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FUTEBOL
Máxima entidade do futebol nasceu em 1904 com pouco dinheiro, sem uma voz ativa e limitada pelos britânicos
Fifa relembra seu início pobre e escravo
DA REPORTAGEM LOCAL
Imagine a Fifa pobre, fraca politicamente, com pouco alcance, escrava. Essa era a Fifa no dia 21 de
maio de 1904, quando ela nasceu.
A entidade que hoje impressiona pelo seu poderio financeiro e
por sua magnitude foi oficialmente criada em Paris quando quem
reinava absolutamente no futebol
eram os britânicos, em especial os
ingleses. Esses não só viraram o
nariz para a Fifa no início como
também restringiram suas ações
nos seus primeiros anos de vida.
No século 20, o futebol se espalhava pela Europa e alcançava já
alguns rincões do planeta, mas a
atividade esportiva que se tornaria tão popular era regulamentada
e controlada pelos ingleses. Alguns países europeus ensaiavam a
criação de uma entidade internacional, mas se curvavam à tradicional e forte federação inglesa.
Robert Guérin, que seria o primeiro presidente da Fifa, e alguns
amantes do esporte de outros países esperavam por uma resposta
positiva dos britânicos. A resposta demorou, atrasando a esperada
fundação. Quando chegou, foi negativa -Lord Kinnaird, presidente da federação inglesa, vetou
seu país no novo organismo.
França, Bélgica, Dinamarca,
Holanda, Espanha, Suécia e Suíça
oficialmente criaram a Fifa. Só no
papel, pois a entidade não tinha
força. As leis do futebol, que até
hoje passam pelo crivo da International Board, eram naquela
época ainda mais inacessíveis para os dirigentes estrangeiros.
A decisão de criar de fato a Fifa
veio no primeiro dia de maio de
1904, quando França e Bélgica se
enfrentaram pela primeira vez.
Em um banquete no dia da partida, Guérin, que representava a federação francesa, acertou com
Louis Muhlinghaus, secretário da
federação belga, a fundação.
Cada entidade sócia teria que
pagar 50 francos por ano, uma
quantia mais simbólica do que
qualquer outra coisa. O plano era
organizar um Mundial de futebol
já em 1906, mas essa idéia só iria
vingar mesmo em 1930, quando
outro francês estaria no poder.
Quem representou a Espanha
na fundação da Fifa foi na verdade
um clube, o atual Real Madrid,
que obviamente não era nem
sombra do que é hoje no mundo.
Dois dias depois da fundação
aconteceu o primeiro congresso
da entidade. Ficou decidido que
era preciso atrair novos membros
para a Fifa, que não tinha boas
condições para colocar em prática
seus planos. O ponto principal,
porém, era trazer os ingleses para
o grupo, o que, segundo o próprio
Guérin, era essencial.
Os britânicos dominavam no
início do século o torneio olímpico de futebol, evento que contribuía para a Copa do Mundo ficar
na ""geladeira". O sucesso dos ingleses em disputas internacionais
confirmava para os poucos sócios
da Fifa que o nível do futebol que
esses praticavam era baixo.
Em 1904, a única aquisição significativa da Fifa foi a Alemanha,
que se irmanou à entidade por
meio de um telegrama.
As dificuldades continuavam.
Cogitou-se a realização de um
torneio de clubes na Suíça, mas
esse não vingou. A própria federação francesa, base da Fifa, sofria
um racha. Porém novos membros chegavam. Itália, Áustria,
Hungria, Irlanda e País de Gales.
Os ingleses aos poucos foram se
rendendo à Fifa, especialmente
depois de um clube inglês ser
proibido de jogar em alguns países europeus filiados à nova entidade esportiva européia -até
1909 as fronteiras do velho continente não seriam transpostas.
Um congresso realizado em
1906 em Berna selaria de vez a entrada britânica na Fifa. O preço: o
inglês Daniel Burley Woolfall assumiu a presidência da entidade.
A situação não mudou muito
nos anos seguintes, pois os britânicos continuavam não aceitando
socializar as regras e o controle do
esporte. A Primeira Guerra Mundial retardou os poucos projetos
que a entidade tinha em mente.
O nome Fifa nasceu em francês
(Fédération Internationale de
Football Association), mas foi sob
o domínio britânico que ela começou a se expandir, mais nos
países colonizados pelos ingleses.
A primeira casa da Fifa era meio
improvisada. Na rua Saint-Honoré, 229, em Paris, ficava a base de
Guérin e de um organismo que
tratava de ""esportes atléticos".
Uma portentosa sede própria era
um sonho ainda bem distante.
O pioneiro Guérin não demorou muito a se retirar da vida esportiva. E a concorrência com outros esportes era enorme para o
futebol nos primórdios da Fifa.
Passados cem anos, a entidade
que tem 204 membros e que ostenta uma rica sede na Suíça, voltou a olhar para a velha casa em
Paris. São 150 milhões de atletas
registrados e um torneio que é
vendido por mais de US$ 1 bilhão
e que é visto, acumuladamente,
por quase 50 bilhões de telespectadores no mundo. Um século se
passou assim.
(RODRIGO BUENO)
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