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FUTEBOL
Código do torcedor de pijama
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
A rejeição pelo Congresso
da medida provisória de
"moralização do futebol" foi ótima, porque evitou que a bancada
da bola aprovasse o desfigurado
texto de seu relator, o deputado
Ronaldo Cezar Coelho. Nesta nova versão, a CBF e as federações
não teriam a mesma responsabilidade dos clubes, o que é incompreensível. O governo atual vai
propor um novo projeto que será
votado no próximo ano.
No lugar da medida provisória,
o novo governo vai editar o Estatuto do Desporto. Em vez do futebol, a ênfase será na política esportiva social e na educação das
crianças, o que é correto. Mas o
projeto não pode deixar de lado
as ações moralizadoras do futebol
contidas na medida provisória.
Além desses projetos que vão
mudar o esporte, será votado brevemente o Código de Defesa do
Torcedor. Se aprovado e cumprido, será um grande avanço.
Mas não somente os torcedores
de campo merecem ser bem tratados. Há também os de pijama,
que, por preguiça, opção racional
(é hoje um grande risco ir aos estádios) e/ou falta de dinheiro,
preferem o conforto e a intimidade de sua casa. Eles necessitam
também de um código para defender os seus direitos.
Algumas sugestões:
a) todo torcedor de pijama tem
o direito de escolher a televisão
(fechada ou aberta) para assistir
aos jogos da seleção brasileira. O
fim do monopólio televisivo não
consta na medida provisória;
b) todo torcedor de pijama que
comprou o pay-per-view tem o direito de assistir a todas as partidas, conforme prometido na venda do pacote. Nas últimas semanas, não foram transmitidos para
Belo Horizonte os jogos entre
Atlético-PR e Paysandu e entre
Figueirense e São Caetano;
c) todo torcedor de pijama que
não comprou o pay-per-view tem
o direito de assistir também aos
jogos de outras equipes que não
sejam as grandes do Rio e São
Paulo. As televisões são essenciais
e ajudam a promover e financiar
o futebol, mas deveriam ser chamadas para participar depois que
os regulamentos, os calendários e
as tabelas estivessem prontos;
d) todo torcedor de pijama e os
da arquibancada tem o direito de
assistir aos jogos noturnos às
20h30. Assim, eles vão dormir melhor, trabalhar com mais alegria e
produzir mais. Estou até parecendo comentarista de economia;
e) todo torcedor de pijama tem
o direito de questionar os narradores e comentaristas e formar a
sua opinião. Para isso, deveriam
procurar entender melhor o futebol, e não apenas torcer;
f) todo torcedor de pijama tem o
direito de ser bem informado e de
escutar comentários independentes, imparciais e sem conotação
comercial. O esporte, além de ser
atualmente um entretenimento e
um negócio, é um importante
acontecimento jornalístico; e
g) todo torcedor de pijama tem
o direito de ter uma renda mínima reservada para pipoca, refrigerante e cerveja no domingo,
com moderação.
Comemoração do gol
A moda no futebol brasileiro é
não festejar gols contra ex-equipes do coração. Sempre foi o contrário. Por orgulho, para mostrar
que é melhor do que achavam e/
ou porque se sentia injustiçado, o
jogador vibrava ainda mais.
Um atleta, por causa do sincero
carinho e respeito que tinha pelo
ex-clube, não quis comemorar
um gol, e a moda pegou. Os atletas adoram repetir comportamentos, frases e palavras. A palavra da moda era pegada. Agora é
atitude.
Outro motivo dos jogadores não
desejarem comemorar um gol
contra o ex-time do coração é que
eles querem demonstrar que são
humanos, solidários e que não jogam só por dinheiro.
A vibração no momento de um
gol não diminui a admiração que
um jogador sente pelo ex-time.
Além disso, a alegria e o orgulho
no momento de um gol é uma
emoção muito mais forte do que
qualquer outro sentimento que se
tem pelo time anterior. Somos
muito mais egoístas e orgulhosos
do que imagina e racionaliza a
nossa consciência.
Antes de uma partida, o jogador não deveria declarar que não
vai comemorar ou que não gostaria de fazer um gol contra o ex-time. Isso desperta no imaginário
do torcedor a certeza de que ele
quis chutar a bola para fora. Os
psicólogos de plantão dirão ainda
que o jogador foi traído pelo inconsciente. No mínimo, o aumento da responsabilidade após as
declarações perturbará o jogador.
Por mais amor, respeito e gratidão que um atleta tem pelo ex-time, ele deveria festejar o gol, como se fosse o último de sua vida.
E-mail tostao.folha@uol.com.br
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