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O dia do purgatório
Atormentado pela longa má fase, Palmeiras encara a "hora fatal" na Bahia
Jorge Araújo/Folha Imagem
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Palmeirenses conversam no CT da Barra Funda |
EDUARDO ARRUDA
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Chega. Finalmente vai acabar.
É agora ou nunca."
Não dá mais para adiar, esperar,
torcer, consertar, rezar, suplicar à
Nossa Senhora Aparecida. Após
viver um drama rodada após rodada, o time do Palmeiras e seu
torcedor sabem hoje no final da
tarde, assim que acabar o jogo
contra o Vitória, em Salvador, se a
equipe vai amargar o inferno do
rebaixamento à segunda divisão.
A frase do atacante Nenê, acima, exprime o sentimento dos
palmeirenses, que têm jogado
(mal) como sempre e torcido (por
outros times) como nunca.
"Jamais sofri tanto, em time nenhum. Pensam que é brincadeira,
mas não sabem como fica a nossa
cabeça. Por tudo que já passamos,
merecemos sair dessa situação",
afirmou o atacante Muñoz.
Na cabeça dos palmeirenses, todos os pecados que a equipe cometeu no campeonato já foram
pagos. A segunda divisão seria
um castigo a mais, o pior.
Muitos deles, é verdade, não devem ficar no clube após o torneio,
como o zagueiro César e o lateral
Rubens Cardoso, mas jamais esquecerão o "ano do pesadelo".
"Pior do que este não terá igual.
É pressão demais. O frio na barriga nunca passa", declarou o zagueiro Alexandre.
Como penitência pelas falhas
-a falta de planejamento da diretoria, as saída de Wanderley Luxemburgo e Murtosa, o atrito entre os atletas, a rebeldia de Marcos, de Alexandre, de Lopes, de
Pedrinho-, os jogadores palmeirenses parecem ter rezado ajoelhados no milho. Evangélicos e
católicos se uniram em orações.
Até pai-de-santo e cartomante teriam sido chamados pela diretoria para dar uma forcinha.
No plano emocional, o técnico
Levir Culpi evocou uma série de
especialistas em auto-ajuda que
gastaram muitas horas em palestras tentando motivar os desgastados jogadores palmeirenses.
Em campo, o rebanho de Levir
Culpi também suou a camisa como nunca. Por mais de uma vez, o
time teve folga cassada por causa
de seus intermináveis jogos decisivos no Nacional.
"Acho que, pelo trabalho já feito, o Palmeiras já merecia ter escapado do rebaixamento. Mas, de
qualquer forma, vai ficar uma
grande lição para a próxima temporada", declarou Culpi, ressaltando que uma eventual queda
para a segunda divisão "não será
o fim do mundo".
"Quero voltar a sair na rua de
cabeça erguida", afirmou o goleiro Sérgio, que confessou não ter
dormido direito nos últimos dias.
"Mesmo tendo me firmado como
titular há pouco tempo [desde o
jogo contra o Guarani, há exato
um mês, quando Marcos se machucou", essa é a fase mais sofrida
da minha carreira. Se fosse para
passar por isso novamente, preferiria parar de jogar."
O Vitória recebe a equipe de Levir Culpi, às 16h, ainda sonhando
com a classificação, mesmo que
remota. O jogo está marcado para
o estádio Barradão.
O Palmeiras já foi à Bahia jogar
contra o Vitória em uma situação
bem melhor. Em 1993, o time
paulista desembarcou na capital
baiana para disputar o primeiro
jogo da decisão do Brasileiro-93.
Com uma vitória de 1 a 0 na
Fonte Nova, o Palmeiras da era
Parmalat dava início à conquista
de seu tricampeonato nacional. O
gol foi marcado pelo atacante
Edílson, que comemorou com a
dança da Timbalada, famoso grupo local de percussão.
O goleiro Sérgio e o meia Zinho,
que hoje lutam com o Palmeiras-2002 para não cair, disputaram
aquela partida.
"Aquele jogo já passou. Tudo é
diferente agora. A realidade é outra", afirmou Zinho.
"Vamos ver se relembramos, na
prática, aquele jogo. Para nós, é
uma final também. É a hora fatal", completou Levir Culpi.
NA TV - Vitória x Palmeiras, às
16h, ao vivo, na Globo
(apenas para São Paulo)
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