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BASQUETE
Fã de carne, feijoada e farofa, Lisdeivi afirma que sonha em conhecer o atacante Adriano, "seu tipo de homem"
Cubana espera processo com churrasco
DA ENVIADA A OURINHOS
O treino daquela manhã quente
e seca de Ourinhos começou mais
tarde. Para uma jogadora em especial, o atraso tinha um significado maior: era dia de receber seu
primeiro salário no Brasil, país
que escolheu para recomeçar.
Com um sorriso enorme estampado no rosto, Lisdeivi entrou no
ginásio da cidade que agora chama de casa. Animada, queria treinar. Mesmo após passar quase
duas horas na fila do banco com
suas recém-adquiridas amigas.
Há três semanas a cubana começou uma vida nova. Mudou-se
para a pequena Ourinhos, cidade
de 110 mil habitantes 370 km a
oeste de São Paulo, quase na divisa com o Paraná. E é na casa que
divide com a parceira de time Nathalia que espera, ansiosa, o julgamento de seu pedido de asilo.
Antes de chegar lá, já havia passado uma temporada em Americana, onde desertou. Enquanto o
empresário Alexandre Coelho negociava com o time local, Lisdeivi
pediu para treinar com a equipe
para recuperar a forma. Foi aceita.
Mas ficou por lá somente duas
semanas. Coelho havia entrado
em contato com Ourinhos e tinha
boas notícias para a atleta: a equipe estava disposta a contratá-la.
"O clima aqui é muito melhor.
As meninas são muito legais, a recepção foi muito mais calorosa",
diz a jogadora, num "portunhol"
falado rapidamente, que dificulta
a compreensão das novas amigas.
Nada, porém, que a impeça de
levar uma vida normal ou a deixe
de fora dos churrascos que as
amigas organizam sempre que
têm folga. "Eu amo churrasco!"
"Fala também da caipirinha",
atiça a colega Lígia. "Ah, é verdade, adoro. Gosto de feijoada, farofa. Não vivo sem. Agora sempre
que como arroz e feijão preciso
colocar farofa por cima", conta
Lisdeivi, que comia bastante
churrasco em Cuba. Mas de porco, já que carne de boi é praticamente artigo de luxo no país. E as
churrascadas só aconteciam graças ao pai, Juan, criador de suínos
numa província perto de Havana.
Outra paixão de Lisdeivi é o basquete. "Aprendi assistindo", diz a
fã do pivô americano Shaquille
O"Neal, do Miami Heat ("Morro
por ele"). Em Sydney, conta, fez
questão de tirar fotos ao lado de
Gary Payton e Kevin Garnett, do
Dream Team norte-americano.
Apesar do embargo dos EUA a
Cuba, ela orgulha-se em dizer a
origem de seu nome: foi uma homenagem à atriz Angela Davis, famosa por ser atuante na luta contra a discriminação racial no país.
"O Lis veio da minha mãe, Lídia.
O resto foi uma homenagem, já
que minha mãe sempre foi fã."
Sua mais recente paixão foi descoberta há pouco mais de três meses. Lisdeivi é apaixonada pelo
atacante Adriano, da seleção brasileira e da Inter de Milão. "Ele é
bonito, tem um corpo lindo. É o
tipo de homem que gosto, meio
quieto, forte", derrete-se em elogios. "Um dia vou conhecê-lo."
A euforia desaparece quando
ela volta a lembrar da família.
"Faz três semanas que falei com
eles pela última vez. Sinto muita
saudade", relata, com lágrimas
nos olhos. O jeito encontrado para ficar mais perto foi a internet.
Lisdeivi manda e-mails quase diários e tenta manter contato com
os amigos que deixou para trás.
Na ilha, além do namorado, o
judoca Frank Emílio, com quem
morava havia dois anos e meio,
deixou a mãe, o pai e o irmão, Lisber, dois anos mais jovem.
Há pouco mais de um mês ganhou mais um parente por quem
chorar, a sobrinha Lisdeivi Laura.
"Queria muito conhecê-la, pegar
no colo, mas não pude fazer isso."
Mas essa não é sua maior preocupação. "Todos as noites, quando coloco a cabeça no travesseiro,
fico tentando encontrar uma maneira de ter meu namorado por
perto, de rever minha família."
Lisdeivi não gosta muito de falar
sobre planos. Diz que pretende ficar em Ourinhos mesmo depois
de terminar seu contrato. Ou
mesmo após se aposentar. "Gostaria de ficar como treinadora",
diz. "Você poderia começar como
minha assistente", brinca o técnico Antonio Carlos Vendramini.
"Tive a sorte de cruzar com pessoas legais desde que cheguei.
Agora preciso começar do zero.
Mas sou otimista", afirma, sorrindo, antes de deixar o ginásio para
comprar um cesto de roupas para seu novo lar. (TATIANA CUNHA)
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