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AUTOMOBILISMO
Preparador físico, Balbir Singh atua como conselheiro e acompanha todos os passos do piloto desde 98
Guru indiano guia e conserva Schumacher
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MONTRÉAL
A cena se repete em quase todos
os GPs. Neste ano, já aconteceu
seis vezes em sete etapas. E embora largue em sexto no GP do Canadá, pode ocorrer de novo hoje.
Fim de prova. No pódio, no alto,
no centro, Michael Schumacher,
35. Inteiro, sem sinais de cansaço.
Como se tivesse acabado de jogar
uma partida de xadrez.
Ao seu lado, pilotos mais jovens. Mas exaustos. Entregues.
Por trás da cena, mais um trunfo do alemão, o piloto que mais títulos e recordes conquistou nos
55 anos de existência da F-1.
O trunfo tem nome, uma história pessoal curiosa e se tornou um
dos grandes amigos do ferrarista.
Ele é Balbir Singh, não revela a
idade e é indiano. Nasceu em Amritsar, a cidade sagrada dos sikhs,
e desde 1998 acompanha todos os
passos de Schumacher. E não há
exagero nisso: o alemão chega a
levá-lo para suas férias.
Oficialmente, Singh é massagista e preparador físico. Mas, na
prática, extrapola essas funções.
Atua como conselheiro, nutricionista e orientador espiritual.
"Balbir é fundamental no meu
trabalho. Ele deixa o meu corpo e
a minha cabeça em ordem. Assim, só preciso me preocupar
com o carro", afirma Schumacher. "Não consigo mais me imaginar sem ele por perto."
Singh emigrou para a Alemanha há dez anos e se estabeleceu
na região de Kerpen, onde os irmãos Schumacher foram criados.
No começo de 96, o então bicampeão, recém-saído da Benetton, comentou com parentes que
estava sentindo dores no corpo
após sucessivos testes para se
adaptar ao carro da Ferrari. Um
primo o apresentou ao indiano.
"Foi uma identificação imediata. Em massagem e fisioterapia, o
toque conta muito. Eles se entenderam desde o início", conta Sabine Kehm, autora da biografia autorizada do alemão, "Driving Force", ainda inédita no Brasil.
Por dois anos, Schumacher procurou o indiano esporadicamente. Decidiu incluí-lo em sua comitiva para as corridas após sofrer
um acidente em um teste em
Monza, em 98. Naquela noite, não
conseguiu dormir, com dores
musculares. Pela manhã, chamou
o indiano. À tarde, relata o alemão, já não sentia quase nada.
Desde então, tornaram-se amigos. "Michael odeia que Balbir o
chame de chefe, mas ele continua
chamando", disse Sabine à Folha.
"Eles estão sempre juntos. Quando não há GPs, Michael faz questão de levá-lo para casa, na Suíça,
ou para onde quer que ele vá."
Singh não dá entrevistas, não
tem outros clientes e faz segredo
sobre seus métodos de trabalho.
Abriu uma exceção para a "Autocar", uma revista indiana de automóveis. E disse que sua tarefa
mais difícil é afastar o piloto de toda a correria do dia-a-dia.
"Uma vez fomos à Patagônia fazer um trabalho de relaxamento.
Ele estava em pleno deserto, meditando, quando um ônibus de
turistas alemães passou por perto.
Eles fizeram o motorista parar e
foram pedir autógrafos e tirar fotos", declarou. "Michael não tem
vida privada, essa é a verdade. Ele
é reconhecido onde quer que vá."
Em Montréal, como em todos
os circuitos do calendário, o trabalho de Singh começou na quinta. O indiano montou num trailer
uma academia para o alemão.
Cuidou de sua alimentação e lhe
fez massagens após os treinos.
Hoje, espera repetir um ritual
que já se tornou rotina: é sempre
um dos primeiros a cumprimentar o alemão pelas vitórias.
Mesmo que Schumacher não
vença, Singh, o próprio piloto e a
F-1 terão uma certeza. Ele deixará
a pista de Montréal inteiro.
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