São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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JOSÉ GERALDO COUTO

Sortilégio africano


Quando ler esta coluna, o leitor talvez já saiba se esconjuramos ou não o fantasma de Camarões

AO LER ESTAS mal traçadas, o leitor provavelmente já terá visto Brasil x Camarões pelas Olimpíadas de Pequim, ou pelo menos saberá qual foi o resultado.
Escrevo horas antes da partida e não tenho condições sequer de arriscar um palpite: desconheço a seleção camaronesa; e a brasileira segue sendo uma incógnita.
Antes do jogo de hoje, a última partida eliminatória disputada numa Olimpíada pelo Brasil tinha sido justamente contra Camarões, nas fatídicas quartas-de-final dos Jogos de Sydney-2000.
Quem não se lembra? No jogo disputado em Brisbane o time de Vanderlei Luxemburgo, com os astros Alex e Ronaldinho, perdeu na prorrogação para um adversário que jogou boa parte do tempo com dois atletas a menos.
Foi uma das partidas mais estranhas que eu presenciei na vida. O time camaronês postou sua defesa em linha quase no meio de campo, e o ataque brasileiro deve ter batido o recorde mundial de impedimentos.
Foram várias dezenas.
Não adiantou Luxemburgo gesticular desesperado, pedindo para seus jogadores entrarem em diagonal ou carregarem a bola.
Fosse por insubordinação a um técnico então desmoralizado, por algum sortilégio camaronês ou por mera burrice, os brasileiros insistiam no erro de se lançar afoitamente em posição irregular.
O Brasil, naquela noite, foi um time triste, emaranhado em rusgas internas (Lúcio chegou a dar uma cabeçada em Roger), enquanto Camarões, liderado por um Mboma em estado de graça, parecia dançar em campo, com astúcia e humor.
Quem disse que estado de espírito não ganha jogo? No papel, o Brasil era mais time, e contava no banco com um treinador de primeira.
O elenco olímpico brasileiro de hoje é ainda melhor, com uma meia-dúzia de jogadores que poderiam e deveriam estar na seleção principal.
Morro de curiosidade de saber o que você já sabe: se esses talentos se frustraram e Ronaldinho está voltando para casa de novo de mãos abanando ou se a história foi reescrita desta vez com outro desfecho.
A seleção feminina fez o seu papel e chegou à semifinal, apesar do susto no final da partida de ontem, quando quase deixou a Noruega empatar.
O segundo gol brasileiro deve servir de inspiração não só às mulheres, como também aos marmanjos.
Ao se aproveitar da cochilada da zagueira norueguesa e ganhar na corrida bola que parecia perdida, Marta mostrou empenho e espírito de luta. Ao dar um toque único e preciso para encobrir a goleira, mostrou inteligência e categoria. Numa fração de segundo, a centelha do gênio organiza o caos e ilumina o mundo.

Destinos tricolores
O grande jogo da rodada, claro, é entre o líder Grêmio e o São Paulo. Mas a minha atenção estará voltada também para outro tricolor, o Fluminense, que pega o Atlético-MG na estréia do técnico Cuca. Torço para o sóbrio e íntegro Cuca -um treinador da estirpe de Muricy, que nunca queima seus jogadores- ajudar o Flu a tirar o pé da lama e recuperar uma situação condizente com a qualidade do seu elenco. Com o arrogante Renato, era difícil torcer.

jgcouto@uol.com.br



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