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FUTEBOL
Os verdadeiros melhores do ano
RODRIGO BUENO
COLUNISTA DA FOLHA
B atram Suri, Commins Menapi, Henry Fa'arodo, Paul
Kakai, Mahlon Houkarawa... Nenhum deles concorre ao prêmio
de melhor jogador da temporada,
mas todos já ganharam o ano, a
vida. Os heróis das Ilhas Salomão
podem ter apanhado feio ontem
(a coluna é escrita na sexta-feira),
mas nada irá apagar o que eles fizeram na trilha da Copa de 2006.
Quando a disputa na Alemanha começar daqui a dois anos,
quase ninguém lembrará que a
Nova Zelândia foi eliminada por
um amontoado de ilhas (quase
mil), que um quase desconhecido
país (?) colocou em perigo a Austrália em sua casa e esteve a ponto de desafiar o quinto colocado
da América do Sul nas eliminatórias. Na terça, em Sydney, as Ilhas
Salomão poderão (não contem
com isso) beliscar até uma vaga
na Copa das Confederações, torneio no qual enfrentariam Alemanha, Argentina ou até o Brasil.
E a situação não é só fantástica
do ponto de vista esportivo. Muito
mais que isso. Há aproximadamente um ano as Ilhas Salomão
estavam financeiramente e socialmente quebradas e sofriam
com uma guerra civil, recebendo
soldados australianos, não jogadores do "gigante oceânico". Ontem, um playoff final histórico
com a Austrália valendo o continente começaria na capital Honiara (a disputa para chegar à repescagem do Mundial será um
outro playoff no ano que vem). "É
inacreditável. Todo mundo está
maluco. É o maior momento da
história das Ilhas Salomão", diz o
presidente da federação local,
Matthew Kausime. "O futebol
tem sido sempre um fator de unificação", afirma Allan Gillet, técnico do time.
As Ilhas Salomão têm um diferencial interessante em relação a
todas às nações vizinhas: vê o futebol, e não o rúgbi, como seu esporte nacional oficialmente. Nos
anos 50, a febre da bola começou
por lá. Na década de 60, surgiram
disputas anuais. E, nos anos 70, os
primeiros bons resultados regionais. A paixão dos filhos de Salomão pelo futebol (uma "religião"
no local, segundo relatos) incentivou a criação até de federações vizinhas, como as de Papua-Nova
Guiné e Vanuatu. Hoje o esporte é
praticado em todas as escolas do
simpático arquipélago, um potencial celeiro de craques da região
com o futebol menos desenvolvido do planeta.
Quase todos os cerca de 500 mil
habitantes saíram às ruas para
festejar o épico 2 a 2 em plena
Adelaide com a Austrália, resultado que deixou o time na decisão
continental. Nada de 13 a 0 ou
coisa do tipo em campo. Nada de
guerra civil. O povo celebrou a
classificação unido, cantando o
hino do país, e saudou os heróis
dias depois em um desfile digno
do campeão mundial.
Um horizonte tão diferente
quanto imenso se abriu para as
Ilhas Salomão, cuja seleção não
tem patrocinador, cujos uniformes têm que ser comprados e cuja
maioria dos atletas vê ainda o
amadorismo.
Enquanto o mundo venera de
novo Ronaldinho, Henry, Ronaldo, Zidane, Roberto Carlos e Beckham, a coluna celebra, neste momento e neste ano, Maemae,
Omokirio, Samani, Leo, Waita...
As minas
As Ilhas Salomão figuram na 125ª posição no ranking da Fifa. Dentre
os países com ilhas no nome, é o mais destacado. As Ilhas Faroë, que
jogam na Europa, estão em 135º lugar. Ilhas Virgens (180º), Ilhas
Cook (190º) e Ilhas Virgens Norte-Americanas (199º) estão atrás.
Os manos
O estádio Lawson Tama, em Honiara, tem capacidade para 20 mil
pessoas e gramado novo. "As Ilhas Salomão são ótimo lugar para ir e
jogar", afirma Allan Gillett, o técnico inglês da equipe.
Os manos e as minas
Na eleição de melhor da Fifa, destacaram muitos brasucas, mas
Henry é nome fortíssimo. Nas minas, Marta está firme na parada.
E-mail rbueno@folhasp.com.br
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