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FUTEBOL
Triste espetáculo
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Por que há no futebol brasileiro um número absurdo de
faltas, muito maior do que na Europa? Dois motivos são claros: os
árbitros marcam muitas faltas
sem necessidade e, principalmente, a excessiva agressividade dos
jogadores.
Os árbitros brasileiros paralisam demais as jogadas. O defensor toca na bola, o atacante cai, e
o árbitro apita falta. Dizem que o
defensor não pode usar de uma
força desproporcional. Isso é muito subjetivo. A regra nem sempre
é clara.
Os atletas brasileiros são metidos a esperto. Adoram enganar os
árbitros. Assim como há defensores que não sabem desarmar sem
fazer faltas, existem armadores e
atacantes que não sabem se desmarcar nem conseguem driblar e
vivem de cavar faltas e pênaltis.
Por outro lado, os árbitros já conhecem essas malandragens. Estão sempre desconfiados e, por isso, muitas vezes não marcam faltas e pênaltis claros e ainda punem com cartões amarelos.
Muitos atletas provocam faltas
porque as jogadas de bolas paradas são uma das eficientes maneiras de fazer gols. O time que tem
um Arce, um Marcelinho, um
Alex, um Rogério (do Corinthians), um Jorge Wagner e outros excelentes cruzadores e/ou
batedores de faltas, utilizam bastante essa estratégia.
Há ainda os jogadores que não
provocam, mas facilitam as faltas. Caio (do Grêmio), em vez de
sair fora do zagueiro, quer passar
pelo corpo do rival. Tromba e cai.
É o Caio cai-cai. Há muitos como
ele. O árbitro ainda apita falta. Só
se o defensor sair da frente.
O talentoso Diego está conduzindo demais a bola. É tocado e
não sai do chão. Se ele quiser ser
um craque, terá de saber o momento de tocar de primeira ou
mais rápido e o de conduzir a bola e driblar. O mesmo acontece
com Carlos Alberto do Fluminense. O drible é importante, necessário e bonito, mas não em todas as
jogadas. Gérson, um dos melhores
armadores de todos os tempos,
raramente driblava.
Não estou querendo justificar os
faltosos e as faltas. São em número absurdo. Quero apenas lembrar que muitas infrações são
provocadas ou facilitadas pelos
que sofrem a falta e pelos erros
dos árbitros.
A falta é normal, consequência
da disputa, mas não 50, 60 por
partida. Cometer faltas para impedir a continuação do lance não
pode ser uma estratégia, como defende o excelente técnico Mário
Sérgio. O jogo fica truncado e feio.
O público some dos estádios.
O principal motivo do grande
número de faltas do futebol nacional é a excessiva agressividade
dos atletas. Isso ocorre porque o
ambiente de um jogo de futebol,
em volta do estádio, na arquibancada, próximo do túnel e no campo, é de agressividade e de violência -ela está em todos os lugares.
O jogo, em vez de ser um espetáculo de alegria, de exibição de técnica, de arte, de competição saudável e de paz, tornou-se um confronto de gladiadores, de desrespeito, discussões, ódio e guerra.
Muitos torcedores, além de brigarem nas arquibancadas, exigem vitórias a qualquer preço.
Acham que a derrota é por falta
de garra dos atletas. Pensam que
xingando e agredindo vão intimidar e obrigar os atletas a lutarem
mais e jogarem melhor. Enganam-se. Os jogadores ficam intranquilos, com medo e atuam
pior. Os técnicos sofrem pressões
da torcida e sentem-se com a
obrigação de vencer, jogando
bem ou mal, para garantir os seus
empregos. Treinador que não grita, gesticula e não amedronta a
arbitragem não agrada. A tensão
é transmitida aos atletas por meio
de exagerada ênfase à pegada.
O jogador entra em campo pressionado por todos os lados, inclusive por parte da imprensa, que,
para agradar aos torcedores, fala
também que o time atuou mal
porque pipocou. Isso aumenta a
audiência. Por causa da interatividade, palavra da moda, os internautas estão se tornando formadores de opinião.
Neste ambiente de guerra, os jogadores confundem virilidade
com violência. Vão com tanta
vontade na bola, não como se fosse um prato de comida, como dizia o filosofo Neném Prancha, e
sim como se a bola fosse os membros, tronco e cabeça. Atropelam.
Não sei como não acontecem
mais graves contusões.
Os torcedores que querem apenas torcer, festejar, entender e
apreciar o esporte estão abandonando os estádios. Se continuar
assim, o futebol ficará restrito às
televisões e aos poucos baderneiros das arquibancadas. Será um
triste espetáculo.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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