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FUTEBOL
Clubes da Rússia recebem injeção financeira de poderosas empresas e escancaram as portas para os estrangeiros
Brasileiros lucram no capitalismo russo
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
A situação do futebol russo já
não está mais tão russa.
O mercado na maior dissidência da ex-União Soviética está
mais aberto do que nunca. Os clubes do país experimentam o apogeu do capitalismo selvagem e escancaram as portas para estrangeiros, especialmente brasileiros.
Em janeiro, mais de 80 jogadores foram contratados pelos times
russos, quase todos privatizados
após a queda do comunismo.
Mais da metade dos atletas contratados são estrangeiros. Cerca
de 30 saíram da América do Sul.
Roni, Souza, Alberto, Géder,
Bóvio, Da Silva, Robert, Marcelinho Souza, Calisto, Moisés...
A nova onda para os jogadores
brasileiros é jogar na Rússia. Mais
de 20 atuam na primeira divisão
do país, turbinada recentemente
-nasceu a Russian Premier League, nos moldes da liga inglesa.
Os clubes, bancados por poderosas empresas, pagam aos seus
principais atletas até mais de US$
1 milhão por uma temporada.
Jogadores de outros países também se rendem ao dinheiro russo.
O tcheco Jiri Jarosik foi comprado pelo CSKA por cerca de US$ 6
milhões na maior transação da
história do futebol do país. Neste
ano, dois italianos, Pasoni e Del
Canto, trocaram a Udinese pelo
Uralan Elista, clube que participou de torneio no Brasil em 2000.
O CSKA, o time do Exército
Vermelho, está nas mãos do magnata Yevgeny Giner. O Dinamo,
que era ligado ao Ministério do
Interior, agora é mantido pela Lukoil, uma potência petrolífera.
O Krylya Sovetov é controlado
pela Sibirsky Aluminium. E o tradicional Torpedo, ex-braço da
montadora estatal de veículos, virou Torpedo Luzhniki após ser
adquirido por essa empresa.
Um braço do Torpedo, criado
para jogar a quarta divisão na
Rússia, foi comprado pelo grupo
Norilsk Nickel, forte no setor de
metalurgia, e está na elite com o
nome de Torpedo-Metallurg.
""A Rússia era conhecida por
vender jogadores. Agora, isso
mudou", diz Yuri Belous, o presidente do Torpedo-Metallurg.
A situação começou a mudar
mesmo após 1998, ano em que a
Rússia sofreu com uma grave crise econômica. Hoje, a Russian
Premier League negocia direitos
de TV com a rede RTR por US$ 18
milhões -os principais times ficam com US$ 4 milhões.
""Foi a realização de um sonho
jogar na Europa. Aqui, eles pagam
bem e em dia. Os prêmios são
muito bons. Meu time contratou
argentino, peruano, africano. E o
material esportivo é todo da Nike
[empresa americana"", disse Géder, ex-zagueiro vascaíno que hoje veste a camisa do Saturn Ren
TV. ""O clube é da televisão."
O Lokomotiv, que conta com o
atacante Júlio César, é o atual
campeão nacional e teve uma boa
participação na Copa dos Campeões, arrancando até empate
com o Real Madrid na Espanha.
O Spartak, clube mais rico do
país (tendo como um de seus patrocinadores a Lukoil, dominou o
futebol russo no final do século
20), e o Chernomorets têm cinco
jogadores brasileiros cada um.
""O futebol russo é muito diferente do brasileiro. Aqui, o jogo
tem mais contato. Além disso, os
campos são bem ruins. A neve danifica o gramado. O curioso é que
o campo do Torpedo é de grama
sintética", disse Ricardo Bóvio,
volante do Chernomorets.
"A solidão é difícil de ser superada, mas, pelo menos, estou em
uma equipe com outros quatro
brasileiros", completou.
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