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FUTEBOL
Doping no esporte
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Numa entrevista , ao programa "Histórias do Esporte", da ESPN Brasil, o médico Júlio César Alves disse que a elite de
atletas, no mundo todo, usa drogas para melhorar o rendimento.
Ele afirmou também que atende e receita substâncias químicas
para mais de 50 atletas, inclusive
dois pentacampeões do mundo.
Há, segundo ele, várias formas de
burlar o exame antidoping, como
o uso de testosterona sublingual,
que não apareceria nos exames
após quatro ou cinco horas.
O mais grave e surpreendente
foi o médico defender o uso rotineiro de drogas pelos atletas brasileiros, como única maneira de
enfrentar os campeões estrangeiros. O médico quis ser famoso por
mais de 15 minutos. Está enganado e mal informado. É um homem desequilibrado e sem ética?
Ou é um médico revolucionário,
corajoso, sincero e que fala a verdade?
Os médicos do esporte, especialistas em doping, professores de
educação física, treinadores e
atletas protestaram duramente
contra as denúncias do médico.
O médico Júlio César disse ainda que a sociedade e o esporte são
hipócritas, porque não se manifestam contra outros tipos de drogas, como o álcool e o cigarro.
É verdade, mas ele também
confunde a ética interna, individual, com a ética externa, que é a
da sociedade. Elas estão interligadas, mas são diferentes.
Deixamos de fazer muitas coisas que desejamos, não pelo fato
de a sociedade proibir, mas porque elas não são corretas e/ou justas. Não somos animais sociais.
Temos também uma consciência
individual. Se outros atletas usam
drogas para vencer, não significa
que todos deveriam usar.
É óbvio que o doping existe no
esporte, talvez seja muito mais
frequente do que imaginamos.
Dizer que todos atletas de ponta
se dopam, porém, é um desrespeito ao talento e ao esforço de muitos campeões.
Todos os grandes atletas sonham em ser campeões. Nem todos resistem à tentação de usar
medicamentos para melhorar o
rendimento. Por desconhecerem
os detalhes técnicos das substâncias, são ajudados por profissionais, como o médico Júlio César.
Por mais informações que os
atletas tenham dos riscos para a
saúde e de serem flagrados no
exame antidoping, alguns arriscam. O desejo é maior que a realidade e a ética. Eles também acreditam, ou têm certeza, que nunca
serão descobertos. É o pensamento mágico, presente em proporções variáveis nas pessoas ditas
normais. Essa onipotência do
pensamento é um traço característico dos psicóticos e também
das crianças de pouca idade.
O pensamento mágico é uma
das grandes dificuldades das
campanhas preventivas contra as
drogas e para estimular o uso de
preservativos para evitar a Aids e
outras doenças. Apenas a informação não é suficiente.
Pelo mesmo raciocínio, numa
guerra, o soldado enfrenta o perigo de peito aberto. Dopado emocionalmente, ele nunca acha que
vai morrer. Sente-se imortal. Pensa que é um deus. Esse é o sonho
de todos nós.
Teoria e prática
No livro "Felipão, a alma do
penta", o técnico diz que conversou com alguns treinadores durante a Copa, principalmente
com Paulo César Carpegiani. Segundo o treinador do penta, essas
conversas foram importantes para que ele criasse variações táticas
durante o Mundial.
Onde anda o Carpegiani? Ele é
um dos técnicos mais criativos e
inquietos do futebol brasileiro.
Gosta de fazer variações. Ele não
foi bem nas últimas equipes que
dirigiu (Flamengo, Cruzeiro e São
Paulo), mas foi campeão do mundo com o Flamengo e conquistou
outros títulos.
Um treinador deveria ser analisado pela média de suas atuações
durante um longo tempo.
Além disso, há muitos outros fatores, principalmente a qualidade
dos jogadores, envolvidos no resultado final. O trabalho dos técnicos é supervalorizado, nas vitórias e nas derrotas.
Talvez o treinador mais criativo
e estrategista, como o Carpegiani,
precise de mais tempo para mostrar seu valor -ou tenha que trabalhar em clubes menos conturbados, de pouca pressão da torcida, como acontece com Mário
Sérgio no São Caetano.
Há ainda técnicos que se destacam mais pelas idéias e outros pela execução. Como existem muitas maneiras de alcançar as vitórias, considero que uma teoria
menos correta, mas bem executada, acabe sendo muito mais eficiente do que uma grande idéia
mal aplicada.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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