar em
Atenas e escutar questões que
envolviam até seu pai e a frustração olímpica, desafiou a
mídia: ""Vocês não vão me fazer chorar". Mas não conseguiu cumprir a promessa.
""Tem duas coisas que eu
detesto. Essa coisa de querer
fazer chorar a toda hora as ginastas e essa infantilização.
Sempre é "as menininhas, as
coitadinhas"", fala Vicélia.
Jade diz que, no Pan, só
lembrou da mãe, que morreu
há oito anos, vítima de aneurisma cerebral, quando levou
o ouro. ""Ao pensar em minha
mãe, penso em coisas que gostava de fazer com ela, quando
ela ficava feliz comigo... Não
quando estou errando. Tento
não fazer dela um objeto para
mim, entendeu? Quero só
lembrar de coisas boas."
Quanto a disputar sua primeira Olimpíada, diz que tenta administrar a pressão. ""A
Jade é um ser humano como
outro qualquer. Eu entro para
competir por mim. A Jade
gosta de ginástica, de estar lá
representando o país."
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