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OLIMPÍADA
Gastos administrativos das confederações sobem 70% em 2003, mas atletas ganham só 40% a mais em salários
Burocracia bate atleta na verba da Lei Piva
GUILHERME ROSEGUINI
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O ano era decisivo. Torneios
classificatórios para a Olimpíada
de Atenas, Jogos Pan-Americanos
e campeonatos mundiais. Para
dar suporte aos atletas, as confederações receberam o montante
recorde de R$ 29 milhões, oriundo das loterias federais.
Na temporada 2003, porém, as
entidades vinculadas ao Comitê
Olímpico Brasileiro despenderam
mais recursos da Lei Piva com
gastos administrativos do que
com salários dos competidores.
Levantamento feito pela Folha
mostra que a verba destinada à
manutenção das 27 confederações subiu 70% em relação ao
mesmo período em 2002.
São despesas com funcionários,
aquisição de equipamentos e materiais para escritório.
No ano passado, as confederações consumiram R$ 2,58 milhões
nessas atividades. Em 2002, quando receberam R$ 19 milhões da
lei, utilizaram R$ 1,51 milhão.
O total ultrapassou o valor que
chegou ao bolso dos esportistas.
O investimento direto em salário
ou ajuda de custo aos atletas também cresceu, mas de maneira
bem mais modesta. Foi do R$ 1,72
milhão aplicado em 2002 para R$
2,43 milhões no ano passado
-aumento de 40%.
O caminho do dinheiro está
descrito no relatório divulgado
pelo Comitê Olímpico Brasileiro
no início deste mês.
O investimento no atleta perdeu
para as despesas burocráticas pela
primeira vez. No ano retrasado,
salários de esportistas consumiram R$ 200 mil a mais do que a
verba burocrática.
Segundo Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, são as
confederações que escolhem o rumo dos repasses que recebem.
"Cada uma tem sua proposta
para o desenvolvimento da modalidade, que pode contemplar
ou não o auxílio-manutenção aos
atletas", disse o dirigente.
A Lei Piva determina o repasse
de verbas das loterias ao esporte,
mas não delineia como e em que
porcentagem ele deve ser usado.
O texto cita apenas que o montante deve ser utilizado em "projetos de fomento, desenvolvimento e manutenção do desporto, de
formação de recursos humanos,
de preparação técnica, manutenção de atletas, bem como participação em eventos desportivos".
Esse tom genérico é justamente
o que atrapalha o Tribunal de
Contas da União, encarregado de
fiscalizar a aplicação do dinheiro.
Segundo o departamento técnico do órgão, não existe jurisprudência para punir confederações
que cometam abusos ao concentrar a aplicação em uma só área.
Profissionais que trabalham
com auditorias independentes,
no entanto, afirmaram que o aumento das despesas administrativas é o ponto que mais precisa ser
investigado no relatório do COB.
"Houve um grande aumento no
dinheiro da burocracia. Só uma
auditoria financeira, contábil e
trabalhista pode provar se os gastos eram necessários", afirmou o
advogado Gustavo de Castro.
"É fundamental verificar detalhes como o custo do funcionalismo e o preço dos aluguéis das sedes. Só assim é possível saber como as confederações gastaram o
que tinham", disse o também advogado Fábio Diniz Appendino.
Enquanto o setor administrativo engole mais verba, há esportes
em que os atletas não recebem um
único centavo, caso do tênis. Em
outros, como pólo aquático, a seleção brasileira perdeu três jogadoras só nesta temporada -sem
receber salário, elas arrumaram
empregos e deixaram o esporte.
A situação destoa daquela desenhada numa tarde de julho de
2001. Na oportunidade, o então
presidente Fernando Henrique
Cardoso sancionou a Lei Piva,
que iria destinar 2% da arrecadação bruta das loterias federais ao
esporte olímpico e paraolímpico.
O COB receberia 85% do valor.
O comitê paraolímpico gerenciaria os outros 15%. Esfuziante,
Nuzman disse que se tratava da
"lei de alforria do esporte."
Para muitos competidores, contudo, a propalada "libertação"
que viria com o dinheiro público
ainda não aconteceu.
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