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FUTEBOL
Se os santos falassem
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Se o Corinthians ganhar o título, não significa que os elogios ao Santos foram excessivos e
precoces. O São Paulo foi o melhor time da primeira fase, e o
Santos, das quartas-de-final, da
semifinal e da primeira final. O
Corinthians poderá ser o melhor
na decisão. No momento, são as
três equipes mais fortes do Brasil.
Se o Corinthians não for campeão, não significa que o time não
é excelente. Tem ótimos atletas,
fez belíssimos jogos no torneio,
ganhou dois títulos no primeiro
semestre e merece ser finalista.
Se o Santos ganhar o título e os
meninos brilharem novamente,
não significa que o time é uma
maravilha, como na época de Pelé, e que os garotos Robinho e Diego são os melhores jogadores do
Brasil. São as revelações.
Se o Santos não for o campeão e
Diego e Robinho atuarem mal,
não será porque eles amarelaram
e ficaram mascarados. Nem deixarão de ser as principais promessas do futebol brasileiro. Kaká já é
uma realidade.
Se o Corinthians perder o título,
Parreira continuará sendo o melhor técnico do Brasil. Leão já é o
melhor do campeonato, mesmo se
o Santos não for campeão.
Se o Corinthians tivesse outra
opção na maneira de marcar e no
desenho tático, seria ainda melhor. Mas a principal deficiência
da equipe é a falta de bons reservas. Não há uma única boa opção
no banco que pode mudar o jogo.
Se o Corinthians perder, a sua
característica troca de passes não
se tornará uma deficiência. É a
sua principal virtude. O time não
faz mais jogadas em direção ao
gol por causa da troca de passes,
mas, sim, porque não tem jogadores para isso. Renato é muito discreto. Vampeta é um excelente
volante, mas não tem habilidade
quando se aproxima da área. Falta um Ricardinho ou um Diego.
Se o Corinthians tomar a iniciativa desde o início, pressionar,
trocar passes e buscar o gol sem
afobação, terá boas chances de ser
campeão. Como o Santos tem um
atacante fixo pelo meio, não é
preciso o Fabinho ficar atrás,
diante dos dois zagueiros. Ele deveria se adiantar e marcar mais
de perto, principalmente o Diego.
Se o Santos anular o Kléber e o
Gil, não deixar o Corinthians tocar a bola no campo de ataque e
se os garotos estiverem inspirados, como ocorreu nos jogos anteriores entre os dois, o time terá todas as chances de ser o campeão.
Se o Corinthians ganhar o título, atletas, técnico, dirigentes e
torcida vão dizer que a crônica esportiva quebrou a cara e que elogiou muito os garotos e o time
santista. O falador Antônio Roque Citadini, que parece ser um
dos poucos bons dirigentes do futebol nacional, vai ironizar os jornalistas. Até o Parreira, discretamente, vai tirar um sarro.
Existe na maioria das pessoas
que não torce para nenhum dos
dois times um encantamento com
os meninos da Vila e uma solidariedade ao Santos, que nunca foi
oficialmente campeão brasileiro.
Os corintianos deveriam compreender isso. São sentimentos
normais e esperados.
Apesar da vantagem de dois
gols, acho que as chances do Corinthians são quase tão boas
quanto às do Santos. O Corinthians tem tradição, experiência,
a força da torcida e um bom time.
Não será surpresa se for campeão.
Narcisismo
Mestre Armando Nogueira, que
me fez preciosas observações
quando comecei a escrever, lançou a pergunta: "Quem você escolheria para seu time, Robinho ou
Diego?". Os craques Rivellino e
Júnior preferem o Robinho. Armando, o Diego.
Nos anos 60, quando o jovem time do Cruzeiro começou a fazer
sucesso, havia a mesma discussão: "Quem é melhor, Tostão ou
Dirceu Lopes?". Um completava e
precisava do outro. Quanto mais
falavam, melhor nos entendíamos em campo.
Diego já está quase pronto. Parece um veterano. Armando Nogueira escreveu que a bola do
Diego é anterior a ele mesmo. Para ele ser um grande craque, porém, terá de aprimorar as virtudes, corrigir os defeitos e brilhar
por um tempo maior.
Robinho é um menino endiabrado e criativo. Mas está tecnicamente indefinido. Poderá se
tornar um verdadeiro craque, o
que é mais provável, ou ser apenas mais um atleta habilidoso.
Quando vejo o Diego jogar,
lembro-me do jovem Tostão, pelas características e posição. Diego é melhor do que o Tostão
quando este tinha 17 anos. Talvez, por me ver no Diego, pressinto que o seu futuro será mais brilhante do que o de Robinho. Como se vê, somos todos narcisistas.
Uns mais, outros menos.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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