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FUTEBOL
Boatos, rumores e verdades
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
A bem-comportada família Scolari viaja hoje para a
Espanha e inicia sua trajetória
rumo ao Mundial. O avião parte
pesado de tanto feijão. O jogador
brasileiro fica sem sexo, mas não
fica sem feijão. Desejo bastante
sorte à seleção.
Espero que comissão técnica e
jogadores entendam que os jornalistas não estarão lá para relatar somente o que eles aprovarem. Vamos para informar e opinar com independência. Às vezes
com um pouco de ironia, sem a
intenção de ofender. O colunista
precisa da subjetividade.
Numa Copa, muitos fatos sem
ou com pouca importância tornam-se supervalorizados pela imprensa e também pela comissão
técnica. Desde o tal de "grupo
unido" até os cabelos encaracolados do Ronaldinho, a careca do
Ronaldo, a sisudez do Rivaldo e o
bigode do Felipão.
Não vi na comissão técnica um
guru ou um "especialista" em auto-ajuda. Quase toda seleção tem
um. Está na moda. Será que Felipão vai acumular mais essa função? Poderiam treinar o Antônio
Lopes, que está com mais tempo.
Se contratarem um guru, espero
que não mande os jogadores pisarem em brasas, como fizeram
com os atletas na Olimpíada.
Geralmente, os técnicos -não
sei se é o caso do Scolari- adoram palestras dos gurus e frases
feitas, bonitas, para motivar os jogadores. Uma das preferidas na
Copa-98 era: "Tudo que você quer
você pode". Original, não? Desejo
tantas coisas que não posso! Outra: "O campeão não será o melhor time, mas o que vai jogar melhor". Também bastante criativa.
São tantas informações e zunzuns durante uma Copa que às
vezes é difícil separar a fofoca do
boato, do rumor e da verdade.
"Onde há fumaça, há fogo." O último boato foi de que a Ambev
não permitiu a convocação do
Romário porque ele era garoto
propaganda da Coca-Cola. Deve
ser a mesma fonte que garantiu
que o presidente da Nike obrigou
o Zagallo a escalar o Ronaldo na
final da Copa-98. O público adora
essas histórias. A versão é sempre
mais interessante do que o fato.
Na ânsia de preservar a intimidade do grupo, atletas e técnicos
vêem os jornalistas como intrusos
e inimigos. Esconder, ou não dizer nem explicar claramente os
fatos, aumenta ainda mais as fofocas, os boatos e os mistérios.
Uma das características do grupo fechado, tão falado por jogadores e técnicos, é a de não deixar
vazar as informações. É difícil
evitar. Desde a minha época de
jogador, impressionava-me como
alguns repórteres sabiam de tudo.
Hoje não é diferente. Uns, por
competência e trabalho, e outros,
por amizades.
A fonte na seleção pode ser um
jogador, um membro da comissão técnica, a cozinheira, o mordomo, o segurança, a camareira,
o motorista (escuta tudo) e muitas outras. Abre o olho, Felipão!
Se jogarem França e Kaká, as
chances de vitória são iguais hoje.
Nelsinho deve ter aprendido com
Péricles Chamusca, jovem técnico
do Brasiliense, como se faz uma
boa marcação contra o time do
Corinthians.
Contra o Brasiliense, o Corinthians estava muito afobado, fora
de suas características, com pressa para conseguir logo uma boa
vantagem. Quase perde o jogo! O
time beneficiou-se de dois prováveis erros do árbitro Carlos Eugênio Simon. Vi os lances um milhão de vezes, acho que Simon errou, mas não tenho certeza absoluta. As imagens não são 100%
claras. Não sou comentarista de
arbitragem e impressiona-me como as pessoas têm certeza absoluta de suas opiniões.
Toda semana acontecem erros
muito mais graves em todo o
mundo. Por isso, não se justifica a
suspensão do árbitro. Falhas que
só são vistas pela TV não são erros e sim uma limitação humana.
É preciso desmitificar a idéia de
que imagens paradas, computadores e tira-teimas não falham.
Máquinas também erram e são
operadas por humanos. Os editores de tevê não são os donos da
verdade. As imagens não mentem, mas também não pensam.
A Folha publicou um interessante estudo, de uma revista inglesa, que mostra que os gritos da
torcida intimidam e influenciam
nas decisões dos árbitros a favor
do time da casa.
Acrescentaria que, na dúvida,
os árbitros tendem, sem pensar e
racionalizar, a beneficiar os times
mais poderosos. Infelizmente, isso
acontece em todas as atividades.
Seria uma maneira de o árbitro
ou qualquer profissional proteger
e favorecer suas carreiras.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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