|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Técnico pedia ajuda aos veteranos nos tempos de Campo Grande, time pelo qual estreou, sem sucesso, em Nacionais
De Fusca, Luxemburgo penou no BR-83
TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
O ano é 1983, e o cenário é o estádio Ítalo Del Cima. No banco de
reservas, um treinador com cabelo black power faz a sua estréia como técnico à frente do modesto
Campo Grande, do Rio, num
Campeonato Brasileiro.
Vinte anos depois, o Mineirão
em festa comemora a conquista
do Nacional pelo Cruzeiro e no
gramado o mesmo treinador,
desta vez usando um alinhado
traje social e de cabelos curtos, é
reverenciado como o maior vencedor da competição ao se tornar
campeão pela quarta vez.
Muita coisa mudou nesse hiato
de 20 anos. Quando começou a
dar seus primeiros passos na profissão, Wanderley Luxemburgo
em nada lembrava a figura pomposa e vaidosa dos dias de hoje.
Figura simples, ele ia de Fusca
até o campo para comandar os
treinamentos do Campo Grande.
Apesar de ser um time considerado pequeno, a equipe carioca
vinha de uma conquista da Taça
de Prata -equivalente à atual Série B do Nacional- e logo de cara
Luxemburgo teve que aprender a
conviver com as cobranças.
Dono de uma personalidade
forte, o treinador encarou a primeira dificuldade ao definir o seu
grupo de trabalho. De acordo
com Brás, um dos remanescentes
do time que havia sido campeão
pelo Campo Grande em 82, Luxemburgo teve um começo difícil.
"Ele trouxe o pessoal dele. Colocou o Raimundinho, o Carlos Antônio e o Israel e tirou o Pingo, o
Tuchê e eu. Os resultados não vieram, e depois ele mudou. Eu não
voltei a ser titular, mas depois fui
utilizado com muito mais freqüência", afirma o ex-volante.
Apesar da pouca idade para técnico (Luxemburgo tinha 30 anos),
a personalidade forte sempre foi
sua marca. No entanto o treinador não hesitava em pedir a colaboração dos jogadores mais velhos na hora do jogo. "Ele sempre
cobrava muito mais dos jogadores mais novos. Dizia sempre que
a gente é que tinha que dar um algo mais", comentou Pingo, revelação do Campo Grande na temporada 82 e craque daquele time.
Mas se o então treinador tinha
na dedicação aos treinos o seu
ponto forte, o seu temperamento
explosivo complicava as coisas.
Além de Brás, Luxemburgo teve
problemas com o goleiro Zé Carlos (ex-Botafogo) e o lateral uruguaio Ramirez, que havia defendido anteriormente o Flamengo.
No Brasileiro de 83, chamado de
Taça de Ouro, Luxemburgo durou oito partidas. Depois de terminar a primeira fase em quarto
lugar, ele ainda teria de disputar
uma repescagem, mas uma desavença com o vice-presidente
Constantino Magalhães selou sua
saída do Campo Grande.
"O Wanderley Luxemburgo
nunca admitiu interferência na
escalação dos jogadores. Quando
tentaram dar os palpites, ele não
aguentou. Achou melhor sair e
deixar o lugar para outro", comentou o ex-volante Israel.
Ao falar com a reportagem da
Folha sobre o seu começo, Luxemburgo foi econômico nas palavras. "O Campo Grande foi o
primeiro clube em que eu trabalhei sozinho, como técnico. Trabalhar com jogadores mais velhos
do que eu foi normal", falou o
treinador. E encerrou o assunto.
Entre os ex-comandados de Luxemburgo no time carioca um
traço do técnico sempre foi evidente: a cobrança. "Ele cobrava
muito mesmo, e acho que por isso
se tornou um vencedor. Ele era
um cara humilde e tratava bem a
gente. Acho até natural que na
época de Campo Grande ele tenha
feitos alguns inimigos ocultos,
pois quem está fora quer entrar.
Mas esse era o jeito dele", afirmou
o ex-meia Lulinha, que trabalhou
recentemente como técnico dos
juniores do América-RJ.
Fora de campo, Luxemburgo
também chamava atenção. Para o
torcedor Humberto Costa, na
época gandula do clube, apesar de
se mostrar simples, Luxemburgo
sempre teve o nariz empinado.
"Ele não tinha dinheiro, mas já
tinha uma pose de Mauricinho.
Aquele cabelinho, sapatinho engraxado e andar meio sem jeito
era típico dele", afirmou Costa,
que hoje é empresário.
Texto Anterior: Adversário desfalcado anima o Paysandu Próximo Texto: Pingue-pongue: "Quero o Real, a Inter, a Juventus, o Manchester" Índice
|