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BASQUETE
Em duelo de gigantes, guerra fria vira festa
No confronto, visto por Bush, americanos levam até aplausos
Placar de 101 a 70 para os visitantes não tira ânimo da torcida anfitriã, que saudou tanto Yao Ming quanto Kobe Bryant e LeBron James
ADALBERTO LEISTER FILHO
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM
Se havia clima de guerra fria
entre EUA e China para o jogo
de basquete de ontem, pela primeira rodada do torneio olímpico, esqueceram de avisar os
torcedores da equipe da casa.
O confronto, alardeado pelos
presidentes Hu Jintao (China)
e George W. Bush (EUA), esteve longe de ser o prenúncio do
conflito entre as duas nações
pela liderança do quadro geral
de medalhas. E não lembrou o
clima de tensão criado após o
assassinato em Pequim do sogro do técnico da seleção de vôlei dos EUA, Hugh McCutcheon, anteontem, por um chinês, que se matou em seguida.
Austrália e Croácia ainda finalizavam seu jogo. Faltava
pouco mais de uma hora para o
início da partida, marcada para
as 22h15 locais (11h15 de Brasília), e o Ginásio Olímpico de
Basquete, na capital chinesa, já
estava com seus 18 mil lugares
totalmente tomados. Espectadores não paravam de chegar.
Bush foi um deles. O presidente americano encerrou no
basquete uma longa jornada de
torcedor olímpico que fora iniciada horas antes, nas piscinas,
vendo o primeiro triunfo de
Michael Phelps na China.
A partida entre o país mais
populoso do mundo e a pátria
do basquete nestes Jogos Olímpicos gerou enorme interesse.
E um problema organizacional:
mais torcedores do que a capacidade comportava tinham entrado na arena. Dezenas ficaram em pé, atrás das arquibancadas, com visão da quadra bastante prejudicada. Ninguém,
porém, reclamou disso.
Tanta empolgação surpreendeu os organizadores, que tentaram coibir a entrada de mais
pessoas nos anéis superiores.
Já não se podia andar por ali,
nem descer as escadas.
Ninguém deu atenção às grades de proteção, facilmente
transpostas, nem aos apelos
das voluntárias, que faziam à
multidão excedente a ridícula
sugestão para que fosse lá fora
ver a partida num telão.
A torcida foi pela primeira
vez ao delírio na entrada da seleção chinesa na quadra. Yao
Ming, maior ídolo do país, iniciou o aquecimento arremessando a bola na cesta. A vibração dos fãs fez parecer até que o
confronto já havia começado.
Depois, chegaram os americanos. Ao contrário do que se
poderia esperar, foram bastante aplaudidos, principalmente
Kobe Bryant e LeBron James.
Novo grito soou das arquibancadas quando Yao acertou
uma cesta de três pontos, a primeira da partida, em um lance
improvável para um pivô de
2,29 m. "Atirei a bola e não
acreditei quando ela caiu."
O mais perto do escárnio
ocorreu durante tempo técnico, quando uma mascote com
pernas de pau levou tremendo
tombo ao tentar apressadamente deixar a quadra.
Nas arquibancadas, estrelas
de Hollywood, como Glenn
Close e Jared Leto, acompanhavam a disputa, fazendo parecer que o duelo fosse do LA
Lakers ou do New York Knicks,
que costumam ver esse desfile
de celebridades na NBA.
No anel inferior, torcedores
chineses exibiam três bandeiras do país. Nem se importaram quando, após cesta dos
EUA, alguns poucos americanos, bem ali ao lado, desfraldaram o símbolo de seu país.
E os "Vai, China! Vai, China",
berrados pela imensa maioria
da arquibancada, não diminuíam de volume e entusiasmo
mesmo quando os anfitriões
eram atacados. Nem ao final do
jogo, vencido pelos EUA por
101 a 70, com certa facilidade.
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