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África do Sul supera Marrocos por quatro votos e vai ser, em 2010, o primeiro país com maioria de negros a abrigar a principal competição do futebol
Finalmente a Copa é negra
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Copa do Mundo, o maior
evento do futebol, enfim é negra.
A histórica vitória de ontem da
África do Sul na eleição para sede
do Mundial-2010 é o triunfo de
um grupo étnico que sempre foi
associado à magia do esporte,
mas que também sempre esteve à
margem da única competição que
rivaliza com a Olimpíada em termos de interesse no planeta.
Pela primeira vez na história a
Fifa, entidade que controla o futebol mundial, deixa a sua ""menina
dos olhos" nas mãos da África.
Mas só um dos países que permaneciam candidatos a sede de 2010
até ontem apresenta uma população majoritariamente negra.
A África do Sul, que ficou marcada durante mais de 40 anos pelo
apartheid, regime de segregação
racial, tem 76% de negros e 13%
de brancos, e agora, uma Copa do
Mundo para fazer. Egito, Marrocos e Líbia, os concorrentes batidos pela campanha encabeçada
pelo ícone negro Nelson Mandela,
são países basicamente árabes.
Desde o Uruguai, que recebeu a
Copa de 1930 e que se habituou a
chamar os brasileiros de ""macaquitos", até a Coréia do Sul e o Japão, que fizeram em 2002 a primeira Copa para a maioria amarela, o Mundial barrou o negro.
Foram realizadas até hoje 17 Copas, sendo que nove aconteceram
na Europa. A próxima, em 2006,
também será no velho continente.
A América, o outro continente
que recebeu várias Copas, não teve um país-sede com representação negra como a África do Sul.
Não foi à toa que o liberiano
George Weah, o camaronês Roger Milla e o ganense Abedi Pelé,
três dos negros africanos que
mais destaque conseguiram no
futebol mundial, eram alguns dos
maiores defensores da candidatura sul-africana a sede da Copa.
Nelson Mandela, ex-presidente
da África do Sul que ganhou um
Nobel da Paz, já havia apelado para a questão racial em 2000, quando o seu país tentou pela primeira
vez ganhar a organização de um
Mundial de futebol. Uma estranha abstenção do neozelandês
Charles Dempsey, porém, deu aos
alemães a sede do Mundial-2006.
O prometido Mundial africano
foi adiado. O negro camaronês Issa Hayatou tentou então alcançar
a presidência da Fifa, mas não
conseguiu desbancar o suíço Joseph Blatter, o homem que garantia já em 2006 a Copa na África.
Ontem, Blatter fez o anúncio
oficial da vitória sul-africana. Era
certo que o Mundial seria realizado no continente devido a um rodízio definido nos últimos anos,
mas o desejo de alguns europeus
de ver a Copa africana ser o mais
perto possível do velho continente era um último obstáculo a ser
transposto pela África do Sul.
O Comitê Executivo da Fifa,
com 24 membros, deu 14 votos
aos sul-africanos. Os marroquinos, únicos que pintavam como
real ameaça, tiveram dez votos.
Placar mais folgado que o da derrota do país de Mandela para a
Alemanha na eleição passada (12
a 11). Egito e Líbia zeraram.
""O ganhador é a África. O ganhador é o futebol", disse Blatter
após anunciar o resultado.
Milhares de pessoas, negros e
brancos de várias etnias, saíram
às ruas de Johannesburgo, Cidade
do Cabo e Pretória para celebrar a
conquista, sinal de que o maior
apelo sul-africano para organizar
o torneio, a integração racial no
país, é de fato uma realidade.
A África do Sul já recebeu formalmente diversas manifestações
de apoio e felicitações pela épica
vitória. ""Será um grande anfitrião", disse, por exemplo, Franz
Beckenbauer, maior lenda do futebol alemão e chefe da candidatura vencedora da Copa-2006.
Danny Jordaan, homem que liderou a campanha sul-africana,
falou emocionado em justiça. ""O
sonho virou realidade. Não teremos que esperar outros cem anos.
Quero que todos saibam o que
significa termos ganho a Copa. Há
muitas pessoas sem dinheiro, sem
trabalho e até sem comida, mas
com muitas esperanças e agradecidas por essa vitória."
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