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PINGUE-PONGUE
"Quero o Real, a Inter, a Juventus, o Manchester"
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
A seleção deixou de ser a obsessão da vida de Wanderley
Luxemburgo. Agora é com a
Europa que ele sonha.
O técnico, 51, que diz ter realizado trabalho com muito profissionalismo e humildade no
Cruzeiro, quer comandar times
da elite do futebol europeu.
Em entrevista à Folha, por telefone, fez propostas para o
Brasileiro de pontos corridos,
lembrou sua passagem pela seleção e comentou a volta por cima com o título do Cruzeiro.
Folha - Antes de o Brasileiro
começar, você chegou a tecer algumas críticas ao campeonato
de pontos corridos. Qual sua
avaliação agora que ele termina
com o Cruzeiro campeão?
Wanderley Luxemburgo - Foi
muito bom, e acho que a tendência é melhorar ainda mais.
Se eu lamentei alguma coisa,
foi em relação ao número de
participantes. Vinte e quatro
equipes é demais. O número
ideal é 18, sendo quatro rebaixados para a segunda [divisão].
Os outros times iam brigar por
vagas na Libertadores e na Sul-Americana, e os do pelotão da
frente, pelo título. O que iria
acontecer? Todos ficariam ainda mais motivados.
Folha - Você foi campeão fora
do eixo Rio-São Paulo, parou de
ser tanto o alvo dos holofotes,
mas agora, com o título, voltou à
cena. Qual a sensação?
Luxemburgo - Quando você
fala em eixo Rio-São Paulo, esquece que Cruzeiro, Atlético-MG, Inter, Grêmio e o próprio
Atlético-PR são times de ponta
que podem ganhar o Brasileiro
com um bom planejamento.
Essa coisa de o futebol brasileiro ser Rio e São Paulo é relativa.
Eu vim a Minas não para ter
sossego, mas para trabalhar
com profissionalismo, sabendo
da estrutura do Cruzeiro.
Folha - E como você viu a torcida gritando ""ei, ei, ei, Wanderley é nosso rei"? Porque você
passou por problemas, condenação [pela Justiça Federal do Rio a
cinco anos e três meses de prisão, em regime semi-aberto, por
sonegação fiscal], processo de
falsidade ideológica. O brasileiro tem memória curta? Há três
anos era todo mundo xingando.
Luxemburgo - Não me incomoda ser xingado e não me
deixa muito envaidecido ouvir
a torcida gritando meu nome.
Faz parte do futebol. Se perde,
você é uma bosta, se ganha, é o
melhor do mundo.
Folha - Você se arrepende de alguma coisa que fez na seleção?
Luxemburgo - Não. E faria tudo igual ao que fiz. Aqueles episódios aconteceram porque faziam parte da vida. Hoje adquiri mais experiência, agradeço a
Deus por ter deixado eu sair da
origem humilde que tinha, chegar aonde cheguei, ter acontecido tudo aquilo lá e eu ter continuado meu trabalho, humilde, conseguindo os resultados.
Eu sempre falei que não era nada daquilo que as pessoas falavam, não perdi meus direitos
como cidadão brasileiro. Discuti meus problemas como cidadão, não podia pagar mais
para a Receita só porque eu era
o técnico da seleção. Tinha que
pagar o justo, tanto que entrei
no Refis [2, programa que permite a empresas e pessoas físicas parcelarem dívidas com o
governo em até 180 meses].
Acho que todo mundo deveria
fazer uma reflexão, a imprensa
inclusive, para ver se estava
certo, se não estava certo, porque eu paguei por uma coisa
que não fiz. Só que entendo que
aquilo fazia parte da vida. Meu
trabalho na seleção foi muito
bom, segundo nas eliminatórias, campeão da Copa América, do Pré-Olímpico. Na Olimpíada só não fomos bem porque vieram todas aquelas coisas que não tinham nada a ver
com futebol. Fiz uma ampla renovação, e 19 jogadores meus
disputaram o Mundial.
Folha - E o que você quer do futuro? Pensa em 2006, depois da
Copa, em assumir a seleção?
Luxemburgo - Não trato mais
a seleção brasileira como objetivo de vida. Antes eu era obcecado com a seleção, hoje sou
parceiro do Parreira, como fui
do Felipão. Se acontecer, aconteceu, mas hoje meu objetivo
maior é abrir mercado para o
técnico brasileiro na Europa.
Temos competência para dirigir times europeus de ponta.
Folha - E por que não dirigem?
Luxemburgo - Porque, quando você vai para fora, não trabalha em time de primeira.
Aqui, eu dirijo Corinthians,
Palmeiras, Cruzeiro, lá não.
Oferecem times médios, e aí
não dá. Em vez de abrir mercado, você se afunda. Tenho conversado com brasileiros que
atuam na Europa, tenho amigos, tenho gostado do trabalho
do Felipão [na seleção de Portugal], mas só vamos emplacar
se pegarmos times de ponta.
Quero o Real ou o Barcelona,
da Espanha, o Milan, a Inter, a
Juventus, da Itália, se for para a
Inglaterra, o Manchester. Aí
seu trabalho aparece, e o Brasil
ganha o mercado que merece.
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