São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2008 |
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PEQUIM 2008 Do saco de pano ao pódio
JUDOCA QUE COMEÇOU COM UM QUIMONO FEITO PELA MÃE, KETLEYN QUADROS DÁ
1ª MEDALHA INDIVIDUAL ÀS BRASILEIRAS
LUÍS FERRARI ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM A história da primeira medalha olímpica obtida por uma brasileira em prova individual começou com um quimono elaborado com tecido de saco em Ceilândia, uma das cidades-satélites de Brasília. Ontem, a peso leve Ketleyn Quadros teve o retorno do sacrifício por que passou desde seu início no judô, aos oito anos. Conquistou o bronze em Pequim. Foi o primeiro pódio de um brasileiro nos Jogos. Minutos mais tarde, Leandro Guilheiro, que precisou até de infiltração no ombro, também ganhou a medalha de bronze entre os leves, repetindo o resultado de Atenas-04. Eles levaram o judô à condição de esporte que mais medalhas olímpicas conquistou para o Brasil. Agora são 14, ao lado da vela. De quebra, mantiveram a escrita de a modalidade (que, pela primeira vez na história, teve dois pódios no mesmo dia) ser a única que sempre faz medalhistas olímpicos desde Los Angeles-84. Mais que introduzir o Brasil no quadro de medalhas de Pequim, Ketleyn, 20, atingiu o que o país tenta desde a primeira participação da nadadora Maria Lenk, nos Jogos de Los Angeles, em 1932. Até ontem, o mais perto a que as brasileiras tinham chegado do pódio em eventos individuais havia sido os quartos lugares de Aida dos Santos, no salto em altura em Tóquio-64, e Natália Falavigna, no taekwondo em Atenas-04. Para conquistar a medalha, a judoca, em seu primeiro ano como titular da seleção adulta, precisou de cinco lutas. No trajeto até o pódio, a brasiliense enfrentou cinco rivais com currículos bem superiores. E bateu quatro delas. Em todas as lutas, exibiu um judô ofensivo, sempre andando para a frente e procurando impor seu vigor físico. A primeira luta foi contra a sul-coreana Kang Sin-young, atual vice-campeã asiática. Venceu por yuko (a segunda menor pontuação). A seguir, foi superada pela holandesa Deborah Gravenstijin, que chegaria depois à prata, pelo placar mínimo. Na primeira luta da repescagem, Ketleyn superou a espanhola Isabel Fernández, campeã em Sydney-00 e vice em Atlanta-96, dona de quatro medalhas em Mundiais e 44 em Copas do Mundo. A vitória veio só a 40 segundos do fim da prorrogação, quando, exausta, a espanhola foi punida após seguidos falsos ataques. Foi a mais longa luta do torneio olímpico até agora. Depois da espanhola, a rival foi a japonesa Aiko Sato, bronze no Mundial de 2007, derrotada por ippon em um minuto e que teve de sair do tatame de maca, com o pé lesionado. Na luta pelo bronze, precisou de nova prorrogação. Mas superou a australiana Maria Peklin (terceira em Sydney-00 e dona de 15 medalhas em Copas), para fazer história. Ketleyn deixou o tatame com a mesma expressão com que havia estreado. Enquanto a técnica Rosicléia Campos chorava, em meio a declarações como "Agora eu posso morrer" ou "Keka, eu te amo", a judoca revelava ainda não ter digerido a conquista, tampouco vislumbrado a dimensão de seu feito. "Estou muito feliz agora. Mas não consigo demonstrar. A sensação é a melhor possível, tão boa que eu não consigo expressar", disse a judoca, logo depois de deixar a área de competição. A rigor, ela nem precisava traduzir a emoção em palavras. Sua trajetória e os desafios superados até o inédito pódio de Pequim falam por si. Texto Anterior: O que ver na TV Próximo Texto: Judô: Guilheiro é o 1º a repetir pódio em Jogos seguidos Índice |
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