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POR QUÊ?
Pontas baixos e rápidos colocam seleção na final
CIDA SANTOS
COLUNISTA DA FOLHA
O esporte tem as suas sutilezas. Vinte anos depois, o Brasil
volta a disputar uma final de
Mundial com um time com semelhanças com a geração de
prata. Tem ponteiros baixos,
habilidosos e com muita explosão. Nalbert e Giba lembram
Renan, Bernard e Montanaro.
Em 1982, o Brasil perdeu na
decisão para a URSS. Hoje, o time, comandado por Bernardinho, volta ao mesmo ginásio,
em Buenos Aires, com chances
de mudar a história. Depois da
derrota para os EUA, na segunda rodada, a turma se acertou e
tem mostrado o melhor vôlei
do torneio.
Uma grande equipe começa
com um grande levantador.
Maurício é o melhor do mundo. É ousado, tem muita velocidade nas mãos e varia muito o
jogo. Para felicidade geral da
nação, quando ele não esteve
bem, como aconteceu contra a
Iugoslávia, o reserva Ricardinho entrou no primeiro set e
não saiu mais da quadra.
Ricardinho é canhoto, 7 cm
mais alto que Maurício e tão
ousado quanto o titular. De levantadores estamos bem.
A seleção joga com três ponteiros baixos para os atuais padrões internacionais: Giba tem
1,92 m, Nalbert, 1,95 m, e André, 1,95 m. Mas eles compensam a estatura com muita velocidade e habilidade no ataque.
E é nesse ponto que estão o
nosso céu e o nosso inferno.
Quando o passe sai e a equipe
consegue jogar com velocidade, fica difícil segurar o ataque
brasileiro. Mas, quando a recepção falha, a seleção mostra a
sua maior deficiência: as bolas
altas e lentas na ponta. Viramos
presa fácil do bloqueio rival.
Foi o que aconteceu na final
da Liga Mundial, em agosto,
contra a Rússia: o Brasil teve
uma enorme dificuldade de colocar a bola no chão no ataque e
perdeu o jogo. Os russos conseguiram 15 pontos de bloqueio.
Com Nalbert e Giba, o Brasil
tem um ataque baixo, mas ganha em volume de jogo. Os
dois e o líbero Escadinha garantem a qualidade do passe,
algo vital para um time que depende da velocidade no ataque.
A equipe tem dois grandes
centrais: Gustavo e Henrique.
Gustavo não começou bem o
Mundial, mas, desde o jogo
contra a República Tcheca,
acertou o bloqueio . Os dois
também são muito eficientes
nas bolas rápidas. Contra a Itália, Henrique fez 15 pontos, foi
o maior pontuador do time, algo raro para um central.
O que também tem garantido
as vitórias é a eficiência no saque. O Brasil é o único que tem
quatro atletas entre os dez melhores sacadores do torneio. E
saque no vôlei moderno é fundamental. E a equipe não conta
só com os titulares. Tem reservas de qualidade, que, quando
entram, seguram a onda.
No banco, está a maior diferença em relação à seleção sexta colocada em Sydney. Bernardinho, que substituiu Radamés Lattari, formou um grupo
unido, tem grandes jogadores e
sabe tirar o melhor de cada um.
Contra a Iugoslávia, foi corajoso: tirou Maurício e André no
primeiro set. Pôs Ricardinho e
Anderson. Manteve os dois até
o fim e garantiu a vitória.
Mais do que a tática ou a técnica, a grande lição aprendida
por esse grupo talvez tenha sido em Sydney. O Brasil tinha o
melhor time e não venceu.
Agora tem novamente a melhor equipe e não quer nem
pensar em perder. Como diz o
capitão Nalbert: "Quero e vou
lutar pelo ouro". Boa sorte.
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