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TIRO
Atiradora usa triunfo para tentar achar o pai
Campeã, Guo Wenjun não vê seu genitor desde 1999
DO ENVIADO A PEQUIM
Guo Wenjun tem 24 anos,
mira certeira, uma medalha de
ouro no peito. Uma história que
comove os Jogos Olímpicos. E
que já se transformou em obsessão para os chineses.
Ao vencer os 10 m na pistola
de ar no domingo, bateu o recorde olímpico e revelou seu
drama: quer encontrar o pai,
desaparecido desde abril de
1999. A partir daí, Wenjun virou a nova queridinha do país.
Os pais dela se separaram
quando tinha 14 anos. Ela foi
morar com Guo Jing Sheng, o
pai. Por pouco tempo.
Meses depois, ele sumiu de
casa, deixando 2.500 yuan (cerca de R$ 700) e um bilhete ao
técnico da menina: "Vou para
muito longe. Quero que você
cuide dela como sua própria filha e que faça o melhor por ela".
Abalada, Wenjun passou por
tratamento psicológico. Certa
vez, ao ver um homem parecido
com o pai no bairro em que vivia, passou uma semana na porta de casa, esperando por ele.
Todo esse enredo surgiu na
esteira das declarações de seu
técnico após a conquista. Num
país que tenta agora pôr em
prática um planejamento de
anos para liderar o quadro de
medalhas, ele afirmou que a vitória não era fim, mas meio.
"Wenjun só competiu na esperança de que o pai a visse e
que, orgulhoso, fizesse contato", disse Huang Yanhua ao jornal "Chongqing Daily".
"Ela tentou desistir, mas eu
disse que isso seria uma vergonha para seu pai. Ela percebeu
que tinha nas mãos uma chance única e decidiu que tentaria
tudo pelo ouro", completou.
O caso foi um choque para a
sociedade chinesa, que segue os
preceitos confucionistas da veneração aos ancestrais e da piedade filial. Detonou uma onda
de apoio dos meios de comunicação e um mutirão na internet
que congrega internautas de
França, Japão, Paraguai, República Tcheca e Brasil.
As manifestações vão de tentativas de localizar Jing Sheng
até ataques pessoais.
"Eu vou começar a pesquisar
fotos dele e então vou mobilizar o máximo possível de pessoas para me ajudar", escreveu
um internauta no portal Sina,
um dos maiores da China.
"Quando eu era criança, morava na mesma Província dele.
Espero conseguir alguma informação", disse outro. "Ele é
um pai horroroso, um irresponsável. Por que ela deveria ir
procurá-lo?", perguntou um
participante de um fórum.
No portal Tian Ya, o maior da
China, há a manifestação de
uma brasileira identificada
apenas como "gabrieli": "Há
muitos chineses vivendo no
Brasil. Quero ajudar Wenjun".
Após participar de vários
programas de TV, a atiradora
voltou para sua cidade, Xi'an,
na Província de Shaanxi. Esperando, de certo, que o telefone
toque, que um certo alguém
apareça. Que o ouro olímpico,
da maneira como o concebe,
enfim venha.
(FÁBIO SEIXAS)
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