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FUTEBOL
Demonstrar retorno social dos projetos será outro desafio do ministério
Empréstimo exige perdão a
dívida de clubes com União
DO PAINEL FC
A missão mais espinhosa do
novo ministro do Esporte, Agnelo
Queiroz, para concretizar seu plano de que o BNDES financie reformas ou construções de estádios de futebol será convencer o
banco a abrir créditos a associações tão endividadas -em muitos casos, os clubes estão em débito com a própria União.
Em 1997, o BNDES realizou estudos que levaram à decisão de
apoiar projetos na área esportiva.
Mas a linha de crédito acabou não
sendo aberta a times de futebol,
pois o banco avaliou que se tratava de parceiros de alto risco.
Só de INSS e FGTS, os clubes
brasileiros devem aproximadamente R$ 350 milhões.
Um dos postulantes ao financiamento do banco na época, o
Vasco acabou sem o dinheiro que
pleiteava para uma grande reforma em São Januário. Numa trágica ironia, o estádio foi palco de
um dos maiores desastres do futebol nacional, quando, na final da
Copa João Havelange, em 2000,
210 pessoas ficaram feridas após a
queda de um alambrado.
Normalmente, a abertura de linhas de crédito do BNDES está
condicionada a um "nada consta"
em relação às obrigações fiscais e
trabalhistas das empresas ou associações. Há, entretanto, a possibilidade de ser negociada uma solução política para casos assim.
Seis anos depois de ver frustrada a tentativa do BNDES, o Ministério do Esporte retoma a questão
com um desafio adicional: convencer o banco (e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva) da
utilidade social da proposta.
Em menos de duas semanas de
gestão, o novo governo demonstrou que, num ano de aperto orçamentário, não está disposto a
investir em projetos que não
apresentem retorno social.
Uma das primeiras medidas tomadas por Lula foi a suspensão da
licitação para compras de jatos
supersônicos para a FAB, sob a
justificativa de que o dinheiro (a
compra poderia atingir a soma de
US$ 1 bilhão) poderia ser revertido para projetos sociais.
Pilar da auto-estima
Segundo a Folha apurou, o futuro presidente do BNDES, Carlos Lessa, que toma posse depois
de amanhã, está disposto a conversar com Queiroz e não descarta financiar os clubes.
Embora não seja um apaixonado por futebol, Lessa considera
esse esporte "um dos pilares da
auto-estima brasileira".
Foi essa a posição que demonstrou no seminário "Esporte & Cidadania", realizado em setembro,
no Rio -ele participou da mesa
de abertura do evento.
O futuro presidente do BNDES
ressaltou ainda o papel educativo
e democrático do esporte.
Ao saber da idéia do comunista
Queiroz, o nacionalista Lessa disse que iria estudar a proposta com
atenção e se declarou interessado
no conforto dos torcedores.
Fez, todavia, a ressalva de que,
caso o financiamento para os estádios saia, precisará de critérios,
que pretende definir com o Ministério do Esporte.
O número de torcedores dos
potenciais tomadores de empréstimos, bem como a localização e o
estado dos seus estádios e a saúde
financeira dos clubes podem ser
referenciais levados em conta.
O ministro do Esporte argumenta que a reforma e a construção de estádios estão em consonância com a prioridade do novo
governo para o setor -encarar a
prática de atividades esportivas
como fator de inclusão social.
Segundo Queiroz, ganhariam os
milhões de torcedores que frequentam estádios, ao terem mais
conforto e segurança, e os clubes,
que passariam a ter condições de
se tornarem rentáveis.
Se por um lado o financiamento
pode significar um prêmio à má
gestão (como disse o próprio Lula
durante a campanha, ao criticar
financiamentos de dívidas de clubes, posição modificada depois de
sua eleição), por outro pode criar
condições para que as agremiações saiam do buraco.
Especialistas em marketing esportivo costumam dizer que um
estádio próprio pode ser uma das
maiores fontes de receitas para os
clubes, que gastam fortunas com
aluguel e taxas quando atuam em
campos alheios e deixam de ganhar -pois não podem comercializar seus produtos.
Indução
É provável, ainda, que Queiroz
use o atrativo do financiamento
como uma forma de induzir os
clubes a se transformarem em
empresas. O Estatuto do Desporto, projeto de lei que deverá nortear a política esportiva do novo
governo, já prevê benefícios para
os clubes que se adequarem a um
modelo de gestão empresarial.
(FÁBIO VICTOR)
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