São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Apesar de ser no Pacaembu, decisão de hoje consagra novo deslocamento do eixo das finais para fora da capital

"Vingança do interior" motiva finalistas

Fernando Santos/Folha Imagem
O goleiro Márcio, que foi o destaque do Paulista no primeiro jogo com o São Caetano, treina em Jundiaí para a decisão do Estadual


DA REPORTAGEM LOCAL

Na década de 90, eles sumiram do mapa. Pelo menos do cenário das finais. No século 21, eles retornam à berlinda e têm como principal símbolo a decisão de hoje entre São Caetano e Paulista.
A tarde de hoje, que consagrará pela quarta vez na história um clube pequeno como campeão estadual, volta a deslocar o eixo das decisões paulistas para fora da capital. Para os atletas finalistas, uma questão de honra.
"É realmente uma honra participar de uma final como essa, que mostra o ressurgimento do futebol do interior", diz Marcinho, que nasceu em Campinas e considera o time do ABC parte do interior, apesar da pequena distância (12 km) da capital. "Não importa quem ganhar, vamos botar o interior de volta onde ele merece."
"Uma final assim representa bastante para todos os clubes pequenos", diz o técnico do time de Jundiaí, Zetti. "Afinal, eu também tenho sotaque caipira", diz o treinador do Paulista, que nasceu em Porto Feliz, a 112 km de São Paulo.
Nos anos 80, uma série de clubes do interior paulista surgiram para o Brasil. De 1981 a 1990, seis equipes interioranas chegaram a finais do Paulista: Ponte Preta (81), Inter de Limeira (86), Guarani (88), São José (89) e Novorizontino e Bragantino, os protagonistas da primeira final "caipira" do Estadual, ocorrida em 1990.
A classificação para a decisão acabou com a cerveja da pequena Novo Horizonte por quase uma semana, e o título catapultou o Bragantino, que chegou até a uma final de Brasileiro. Os finalistas revelaram três jogadores campeões do mundo na Copa de 1994: Mauro Silva, do lado do Bragantino, e Márcio Santos e Paulo Sérgio, do lado do Novorizontino.
Mas a década de 90 trouxe o fim do crescimento: a fama do Bragantino foi curta, e o clube logo voltou às divisões intermediárias. O Novorizontino, com problemas financeiros, está afastado de competições profissionais desde 1999.
Clubes tradicionais, como o Noroeste e a Ferroviária, amargaram dura crise. Outras equipes até tiveram relativo sucesso, como o Mogi Mirim em 1993, mas não chegaram a nenhuma final.
De 1991 a 2000, a retomada do poder por São Paulo, Palmeiras e Corinthians foi devastadora. Nesses dez anos, o interior não alcançou nenhuma final de Paulista. Na década, nem mesmo o Santos conseguiu tirar um título estadual sequer da capital.
"Foi a época negra dos times do interior", declara Marcinho.
No século 21, os times de fora da capital voltaram com mais força: em apenas quatro anos, a década já contabiliza, contando com a decisão de hoje, quatro finalistas.
Em 2001, o surpreendente Botafogo de Ribeirão Preto foi vice-campeão do Corinthians, depois de bater a Ponte Preta nas semifinais. No ano seguinte, o Ituano foi campeão de um Estadual só com os pequenos, mas foi finalista do Superpaulista, um torneio que contava com os três grandes.
Agora, apesar de virem de fora da capital, os dois times decidem o Estadual no Pacaembu, campo neutro no coração de São Paulo.
"Seria melhor se as finais fossem em Jundiaí e em São Caetano do Sul. Um presente às cidades", diz o presidente do São Caetano, Nairo Ferreira de Souza. "E lotaria os estádios." O primeiro jogo da decisão contou com pouco mais de 10 mil pagantes. (EDUARDO ARRUDA E MARCUS VINICIUS MARINHO)

NA TV - Record, Globo (somente para SP) e Sportv, ao vivo, às 16h


Texto Anterior: Silvio Luiz tenta enterrar sina de vices
Próximo Texto: Empresários bancam torcida do time do ABC
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.