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BOXE
Chinês leva kung fu para o ringue
Zou Shimming é esperança de ouro da China em modalidade que foi banida no país
Outrora "fraco", boxe do anfitrião projeta até cinco medalhas na Olimpíada e aponta agora para um astro profissional à la Bruce Lee
EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM
A técnica do boxe aliada ao
jogo de pernas e dinamismo da
milenar arte chinesa do kung
fu, popularizada por filmes do
ator e lutador Bruce Lee.
É essa a fórmula que transformou o chinês Zou Shimming, 27, em campeão mundial amador em Chicago-07.
Quando adentrar o ginásio
dos trabalhadores na madrugada de quarta, com seu robe
amarelo com detalhes em vermelho, sob os aplausos de entusiasmados compatriotas,
Zou carrega a responsabilidade de iniciar caminhada em direção ao ouro nos Jogos. Afinal, é uma das apostas da China no embate com os EUA.
""Ele e seu técnico [Zhang
Chuanliang] vieram do kung
fu. Se você assistir a uma luta
dele, logo perceberá a influência do kung fu em seu estilo.
Mas não quero falar mais sobre
isso, não quero espalhar sua
fórmula", disse à Folha Chang
Jianping, presidente da Federação Chinesa de Boxe, logo
após se desculpar por não permitir entrevistas com Zou.
""Apenas após os Jogos. Agora
ele precisa se concentrar."
Mas Chang deixa escapar
que a intenção é profissionalizar o atleta após os Jogos, o
que outras autoridades do boxe chinês confirmam.
Há ofertas de promotores
estrangeiros por Zou, mas terão de passar pelo crivo estatal. Segundo o dirigente, a Aiba
(Associação Internacional de
Boxe Amador), entidade da
qual é um dos vice-presidentes, tem uma proposta que
permitiria a amadores atuar
como profissionais (sem capacete protetor ou camiseta) e
seguir com o status olímpico.
Que o governo chinês subsidie o boxe e considere a proposta de profissionalizar um
de seus heróis seria inimaginável no fim dos anos 50, quando
o pugilismo passou a ser considerado fora da lei na China.
Logo após a chegada ao poder do governo comunista, em
1949, o esporte, classificado de
decadente e imperialista, sofreu perseguições. A morte de
um amador em 1959 foi a gota
d'água, e a modalidade foi banida. ""O lutador morreu de
uma doença, mas não quiseram nem saber", diz Chang.
Ironicamente, foi um dos
maiores ícones americanos
que plantou as sementes para
o retorno do esporte à China: o
ex-campeão mundial dos pesos pesados Muhammad Ali.
Durante visita de Ali ao país
em 1979, o líder Deng Xiaoping
ficou encantado com o pugilista, que sugeriu que a restrição
ao boxe fosse retirada. Levou
anos, mas em 1987 uma seleção nacional foi formada, e a
China foi aceita como integrante da Aiba. O próprio
Chang reconhece que no início
o boxe chinês era ""fraco". Seus
pugilistas não tinham condições de agüentar três assaltos.
Uma confluência de fatores
foi fundamental para o desenvolvimento do boxe no país.
""Criamos equipe de técnicos
estável, demos ênfase nas categorias mais leves, onde temos
mais sucesso, o governo injetou mais dinheiro para a performance nos Jogos e o chinês
Wu Ching-kuo foi elevado a
presidente da Aiba", enumera
o cartola chinês, que espera
um ouro e quatro bronzes.
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