São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 2003

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FUTEBOL

Apenas 7% dos municípios brasileiros tiveram equipes jogando competições organizadas por federações em 2002

Cidades desafiam a fama do país da bola

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Moradores do Jardim Ruyce fazem ginástica em Diadema; a cidade utiliza os campos para promover atividades da comunidade


PAULO COBOS
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O país do futebol tem só 7% de seus 5.507 municípios com pelo menos uma equipe participando de competições oficiais.
Com cinco títulos mundiais e estrelas desejadas por todo o planeta, o Brasil é incapaz de ter um clube em locais com cinco séculos de história, como a baiana Porto Seguro, no seu município de maior área, a paraense Altamira, e em localidades com quase um milhão de habitantes, como a fluminense Duque de Caxias.
Levantamento feito pela Folha contabilizou 591 times, de 406 cidades diferentes, jogando competições de todas as divisões organizadas pela CBF ou por federações estaduais no ano passado.
A Inglaterra tem mais de 600 clubes jogando campeonatos organizados pela federação local. A Espanha tem um time na ativa para cada 80 mil habitantes, sendo que alguns estão sediados em localidades com menos de 10 mil moradores. No Brasil, a proporção é de uma equipe para cada 290 mil pessoas.
Em 2002, as três divisões do Brasileiro reuniram 113 agremiações. No México, quase 300 clubes jogam as diferentes séries do torneio nacional daquele país, que nunca chegou perto de ganhar uma Copa do Mundo.
A baixa penetração do futebol organizado por federações acontece em todo o Brasil.
Com 10 milhões de habitantes, a capital do Estado de São Paulo tem apenas sete clubes profissionais, a mesma quantidade de agremiações que a cidade de Buenos Aires tem só na primeira divisão do Campeonato Argentino.
Minas Gerais, unidade com mais cidades na federação, teve só 3% de seus 853 municípios com um time disputando um campeonato da federação local no último ano. Cidades com muita história e riqueza no passado, como Ouro Preto, Congonhas e Mariana, não sabem o que é ter uma equipe profissional hoje.
Se nos grandes centros futebol organizado é coisa rara, nos Estados menos populosos a situação é ainda pior, principalmente nas localidades amazônicas.
Na edição de 2003 do Estadual do Amazonas, por exemplo, só a capital Manaus irá abrigar jogos da competição. Todas as partidas envolvendo os sete inscritos acontecerão em apenas um estádio.

Estrutura inchada

O número de clubes na ativa é bem menor do que a quantidade de agremiações que a CBF alega existir atualmente no Brasil.
Segundo a entidade maior do futebol nacional, o país tem hoje cerca de 800 equipes.
O Brasil tem um número relativamente modesto de clubes mesmo contando com uma estrutura rara no mundo da bola.
Diferentemente de outros países, em que os torneios profissionais são organizados apenas pela confederação nacional, o futebol brasileiro tem, além da CBF, 27 federações estaduais.
Muitas delas funcionam para organizar estaduais que não chegam a ter uma dezena de clubes interessados na disputa.
Em alguns casos, as federações têm mais trabalho para amparar ligas amadoras ou até mesmo times de várzea.
Um dos raros casos de "congestionamento" de clubes acontece no Rio de Janeiro.
Na temporada passada, nada menos do que 20 clubes cariocas jogaram as diferentes divisões do Campeonato Estadual do Rio, representando as diferentes regiões da cidade, desde os bairros nobres da zona sul até os subúrbios mais pobres da zona norte.
Entre os Estados, o Espírito Santo é o que tem, proporcionalmente, o maior número de cidades envolvidas na disputa de campeonatos oficiais.
Dos 77 municípios capixabas, 16, ou 21% do total, tiveram representantes em uma das divisões do Estadual do ano passado.


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