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AUTOMOBILISMO
Afastado da F-1 desde 98, Frank Dernie volta para fazer revolução e leva escuderia a lutar pela ponta
Engenheiro ressuscita equipe Williams
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MAGNY-COURS
Há menos de dois meses, a Wil-liams era a quarta colocada no
Mundial de Construtores de F-1,
situação embaraçosa para um time que já dominou a categoria.
Na Áustria, em maio, começou
a reação. E hoje, vindo de duas
provas irrepreensíveis, com duas
dobradinhas, prepara o bote.
No próximo fim de semana, em
sua casa, Silverstone, a Williams
pode conquistar a ponta entre os
construtores e aproximar Ralf
Schumacher e Juan Pablo Montoya da liderança entre os pilotos.
O motivo para uma ascensão
tão radical não foi nenhuma descoberta mirabolante. O time buscou a solução em seu passado.
Na semana que antecedeu a
prova austríaca, a Williams "ressuscitou" Frank Dernie, 53, um
dos cabeças do FW07, o carro que
em 1980 ganhou os dois primeiros
Mundiais da história da equipe.
Um inglês que passou os últimos anos no limbo, em fábricas
como Ligier e Arrows e que desde
1998 estava longe da F-1, na Lola.
Em Magny-Cours, na França,
onde no último final de semana a
Williams se firmou como a equipe mais forte da temporada, Dernie falou com a Folha.
Folha - O que você faz na equipe?
Frank Dernie - Não tenho função
específica. Faço o que o Patrick
[Head, engenheiro, co-proprietário da Williams e parceiro de Dernie nos anos 80] quer. Ele estava
insatisfeito com a performance e
me chamou porque eu poderia
ver coisas que os outros não viam.
Folha - Qual foi sua grande descoberta? O carro começou a vencer...
Dernie - Temos que manter segredo. Conseguimos evoluções na
aerodinâmica. Em geral, melhoramos a aderência, para usar melhor os pneus. Esse carro costumava destroçar os pneus. Fui incumbido de buscar uma solução.
Folha - É coincidência a Williams
ter decolado após a sua chegada?
Dernie - Alguns dos ajustes
aconteceriam normalmente.
Uma hora, alguém aqui apareceria com a solução. Mas outras coisas certamente não teriam sido
feitas. Se eu não tivesse chegado, a
Williams não estaria tão bem.
Há uma área que não estava
sendo coberta até eu chegar. Hoje,
nosso carro se adapta bem a todo
circuito. Não há mais problemas.
Folha - Você formou parceria forte nos anos 80 com Patrick Head.
Como é a relação entre vocês?
Dernie - Temos uma sintonia especial, embora seja diferente em
relação a anos atrás. Antes, éramos os dois únicos engenheiros
da Williams. Ele fazia toda a mecânica, eu fazia a aerodinâmica.
Hoje há um número enorme de
engenheiros trabalhando em todas as áreas. Assim é a F-1 atual.
Folha - Sobre suas grandes rivais... Primeiro, a McLaren, que
ainda não estreou o carro de 2003.
Dernie - Obviamente, do ponto
de vista da engenharia, eles cometeram erros graves. Provavelmente forçaram a mão. O carro claramente não é confiável, do contrário estaria correndo. É claro que
não estou triste por causa disso.
Folha - E a Ferrari?
Dernie - A Ferrari fez grandes
mudanças aerodinâmicas em relação a 2002 e certamente são para
melhor. O fato de eles não estarem sendo tão dominantes tem
mais a ver com a nossa evolução.
Tínhamos que subir um degrau. E
hoje estou certo de que subimos.
Folha - É possível inovar na F-1?
Dernie - Hoje, não mais. As regras são restritivas. A FIA [entidade máxima do automobilismo]
não quer mais carros inovadores.
Os tempos de Collin Chapman
[lendário projetista da Lotus] estão mortos. É uma pena, mas a
FIA quer assim. Se você quiser fazer algo inovador, precisa escrever para eles... Antes havia regras
muito simples. Se você tinha uma
boa idéia, ganhava as corridas.
Folha - A Williams já está no ponto para lutar pelo título?
Dernie - Sim. Nas últimas corridas, a Williams fez mais pontos
que McLaren e Ferrari juntas [65
a 61 em quatro GPs]. Em um ou
dois GPs, nós chegaremos lá.
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